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A bem da Nação

A MARAVILHA E A CIMEIRA UE / BRASIL

 

 

 

Importantississima! O nosso grande líder foi à Europa vender uns milhões de litros de bio combustível e, pomposamente, chamou-se a esse encontro mercantil, de Cimeira, com "C" maiúsculo e tudo. É piada, como aliás parece ser o tempo que estamos a viver.

 

Depois dos contumazes apertos de mão para as fotografias oficiais, acabou-se a Cimeira, os órgãos de comunicação europeus começaram a bater no Brasil que iria desmatar a Amazónia para plantar cana e limitou-se a isso o noticiário sobre o assunto por estas bandas alcoólicas.

 

Parece que ninguém na Europa tem noção do espaço no Brasil para plantar cana e tudo o mais que quiser. Vai interferir no meio ambiente? Vai. Muito menos do que consumir combustíveis fósseis, e do mesmo modo que a Europa devastou o seu meio ambiente com a agricultura e a indústria. É aquilo que se convencionou chamar de progresso, que, infelizmente é imparável.

 

Por aqui o povo ri! Como a hiena! Ri do descalabro em que anda (será que anda? melhor se diria da ausência) o governo, da bandalheira no congresso nacional, e nos outros, da guerra - sim, guerra - entre a polícia e as favelas, assiste aos julgamentos sumários feitos pelos traficantes àqueles que terão ajudado a polícia e que são imediatamente fuzilados e... «o Rio di Janêro continua lindo!» mais ainda com a promoção, também mercantil, do Cristo do Corcovado a uma das "Sete Maravilhas do Mundo".

 

Que a natureza do Rio é uma das maiores maravilhas do mundo, isso é inegável. Mas como obra do homem... a estátua do Cristo nada tem de especial. E desacreditam-se as outras maravilhas da arte humana, como o Alhambra, o Partenon, a Cidade Proibida em Pekin, Angkor e tantas outras cujos países não têm a mesma quantidade de internautas nem presidentes a fazer propaganda! Se os chineses e os indianos tivessem o mesmo percentual de internautas que tem o Brasil, as "maravilhas" ficariam todas por lá...

 

Mas assim o Brasil disfarça os seus verdadeiros problemas. Com o futebol - quando ganha - e agora com a maravilha, falsa, de uma obra que de arte, convenhamos tem muito pouco.

 

O Rio não ficou mais bonito, o mundo é que perde em seriedade.

 

Cimeiras de mentirinha, votações de mentirinha, governos de mentirinha. Mundo falso e hipócrita, a esconder ou disfarçar as verdadeiras mazelas.

 

Bem pregou Aristóteles no deserto que dura há mais de 2.400: «Ninguém pode pôr em dúvida que a atenção do legislador deve estar centrada, acima de tudo, na educação da juventude; negligenciar a educação é promover enormes danos ao país.»

 

 

Rio de Janeiro, 12 de Julho de 2007

Francisco Gomes de Amorim 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INVESTIMENTO PORTUGUÊS EM GOA

 

 

 

 

O primeiro-ministro goês, Digambar Kamat, garantiu hoje (6JUL07) à agência Lusa que vai facilitar os investimentos portugueses em Goa, apontando o turismo rural como uma área que aquele Estado tem interesse em desenvolver.

 

'Goa facilitará projectos de empresários portugueses, seja em parceria com os empresários locais ou seja através de investimentos directos, dentro do regime fiscal da Índia', garantiu o chefe do governo.

Digambar Kamat é o primeiro-ministro goês desde Junho passado, quando se realizaram eleições legislativas em Goa, tendo desempenhado até aí o cargo de ministro da Cultura.

Em entrevista à agência Lusa, Digambar Kamat recordou que, durante a visita a Goa do Presidente português, Cavaco Silva, no início do ano, houve conversações de empresários que integravam a comitiva presidencial com o ministro do Turismo goês, Wilfred de Sousa, sobre o desenvolvimento do turismo rural naquele Estado.

'Goa aproveitará a rica experiência e “savoir faire” que os portugueses têm nesse ramo especializado de indústria', afirmou.

Para o primeiro-ministro, o turismo de habitação e as pousadas são duas áreas que não têm merecido, até aqui, a atenção que requerem.

Além do turismo, o ministro-chefe do Estado goês mostrou-se interessado em receber investimentos em outras áreas.

'Facilitarei investimentos portugueses e de outras nações em indústrias, sejam elas de vinhos ou conservas de géneros alimentícios, desde que se enquadrem na nossa política de poluição zero', garantiu.

O intercâmbio cultural com Portugal foi também realçado por Digambar Kamat, que, como ministro da Cultura de Goa, se reuniu com a ministra da Cultura portuguesa, Isabel Pires de Lima, aquando da visita de Cavaco Silva à Índia.

Na altura, ambos se comprometeram a fortalecer as relações culturais luso-goesas e facilitar, tanto quanto possível, visitas mútuas de grupos culturais, nas áreas da literatura, música e teatro.

Até agora, a parceria não teve qualquer desenvolvimento, mas Kamat garantiu que vai avançar com o intercâmbio cultural.

'Cultura não tem fronteiras', defendeu.

Situação diferente verifica-se com o desporto, uma vez que no âmbito do intercâmbio entre os dois países, a selecção de futebol dos sub-19 esteve a treinar recentemente em Portugal.

Mais recentemente, o goês Alberto Colaço, secretário da Federação de Futebol da Índia (AIFF) anunciou esta semana que uma equipa estadual goesa vai estar em Portugal entre 13 e 31 de Julho.

Na entrevista à Lusa, o primeiro-ministro goês confessou que pouco sabe sobre Portugal, mas afirmou que tem o 'maior apreço' pelo país, que tem 'uma vasta e rica cultura'.

Disse ainda que sabe que muitos goeses vivem em Portugal e nas suas antigas colónias e que gostaria de reactivar os seus laços fraternos com Goa.

Quanto às reservas que alguns desses goeses possam ter quanto à forma como Goa foi integrada na Índia, Digambar Kamat afirmou: 'São modos de pensar que não questiono'.

Para o primeiro-ministro, que tinha 14 anos quando os portugueses deixaram Goa, 'o passado passou, o que conta é o futuro'.

Na sua governação do Estado, Digambar Kamat usa como lema 'soluções práticas e rápidas'.

'O povo não pede favores: quer, como é do seu direito, uma governação facilmente acessível, que dê soluções rápidas. Quando não, concluirá, como é lógico, que a administração é corrupta e letárgica', disse.

MYC.
Lusa, 6 de Julho de 2007

Vinho, garrafas, rolhas e saca-rolhas

                                     

O vinho, liquido precioso, das uvas retirado, há séculos e séculos por civilizações divinizado e apreciado, por andantes, mareantes e mercadores do mundo era consumido fresco porque  o contacto do liquido com o ar, o calor e o movimento logo o estragava. O condicionamento e armazenamento em garrafas tem história recente. Antes era guardado em tonéis e vasilhas de barro ou de metal,  sem vedação eficiente, o que favorecia a reacções químicas que logo o avinagravam.

 

Foi no século XVII com Dig by, vidraceiro que descobriu uma maneira de fazer garrafas mais fortes, colocando mais areia à fabricação do vidros e fazendo gargalos mais altos,  que se notou que o vinho assim acondicionado durava mais. Era a menor área de contacto do liquido com o ar que diminuía as reacções químicas que o preservavam. Ao princípio usava-se buchas de pano ou de couro para vedar a garrafa até  que na Península Ibérica surgiram as rolhas de cortiça, material limpo, macio,   adaptável ao gargalo, com propriedades isolantes que facilitavam a conservação do vinho. Embora as rolhas de vidro esmerilado (bouchée à l'émeri) já fossem  conhecidas e usadas, por quebrarem-se mais facilmente estas e as garrafas ao serem  destampadas, aos poucos foram pelas de cortiça trocadas.

 

 

Com as garrafas de vidro e as rolhas de cortiça passou-se a estocar o vinho. Observou-se que a rolha molhada quando se guardava a garrafa deitada mantinha o espírito (álcool) do vinho, tornando-o mais longevo. Mas para abrir a garrafa alguém um dia notou que um utensílio de aço em espiral, já usado para tirar balas e buchas de armas de fogo, se proporia bem a essa função. Assim nasceu o saca-garrafa, nomeado hoje em dia saca-rolhas.

 

Curiosidades e generalidades sobre a cortiça:

 

A cortiça provém do sobreiro, árvore que madura (25 anos)  de 9 em 9 anos dá uma casca grossa, que tirada com técnica (descortiçada),  sempre no verão, dá o material para a confecção das rolhas, e outros produtos,  sem matar a árvore.

 

As cascas do sobreiro ficam secando por 3 meses. Após isso são lavadas numa solução com fungicidas e guardadas num lugar fresco e escuro. Meses depois são cortadas e confeccionadas.  Da espessura de uma boa placa

(amadia - 3)  faz-se a inteiriça longa e boa rolha, reservada para os melhores vinhos. Das lascas e aparas restantes faz-se aglomerados para confecção de rolhas inferiores.

 

A árvore é resistente até ao fogo devido à sua casaca isolante.

 

Portugal é o maior produtor de cortiça do mundo (Alentejo) e produz as melhores rolhas para o comércio vinícola.

 

 

Maria Eduarda Fagundes

 

Ref. bibliográfica. A História do Vinho (Hug Johnson).   

J’EN AI ASSEZ

 

 

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Farto que estou de ver os resultados do liberalismo friedmaniano[1], apetece-me invocar Friedrich List e dizer que a livre troca universal, entre todos os países do mundo, apenas será possível num estádio último do desenvolvimento.

 

 Os países só podem progredir se seguirem políticas que lhes sejam úteis, nunca políticas que lhes possam ser prejudiciais. A adopção prematura do comércio livre planetário confirma as vantagens que desse modelo alcançam os países industrializados mas os países em desenvolvimento deviam poder proteger as suas actividades nascentes até conseguirem recuperar do atraso relativo. Numa perspectiva em que coubesse a auto-defesa, não fazem sentido instituições como a Organização Mundial do Comércio e muito menos Cimeiras como as de Doha em que se pretende assegurar que todos os países se devem desarmar e deixar o comércio totalmente livre. “Eu – que sou rico – entrarei na tua casa com os meus produtos; tu – que és pobre – entrarás na minha, se conseguires”. A integração entre os EUA, o Canadá e a UE fazem todo o sentido constituindo uma Convenção Transatlântica de Comércio Livre mas o livre comércio entre os EUA e o México significa a anulação deste. Nos corredores da diplomacia internacional o México fica muito agradecido aos EUA porque estes o transformam na linha de montagem dos produtos industriais que ainda requerem mão-de-obra intensiva, desde que esta seja barata. Quando deixar de o ser, a linha de montagem muda-se para outro local mais barato e assim sucessivamente até chegar ao mais fundo buraco do mundo. Entretanto, o mexicano ficou desempregado e muito provavelmente sem nada mais saber fazer do que juntar as peças daquele produto que já não existe. E se um mínimo de providência existir, o Estado mexicano que suporte esse desemprego, que se endivide para pagar esses novos custos, que negoceie nos mercados internacionais de capitais o financiamento da despesa que lhe poderá talvez evitar a eminente ruptura social.


Assim é que ao liberalismo friedmaniano apenas interessam a livre circulação de mercadorias e de capitais mas não a da mão-de-obra. Nisso recebeu um inesperado apoio das conservadoras forças sindicais do mundo desenvolvido que também não admitem o livre estabelecimento de pessoas, não vá a imigração “furar” o status quo, as convenções colectivas de trabalho. Eis como no mundo desenvolvido os sindicatos se transformaram nas forças mais conservadoras, adversas a qualquer espécie de solidariedade para com os efectivamente necessitados oriundos do terceiro mundo, defensoras acérrimas dos vários “Espaço Schengen” e “Fortaleza Europeia” que existam por esse mundo fora.

 

E como deveremos nós, os Estados lusófonos, enquadrar um processo destes? Ficando-nos pela discussão da sintaxe e do hífen? Como poderemos compatibilizar Schengen e a CPLP? Eis algumas das questões que merecem reflexão num quadro bem diverso daquele que nos vem sendo permitido.

 

E a primeira pergunta que coloco é muito simples: haverá alguma alternativa plausível ao cenário em curso?

 

De resposta muito dúbia, parece mais fácil procurarmos um modelo próprio de desenvolvimento compatível com o que nos é servido do que estarmos a tentar mudar por nós próprios o rumo da História do mundo. Não temos hoje a importância relativa que tivemos no séc. XV mas também nunca tanto como hoje a decisão colectiva passa pelo somatório das decisões individuais.

 

E se não podemos discutir a História e o rumo que ela se prepara para tomar, entremos nesse barco e viabilizemo-nos dentro dele.

 

E é nessa tentativa de viabilização que as perguntas continuam. Com que massa cinzenta poderemos contribuir para o desenvolvimento desta aldeia global? Que teses académicas com inquestionável repercussão científica internacional são na origem escritas em português? No ranking mundial de Universidades, em que lugares se colocam as instituições da Lusofonia? Que estrangulamentos existem no mundo lusófono para que ainda hoje, séc. XXI adentro, continuemos sujeitos ao flagelo do analfabetismo? Que forças gravitam na actualidade em torno das nossas elites: centrífugas como antigamente ou finalmente centrípetas?

 

Se não dermos respostas a estas questões, então não teremos lugar na História e não mais haverá centro, periferia nem palavra digna de nota.

 

Eis que, assim, o modelo do futuro

 

  • passa pela transformação das elites em elementos agregadores das nossas sociedades não mais podendo constituir instrumentos da repulsa;
  • passa pelas Diásporas a servirem o engrandecimento dos Centros;
  • passa pela pluricidadania;
  • passa pela vulgarização da palavra.

 

E se as elites têm que passar a congregar o resto das gentes, teremos que banir os resquícios de corporativismo que ainda nos entorpecem a actualidade, v.g. as Ordens profissionais e seu imperial magistério, temos que promover rapidamente a concorrência inter-universitária dentro de cada país, no espaço lusófono e no mundo inteiro, temos que garantir uma claríssima elevação do nível médio cultural dos nossos povos e promover o analfabetismo adulto a “coisa” do passado.

 

E se as Diásporas devem passar a servir os Centros, isso significa que a emigração não mais deve continuar a ser uma tábua de salvação a que os deserdados se agarram avidamente, para passar a ser um instrumento de obtenção da dimensão empresarial que o mercado doméstico é incapaz de garantir.

 

E se a solidariedade não é palavra vã, então Portugal tem a obrigação histórica de promover um estatuto de acolhimento especial a todos aqueles povos que alguma vez governou por esse mundo além, tudo culminando num processo de plurinacionalidade lusófona, em clara fraternidade internacional.

 

E se “é a falar que a gente se entende”, então temos que fazer com que o Instituto Camões deixe de divulgar a nossa palavra apenas nas Academias e Universidades para passar a fazê-lo com as portas abertas directamente para a rua, que é onde os povos se cruzam.

 

Por tudo isto eu digo que o modelo vigente se esgotou.

Por tudo isto eu digo que não me preocupo mais com o “politicamente correcto”. Por tudo isto eu digo “j’en ai assez”.

 

Lisboa, Julho de 2007

 

Porto Santo-MAI15-B.jpg

Henrique Salles da Fonseca

 

[1] - De Milton Friedman

 

Abarcando o Globo

Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII

 Stephen Brookes

 

 

Olhar para o mapa-múndi de Henricus Martellus, 1490, é contemplar um planeta estranho em formação. A Europa parece vagamente familiar, mas para lá do Mediterrâneo tudo se dissolve bruscamente em mito. África é uma mancha mais ou menos quadrada, ligada à Ásia por uma longa e estreita faixa de terra. Uma ilha enorme, designada Taprobana, domina o oceano Índico, e não há o menor sinal das Américas ou do oceano Pacífico; o mapa, simplesmente, termina na China. Metade do mundo é uma barafunda, e a outra metade nem sequer é ainda imaginada.

Mas dê-se um salto de meio século, até 1545 e ao mapa de Pero Fernandes – e o planeta aparece radicalmente transformado. Uma enorme vaga de descobertas trouxe, pela primeira vez, o mundo para o centro das atenções. A África tem já a forma que a distingue, a Índia não é mais uma excrescência insignificante, o Pacífico lá está em toda a sua vastidão, e a América faz a sua aparição. A imaginação deu lugar ao conhecimento. Um novo mundo, com todas as suas complexidades e possibilidades, acaba de irromper.

Os dois mapas – obras-prima, qualquer deles – fazem parte de uma exposição bem recheada que abre hoje (24/06/2007) na Galeria Slacker. Sob o lema “Abarcando o Globo: Portugal e o Mundo nos séc. XVI e XVII”, trata-se de um olhar abrangente e impressionista sobre o império comercial que os Portugueses construíram, e que se estendia do Brasil a África e ao Japão – um império que pôs ao alcance da Renascença um dilúvio de conhecimentos, que desencadeou o expansionismo europeu e que deu início (para o bem e para o mal) à integração do mundo moderno. É para nós difícil imaginar quão indutor de transformações este período foi”, diz Julian Raby, o director da Galeria Slacker e da Galeria Freer do Museu Smithsonian. “É o primeiro instante da globalização – o conhecimento sobre a variedade do mundo em termos de pessoas e culturas começava a despontar. De alguma maneira, o que pretendemos revelar é essa sensação de êxtase perante as complexidades e as texturas do mundo

 Sackler Gallery

Com cerca de 275 em exposição, isso não deve ser difícil. “Abarcando...” é a maior exposição isolada nos 20 anos de existência da Galeria Slacker – ocupa toda a área disponível e extravasa mesmo para o vizinho Museu da Arte Africana – sendo, sem dúvida, a mais variada. Há ovos de avestruz africana encastoados em ouro, crucifixos do Sri Lanka minuciosamente talhados, um canibal brasileiro pintado em tamanho natural, astrolábios chineses, bonecas indonésias, um escudo japonês em pele de raia e todo um fascinante conjunto de maravilhas.

Apesar do seu propósito globalizante e do seu ecletismo quase de fugir, a exposição é bem mais do que lembranças recolhidas num império em expansão. “Buscámos trabalhos com verdadeiro significado estético”, diz Jay Levenson, o comissário convidado desta exposição, que, para reunir este conjunto de peças, teve de esquadrinhar mais de cem colecções por esse mundo fora. “Trabalhos que contam histórias de viagens, mas que documentam também o intercâmbio de culturas.”

Apesar de ter mudado a face do mundo, o império português permanece, em larga medida, desconhecido na América, ocultado pelas viagens espanholas para o Novo Mundo. Todavia, as explorações que começaram em 1419, sob o impulso de Henrique, o Navegador, (em particular, a abertura, por Vasco da Gama, em 1498, de uma rota marítima que contornava a África) tiveram uma importância não menor, lançaram os alicerces de um comércio marítimo à escala global e estabeleceram um império que resistiu até aos tempos modernos; o último posto distante, Macau, foi entregue à China somente em 1999.

Foi um império único, concebido, não pela vontade de conquistar, mas de comerciar, e, em menor grau, de expandir a Cristandade. As primeiras viagens, costa de África abaixo, visavam quebrar o monopólio islâmico sobre o comércio com o Oriente, e também forjar uma aliança com o mítico Prestes João, um rei cristão que se supunha reinar algures em África. Com flotilhas de barcos pequenos e ligeiramente armados, os portugueses estabeleceram, não colónias, mas feitorias comerciais. E, à medida que se aventuravam cada vez mais fundo na Ásia, iam tomando consciência de que se relacionavam, não com o mundo primitivo que eles esperavam encontrar, mas com culturas complexas, profundamente enraizadas, e com economias florescentes.

Estamos a falar mais de relações entre iguais”, diz Levenson. “Tudo gira em torno do comércio e da troca de conhecimentos”.

No entanto, a construção de um império, seja ele qual for, raramente é um negócio bonito de se ver. E, na verdade, os portugueses não andavam pelo mundo a promover uma maior compreensão entre os povos – procuravam, sim, dominar as rotas comerciais, e eram impiedosos. O comércio de escravos florescia, os portos que não se submetessem eram bombardeados, e multiplicava-se a pirataria. Num episódio memorável, Gama, ele próprio, encerrou cerca de 400 muçulmanos numa embarcação e queimou-os vivos – incluindo mulheres e crianças.

Muitas destas obras de arte foram obtidas a um preço extremamente elevado”, diz Raby, “fosse ele a morte de populações indígenas, as doenças trazidas para a Europa, ou o resultado de recontros muito violentos”.

E, em certo sentido, é essa vertente que faz de “Abarcando...” uma exposição tão fascinante: põe em exibição objectos que reflectem mais uma ambiguidade perturbante do que um multiculturalismo feliz. Cada encontro era diferente, mas as peças de arte que daí resultaram raramente revelam uma miscigenação sem entraves de culturas; muitas delas, na realidade, mal escondem uma tensão latente.

Repare-se, por exemplo, num notável saleiro em marfim, proveniente da Nigéria do séc. XVI. Provavelmente feito como moeda de troca para os coleccionadores europeus, é uma peça de grande beleza, talhada refinadamente e que mostra um grupo de marinheiros portugueses (que poderiam estar a comerciar escravos) num barco. As faces dos marinheiros estão talhadas quase como se fossem máscaras africanas, e o capitão do navio tem, numa das mãos, uma lança africana. O efeito é encantador – até nos apercebermos do pequeno rosto, de olhos muito abertos, que desponta de dentro do barco e, num instante, esta obra-prima adquire um significado perturbador.

A complexidade do relacionamento dos portugueses com as culturas que iam encontrando é ainda mais notória na arte proveniente da Ásia, ou “Estado da Índia”, conforme ficou conhecida a teia de enclaves portugueses na região. Muitos desses locais distantes eram pequenas feitorias concebidas para administrar o lucrativo comércio das especiarias. Mas Lisboa também ocupava grandes manchas de território, incluindo Bombaim e Goa, e onde quer que os portugueses detivessem o controlo do território, dominavam também nos planos cultural e religioso – em parte, sob o impulso dos missionários Jesuítas que procuravam converter almas.

Goa no séc. XVI era um território com umas centenas de milhar de metros quadrados onde viviam, talvez, um milhão de pessoas”, diz Sanjai Subrahmanyam, professor na UCLA e autor do livro “O Império Português na Ásia, 1500-1700”. “E aqui estamos nós a falar sobre conversões forçadas, a destruição de templos hindus, a eliminação da população muçulmana.

Nem tudo eram conversões à força, mas, apesar de tudo, o grau de influência do Cristianismo nas peças indianas expostas não pode deixar de surpreender. Muitas são espectaculares; uma mesa de comunhão do séc. XVII, proveniente de Guzarate, mescla os estilos indiano e europeu com uma graciosidade natural, e uma peça de marfim finamente talhada representando Cristo, o Bom Pastor, inspira-se profundamente nas tradições da escultura indiana; num primeiro olhar, dir-se-ia uma peça da arte budista.

Todavia, bem mais reveladora é a placa em marfim que retrata o Menino Jesus a navegar numa das naus de comércio portuguesas. Intitulada “O Menino Jesus como marinheiro do navio da Salvação”, a óbvia integração vai muito para lá do título. O mestre artista do Sri Lanka que a talhou conseguiu eliminar do seu trabalho todos os traços da sua própria cultura, e dir-se-ia tratar-se de uma peça saída de uma oficina da Renascença Italiana. Como peça de arte, é adorável. Já como exemplo de abnegação da própria cultura, é um pouco chocante.

Outras tensões imperiais afloram ao longo da exposição, de muitas maneiras, o que não é menos revelador. Na China, o choque português foi tão débil que é quase imperceptível; Pequim adoptou os conhecimentos astronómicos vindos de Lisboa, muito superiores, mas manteve tudo o mais a uma distância bem estudada.

No Japão, porém, as coisas redundaram em desastre. Aí, os portugueses foram inicialmente bem sucedidos, conseguindo converter ao Cristianismo cerca de 150,000 pessoas. Mas o sucesso rapidamente se desfez; os regentes shoguns proibiram a religião, expulsaram missionários e forçaram os cristãos japoneses a pisarem placas de bronze com a face de Cristo (conhecidas por fumi-e) para provarem a sua indiferença.

Na verdade, foi somente no Brasil (descoberto virtualmente por acaso por Pedro Alvares Cabral em 1500) que os portugueses conseguiram construir uma enorme colónia, em oposição às pequenas feitorias. Subjugadas, sem dificuldade, as populações indígenas Tupi, Lisboa pôde, por fim, estabelecer grandes plantações de cana-de-açúcar, para onde levaram centenas de milhar de escravos oriundos de África e durante os séculos seguintes dominou o comércio de escravos transatlântico.

Muito embora essa face perturbante do império seja abordada apenas ao de leve, alguns quadros de Africanos e Tupis, do pintor holandês do séc. XVII Albert Eckhout, oferecem uma visão que prende. De uma escala heróica, esses quadros foram encomendados para servir de “literatura promocional” destinada a encorajar os investimentos nas plantações, diz Raby, da Galeria Slackter – concebidos para mostrar aos europeus como os povos aborígenes beneficiavam dos aspectos civilizacionais da colonização.

E é difícil não ouvir os ténues ecos de todas estas aspirações multiculturais na exposição “Abarcando o Globo”. Desde o momento em que todas estas descobertas foram celebradas, no séc. XVI, por Luiz Vaz de Camões no seu poema épico “Os Lusíadas”, o Império não tem deixado de estar no âmago da identidade nacional de Portugal, com os aspectos mais agrestes, suavizados, e os mitos, manipulados de maneira favorável. Financiada generosamente pelo Ministério da Cultura de Portugal e por algumas dúzias de bancos e empresas portuguesas, esta exposição pode ser interpretada como um hino de louvor ao imperialismo português, colocado ao abrigo de perguntas incómodas pela sua própria esmagadora vastidão. Mas, afinal, o que estas peças revelam é uma história mais profunda e infinitamente mais satisfatória – o nascimento tenso, difícil e por vezes brutal do mundo moderno.__

 

The Washington Post

Stephen Brookes

Domingo, 24/06/2007

 

Tradução: Dr. António Palhinha Machado

A REVOLUÇÃO COMERCIAL - PARTE 7

 
               Os Resultados da Revolução Comercial
 
 
 
         A Revolução Comercial foi um dos momentos mais significativos da história ocidental. Sem ela seria impossível todo o quadro da moderna vida económica, pois deslocou a base do comércio do plano local e regional da Idade Média para a escala mundial que desde então o tem caracterizado. A Revolução Comercial exaltou o poder do dinheiro, inaugurou os negócios com fins lucrativos, sancionou a acumulação de riqueza e estabeleceu a concorrência como base da produção e do comércio. Foi responsável por grande número de elementos que vieram constituir o regime capitalista.
 
       A Revolução Comercial proporcionou amplas flutuações da actividade económica. O que chamamos hoje de surtos de prosperidade e de depressões passou a alternar-se com espantosa rapidez. O fluxo de metais preciosos, combinado com um aumento da população, levou à alta dos preços e a uma demanda (procura) de artigos sem precedentes. Os negociantes eram tentados a expandir suas atividades depressa demais; os banqueiros concediam créditos tão prodigamente que os principais tomadores, sobretudo nobres, com frequência não honravam suas dívidas. A Espanha e a Itália foram os primeiros países a sofrer reveses. Num e noutro, o facto de os salários não acompanharem a carestia trouxe infortúnios indizíveis às classes inferiores. O empobrecimento tomava conta das cidades, enquanto o banditismo florescia nas áreas rurais. Na Espanha, alguns aristocratas arruinados uniam-se a bandos de vagabundos que erravam de cidade a cidade. Ao fim do século XV, o banco florentino dos Médicis fechou. Em meados do século seguinte assistiu-se a inúmeras falências na Espanha e ao declínio dos Fuggers na Alemanha. A Inglaterra e a Holanda e, até certo ponto, a França, prosperaram. Esta prosperidade caracterizou a "idade da prata", que durou mais ou menos de 1540 a 1620. No século XVII mais uma vez ocorreu um declínio, depois de a inflação perder sua força e em consequência de guerras religiosas e internacionais e de conflitos civis.
 
     A essa alternância de prosperidade e recessão, seguiram-se surtos de especulação, que chegaram ao apogeu no começo do século XVII. Os mais conhecidos foram o escândalo dos Mares do Sul e o escândalo do Mississipi. O primeiro resultou da inflação do capital da Companhia dos Mares do Sul, da Inglaterra. Os incorporadores dessa Companhia concordaram em assumir a responsabilidade por uma grande parte da dívida nacional e em troca receberam do governo inglês o direito de exclusividade no comércio com a América do Sul e as ilhas do Pacífico. As perspectivas de lucro pareciam quase ilimitadas. As acções da Companhia subiram rapidamente de valor até serem vendidas por mais de dez vezes seu valor normal. Quanto mais subia, mais crédulas se mostravam as pessoas. Gradualmente cresceu a suspeita de que as possibilidades da empresa tinham sido superestimadas. Os compradores fizeram tentativas para desfazerem de suas ações por qualquer preço. A falência, ocorrida em 1720, foi o resultado inevitável.
 
     Ao mesmo tempo em que se alimentava o sonho dos Mares do Sul na Inglaterra, os franceses atravessavam um período semelhante de onda especulativa. Em 1715, um escocês chamado John Law, estabeleceu-se em Paris, depois de ter vivido de jogo em outras cidades.
  John Law (1671-1729)
Persuadiu o regente da França a adoptar um plano seu para pagar a dívida nacional mediante a emissão de papel-moeda e lhe conceder o privilégio de organizar a Companhia do Mississipi para a colonização e exploração da Louisiana. À medida que os empréstimos governamentais eram resgatados, aqueles que recebiam o dinheiro eram levados a comprar acções da Companhia. As acções começaram a subir vertiginosamente, alcançando uma cotação de quarenta vezes seu valor original. Quando se começou a perceber que, a preços tão elevados, a Companhia nunca poderia pagar mais que um dividendo nominal por acção, os investidores mais prudentes começaram a vender suas acções. Em breve estavam todos tão ansiosos por vender como antes tinham estado para comprar. Em 1720, o escândalo estourou. Pessoas que tinham vendido propriedades para comprar acções a preços fantásticos ficaram completamente arruinadas. Durante algum tempo o colapso das Companhias dos Mares do Sul e do Mississipi arrefeceu um pouco a paixão do público pela especulação. Não tardou muito para que se reavivasse o desejo pelo lucro especulativo. Os surtos de compras de acções que acompanharam a Revolução Comercial repetiram-se muitas vezes durante os séculos XIX e XX.
 
 
Continua.
Campo Belo, 9 de julho de 2007
Therezinha B. de Figueiredo

OS EXTREMOS QUE NÃO SE TOCAM

 Liev Nikoláievich TolstóiЛев Николаевич Толстой

Liev Nicolaievitch Tolstoi

(1828 - 1919)

 

 

Aproximar as pessoas, fazer com que se compreendam e se respeitem, que se entendam e vejam como irmãos, iguais, deveria ser o objetivo do homem desde que começou a falar, a pensar, a distinguir-se dos que continuaram a ser os irracionais.

 

Mas o que continuamos a constatar é que, apesar de desde tempos imemoriais sempre terem existido ricos e pobres e classe média, cada vez os ricos são mais ricos, os pobres mais pobres e a classe média sobrenada afogada em dívidas para imitar os ricos.

 

As artes crescem de valor no inverso da sua inutilidade! O que um futebolista chega a receber por ano é mais do que o conjunto de duas centenas de milhares de trabalhadores (200.000 a USD 50 por mês, quando ...) que se esgotam para tirar do chão alguma coisa com que enganem o estômago, uma pintura ou uma música por vezes outro tanto, uma entrada para um espetáculo de rock ou funck pode custar mais do que ganha uma família inteira durante um mês em muitos cantos de África e da América Latina, e assim se continua a tirar de onde há pouco, ou pouquíssimo, para onde há muito mais do que suficiente e... inútil.

 

Um miserável frasquinho com meia dúzia de gotas de perfume vale, não, não vale, mas custa mais do que uma centena de frangos ou uma carga de legumes. Talvez um milhar de molhos de couve ou agrião ou uma tonelada de batatas!

 

Correm as indústrias atrás de novidades e modernização, já sem falar nas de armamento e drogas, com sofisticação cada vez maior, para despertar no idiota civilizado a volúpia da compra, para ter, para mostrar ao rico que «também tem», e continuam aqueles que produzem o indispensável, a comida, a sofrer pela sobrevivência. O supérfluo valoriza-se num crescendo geométrico e usa a mulher, o sexo, como chamariz para a venda de automóveis, relógios, armas e outros bens que bem podiam ser desnecessários.

 

O sexo é hoje uma das maiores fontes de atracção de dinheiro dos incautos. Assim a tara sexual se desenvolve, as mulheres que tanto lutaram pela emancipação viraram objectos comerciais de desejo e prazer e depois clamam pela legalização do aborto!

 

O homem é o único animal em toda a natureza que passou a ter relações sexuais não para perpetuar a espécie, mas pelo simples prazer de o comentar. O homem e a mulher. Os restantes seres defendem as suas crias com a própria vida, e o homem mata-as antes mesmo delas abrirem os olhos para o mundo.

 

Da máxima de Amor, faz aos outros o que queres que te façam, evoluíram, os mais «sabidos», para faz para ti o melhor, com o mínimo de dano aos outros, para chegar ao descalabro do faz qualquer coisa em teu proveito e o  outro... que outro???... que se dane!

 

Perdeu-se a vergonha. Reina a sem vergonhice. Bradam alguns no deserto dos ouvidos entupidos de promessas e de dinheiro, e os extremos vão-se afastando, como dizem que o Universo se continua a expandir. Até onde? Ou, até quando, se a previsão é de um dia o Universo começar mais uma vez a se concentrar, até se transformar num buraco negro e voltar ao Big Bang?

Parece que não se lê e medita mais Buda, os Vedas, o próprio Cristo que nos tentou salvar, nem sequer Tolstoi, que numa carta a um amigo afirmava «... de todas as ciências que o homem pode ou deve saber, a principal é a ciência de viver fazendo o mínimo possível de mal e o máximo possível de bem.»

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 26 de Junho de 2007

Francisco Gomes de Amorim

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CRÓNICAS DO BRASIL

Só a educação nos salva

 

 

Mais uma vez os resultados do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica no Brasil vêm demonstrar o porquê da dificuldade do país atingir níveis sociais parecidos com os do “primeiro” mundo, apesar das riquezas naturais, de certos sectores que alavancam a economia e das inteligências que não ficam atrás das melhores cabeças do mundo. A nossa juventude não estuda o suficiente. Os estabelecimentos de ensino básico não conseguem fazer com que as metas educacionais sejam cumpridas. Crianças nas ruas, à disposição dos traficantes de drogas, a falta de instituições de ensino de qualidade, em tempo integral, e de políticas que obriguem pais e responsáveis a colocá-las na escola, programas ineficientes e mal aplicados sem a devida avaliação, com certeza, devem ser os responsáveis por tão mau desempenho escolar. Como se pode esperar equidade e justiça social num país que não prioriza a educação básica da população? Como esperar que o país faça parte do primeiro mundo com políticas populistas e ineficientes, onde os alunos da rede pública aparecem com notas abaixo de 3,5 (média nacional), tão diferentes da média dos paises desenvolvidos que é 6,0? Enquanto as autoridades não olharem com interesse o problema da educação no Brasil, qualquer investimento social não vai apresentar resultados duradouros.  Não adianta dar o peixe à população, é preciso ensinar a pescar, os antigos já diziam e sabiam.

 

Lembro-me ainda na minha terra natal, Ilha do Faial, mesmo sendo um lugar de gente humilde e remediada, mas nunca miserável, a Escola Santo António, que fora em tempos antigos uma espécie de orfanato para a infância desvalida, dava aulas pela manhã para as meninas e as tardes eram ocupadas com atividades educativas e recreativas como leituras, bordados, teatro e até música.

 

Em Uberaba, recentemente, duas escolas estaduais inauguraram o sistema de tempo integral, com oficinas de teatro, informática, prática desportiva e laboratório de pesquisas cientificas, além de um sector de atendimento especial às crianças com algum tipo de dificuldades nas matérias de estudo. É esse o caminho que deveria ser seguido por todas as escolas públicas.

 

Mas não basta a escola, antes e primeiro vem a casa, a família. É lá que começam os primeiros aprendizados, as primeiras informações para a vida e para o convívio com a sociedade. A escola deveria ser o complemento, a que dá as ferramentas, o estofo e o embasamento para o exercício da cidadania, com seus direitos e deveres. Porém, infelizmente, o que temos no nosso país são muitos maus modelos, principalmente aqueles que deveriam primar em dar bons exemplos, pela responsabilidade que têm com a sociedade. Desde a cúpula dirigente, passando pela mídia até à família, muitas vezes desestruturada e carente, o que se vê, e com frequência, são exemplos do que não se deve ser e/ou fazer.

 

 Não adianta a tecnologia avançada, computadores de ultima geração em casa ou nas salas de aula, se a criança não tiver a cabeça feita, uma boa formação, que lhe oriente como aproveitar de maneira inteligente todo esse conhecimento. O ser humano aprende com o exercício e a repetição.  Computadores não dão exemplos de boa ou má conduta, são apenas ferramentas de trabalho ou diversão, são instrumentos de informação.  

 

Não é de se estranhar se esta geração está tão agressiva, desinteressada e sem valores morais. Basta ver a corrupção que grassa na nossa política e os comportamentos amorais do vale tudo que são mostrados na mídia televisiva, refletidos na família, unidade básica da sociedade, para entender as crises moral e educacional por que passa a sociedade brasileira.

 

Maria Eduarda Fagundes

Brasão de Uberaba

Uberaba, 27/06/07

A REVOLUÇÃO COMERCIAL - PARTE 6

                                     E A NOVA SOCIEDADE
 
Final da parte cinco: As colónias não tinham permissão para se dedicarem à indústria ou à navegação. Sua função era produzir matéria-prima e consumir o máximo os produtos manufacturados. Com isto robusteciam as indústrias da metrópole dando-lhes vantagem na luta pelo comércio mundial.
 
- + - + - + -
As tentativas de pôr em prática as doutrinas mercantilistas assinalaram a história da maioria das nações da Europa Ocidental nos séculos XVI e XVII. As teorias não eram aplicadas universalmente. A Espanha teve vantagem no início, devido à entrada no país de metais preciosos provenientes de seu império americano. Embora a Espanha não precisasse recorrer a meios artificiais a fim de trazer dinheiro para dentro do país, mesmo assim seu governo mantinha rígido controle sobre o comércio e a indústria. A política de outras nações orientava-se para compensar a falta de colónias produtoras de ouro e prata, mediante a conquista de uma maior parcela do comércio de exportação. Isto implicava um programa de prémios, tarifas (aduaneiras) e extensa regulamentação da indústria e da navegação. Políticas mercantilistas foram adoptadas na Inglaterra durante o reinado de Elizabeth I e continuadas pelos monarcas da dinastia Stuart e Oliver Cromwell.
 Oliver Cromwell (1599 - 1658)
A maioria desses governantes empenhava-se numa furiosa disputa pela aquisição de colónias, concedia privilégios de monopólio a companhias comerciais e procurava, por múltiplos meios, controlar as atividades económicas dos cidadãos. Os exemplos de legislação mercantilista na Inglaterra foram primeiro as Leis Elizabetanas destinadas a eliminar a ociosidade e estimular a produção, e, depois, as Leis de Navegação. Por uma série de leis decretadas em fins do século XVI, a rainha Elizabeth I deu aos juízes de paz autoridade para fixar preços, regulamentar as horas de trabalho e obrigar todo cidadão fisicamente apto a trabalhar em alguma actividade útil. A primeira das Leis de Navegação foi promulgada em 1651, no governo de Cromwell. Visando anular o predomínio Holandês no sector de transportes, determinava que todos os produtos coloniais exportados para a metrópole fossem embarcados em navios ingleses. Uma segunda Lei de Navegação, aprovada em 1660, não só confirmava a primeira como proibia o envio directo de certos "artigos enumerados", sobretudo fumo e açúcar, para portos do continente europeu. Tais produtos deviam ser enviados primeiro para Inglaterra, de onde, após o pagamento dos direitos alfandegários, poderiam ser reembarcados para outros portos. Ambas essas leis se baseavam no princípio de que as colónias deviam servir para enriquecer a metrópole.
   
Durante a Revolução Comercial os estados alemães estavam demasiado ocupados com problemas internos para tomarem parte activa na luta por colónias e pelo comércio ultramarino. Em conseqüência, o mercantilismo alemão visou aumentar internamente a força do Estado. Apresentava o carácter duplo de nacionalismo económico e programa para uma sociedade planificada. O planeamento era feito com o objectivo de beneficiar o governo e apenas incidentalmente o povo em geral. Devido ao seu objectivo preponderante de aumentar os rendimentos do Estado, os mercantilistas alemães eram conhecidos como "cameralistas"(de Kammer, nome dado ao tesouro real). A maioria deles era formado por professores de finanças e advogados. As ideias cameralistas foram postas em práctica pelos reis Hohenzollern da Prússia, principalmente Frederico Guilherme I (1713-1740), e Frederico o Grande (1740-1786).
Frederico Guilherme I, o Rei Sargento. Frederico Guilherme I da Prússia, o rei sargento
A política desses monarcas assumia a forma de um plano multifacetário de intervenção e controle na esfera económica, visando aumentar a riqueza tributável e promover o poder do Estado. Fundaram novas indústrias com auxílio do governo e os camponeses receberam instruções sobre as culturas que deviam plantar. Para que a nação se tornasse auto-suficiente no mais breve tempo, foram proibidas as exportações de matéria-prima e importações de artigos manufaturados. O grosso das rendas advindas dessas medidas era aplicado em objectivos militares.
 
Talvez a aplicação mais rigorosa, senão a mais deliberada, do mercantilismo tenha sido a que se verificou na França sob Luís XIV (1643-1715). Isto se deveu em parte, ao facto de o Estado francês ser a mais perfeita encarnação do absolutismo e também, em parte, à política de Jean-Baptiste Colbert, primeiro-ministro de 1661 a 1683. Colbert era um político práctico, que ambicionava o poder pessoal e procurava multiplicar as oportunidades de enriquecimento da classe média, a que pertencia. Aceitava o mercantilismo não como um fim em si mesmo, mas apenas como um meio conveniente para aumentar a riqueza e o poder do Estado, conquistando, assim, a aprovação do seu soberano. Tinha a firme convicção de que a França devia adquirir a maior quantidade possível de metais preciosos. Para isto proibiu a exportação de dinheiro, impôs altas tarifas a produtos manufacturados estrangeiros e concedeu prémios liberais para estimular o desenvolvimento da navegação francesa. Foi com este fim, em grande parte, que fomentou o imperialismo, esperando melhorar a balança de comércio favorável, mediante a venda de produtos manufacturados às colónias. Para tanto comprou ilhas nas Índias Ocidentais, incentivou o estabelecimento de colónias no Canadá e na Louisiana e fundou entrepostos comerciais na Índia e na África. Era tão devotado ao ideal da auto-suficiência quanto qualquer cameralista da Prússia. Concedeu subsídios a novas empresas, fundou algumas indústrias de propriedade estatal e chegou a fazer com que o Estado comprasse mercadorias que não eram necessárias só para manter a existência de certas companhias. Estava resolvido a conservar a indústria manufactureira sob rigoroso controle, a fim de que as companhias só comprassem matérias-prima em França ou em suas colónias e produzissem os artigos necessários à grandeza nacional. Em consequência, impôs à indústria uma regulamentação minuciosa que prescrevia quase todos os pormenores do processo de manufactura. Colbert tomou algumas medidas directas para aumentar o poder político de França. Proveu a França de uma Armada de quase trezentos navios. Recrutou cidadãos das províncias marítimas e até criminosos para tripulá-los. Procurou estimular o rápido crescimento da população, desencorajando os jovens de se tornarem monges ou freiras e isentando de qualquer imposto as famílias com dez ou mais filhos.
 
 
 
Belo Horizonte, 24 de Junho de 2007
Therezinha B. de Figueiredo  

Curtinhas XLVI

Delenda portela?

(o que fazer de uma infra-estrutura aeroportuária cara e que não está ainda em fim de vida)

v      Tudo o que se ouve e lê a propósito do NAL resume-se a uma discussão, de acentuado pendor clubista, em torno da sua localização. Para que servirá ele? O que se fará com ele? Que papel terá no desenvolvimento da economia portuguesa? E no ordenamento do território? Dá-se por adquirido que sim – sem que ninguém se incomode a elucidar exactamente o quê, ou a explicar a racionalidade da decisão.

v      Uma infra-estrutura aeroportuária, não importa de que tipo, só é útil se nela operarem, em número significativo, companhias aéreas que assegurem voos para uma pluralidade de destinos - o que é dizer, se fizer sentido para a aviação comercial e se contribuir para a maior eficiência da teia de rotas aéreas que envolve o globo terrestre. Não é mais um luxo que um país se permite.

v      Será que consegui incutir no Leitor a curiosidade de saber se existe, ou não, uma janela de oportunidade para um hub intercontinental na região de Lisboa[1]?

v      Vejamos: (1) o tráfego aéreo gerado pela região de Lisboa justifica, há muito, duas pistas que possam operar em simultâneo; (2) duas[2] são as pistas de que um hub (intercontinental ou regional) necessita para poder servir, em total segurança, grandes volumes de tráfego aéreo; (3) Lisboa, pela sua localização geográfica, nunca será um hub regional[3]; (4) a sua localização é, sim, ideal para um hub intercontinental dedicado às rotas aéreas que ligam a Europa a ambas as margens do Atlântico Sul, à costa sul-americana do Pacífico e a grande parte do Golfo das Caraíbas; (5) o agrupamento Star Alliance (de que a TAP é membro) não dispõe de projecção suficiente nessas rotas, nem de um hub que lhe permita aí operar com razoável eficiência (quanto a rotação de aeronaves e tripulações); (6) o agrupamento Sky Team (liderado por Air France / KLM), embora com um posicionamento logístico ligeiramente mais favorável[4] que o do Star Alliance nas referidas rotas, perde claramente para o agrupamento One World[5] e, por isso, admite construir um hub (do tipo “porta-aviões em terra”) em Casablanca, se não encontrar melhor alternativa.

v      Em suma: a janela de oportunidade existe. Porque não aproveitá-la? Com o bónus de, provavelmente, tornar dispensável o financiamento público[6] - sempre que as negociações sejam conduzidas de modo diligente, competente e com cabeça.

v      E, só então, fará sentido falar de externalidades, sonhar com atrair para a região de Lisboa, à sombra do hub intercontinental, actividades económicas de projecção global e pensar em cidades aeroportuárias. A verve e os fundos públicos que esta abordagem do projecto permitiria poupar, melhor seriam aplicados em criar condições concretas, no terreno, para que as sonhadas externalidades fossem, um dia, bem reais.

v      E a Portela? É evidente que, com um hub na vizinhança, a Portela se tornará inútil para a aviação comercial de carreira. Impor à força a Portela como ponto de chegada, ou de partida, de rotas aéreas regulares (por exemplo, dos voos domésticos) seria forçar alguns passageiros a penosos transfers entre aeroportos – o que não deixaria de afectar o equilíbrio de exploração de qualquer deles.

v      A afirmação não é, contudo, inteiramente verdadeira. Os voos low cost (logo, dedicados ao tráfego aéreo “ponto a ponto”) poderiam operar na Portela sem problemas de maior. A comodidade que a Portela, como aeroporto de cidade, proporciona a passageiros (e, em menor grau, a cargas) tem, certamente, um preço que muitos estarão na disposição de pagar: as taxas aeroportuárias aí praticadas poderiam, muito bem, reflectir essa comodidade e o correspondente preço (o tal monopólio que referi em escrito anterior).

v      E, no entanto, a Portela é uma infra-estrutura aeroportuária perfeitamente operacional, que tem na localização (no perímetro urbano de uma capital europeia) o seu maior trunfo. Desmantelá-la agora seria dar de barato esse trunfo (tal como não construir agora um hub intercontinental é fechar, às cegas, uma janela de oportunidade que dificilmente se abrirá de novo).

v      Uma curta reflexão mostrará que a Portela tem mercado: (1) os voos low cost cujos passageiros estejam dispostos a pagar taxas aeroportuárias mais altas, para não terem de se deslocar mais umas dezenas de quilómetros; (2) voos particulares e voos charter, que não escolhem o aeroporto de destino consoante as taxas aeroportuárias a pagar sejam maiores ou menores.

v      A necessidade de manter a Portela (com um hub intercontinental ali a dois passos) rentável chama a atenção para duas actividades que Lisboa-cidade - e, em particular, a APL - têm negligenciado, talvez, por inépcia: (1) a rotação de passageiros e tripulações nos cruzeiros marítimos turísticos (Lisboa é o porto da Europa mais visitado por estes cruzeiros, que por cá pouco se demoram); (2) o estuário do Tejo (e, em menor grau, o do Sado) tem condições únicas para a instalação de marinas internacionais (isto é, marinas ocupadas e/ou frequentadas por não-residentes, que aí guardam as suas embarcações de recreio todo o ano).

v      Qualquer destas actividades faz apelo, justamente, aos tipos de voos que mais convêm à Portela: voos high low cost, voos charter e voos privados. E, sob esta perspectiva, a opção “1+Portela” ganha ainda mais sentido. Mas um sentido absolutamente empresarial: (1) no “1” (o hub intercontinental), há que agir continuamente para captar, e manter, agrupamentos de companhias aéreas, em ambiente exposto à concorrência internacional; (2) na Portela, há que agir sem descanso para dar a Lisboa-cidade novos, e mais exigentes, horizontes.

v      É natural que Governo e happy few, sempre pouco à vontade nos terrenos da concorrência, e que ao risco empresarial preferem o conforto dos proveitos certos (se necessário for, retirados do bolso dos contribuintes), nem queiram ouvir falar da opção “1+Portela”.

v      Ah! Dirão! Mas para esses voos que ora vêm, ora não vêm, Portela é grande demais. Pois é. Mas, Leitor, conhece melhor local para construir a plataforma intermodal (terminal ferroviário, terminal rodoviário, metro) de Lisboa, depois de transferir o AB1 para onde sempre deveria ter estado (Alverca ou Montijo), e de remover para junto do “1” (como semente da cidade aeroportuária) todos aqueles edifícios administrativos que hoje rodeiam a Portela?

a. palhinha machado

Junho 2007



[1] Poderia ser qualquer outra região de Portugal, desde que gere uma suficiente procura de transporte aéreo. Isto para que o hub intercontinental a construir não fosse um dos tais “porta-aviões em terra”, completamente isolado da realidade económica local. A ideia é, com uma cajadada, matar dois coelhos.

[2] Recordo que, por razões de segurança (que têm a ver com os “corredores de aproximação”), nenhum aeroporto pode ter mais de duas pistas (necessariamente paralelas).

[3] O aeroporto Sá Carneiro, sim, no âmbito do Noroeste Peninsular, mas em escala muito reduzida.

[4] Baseado no complexo aeroportuário formado pelos aeroportos Paris-Charles DeGaulle e Paris-Orly.

[5] Por causa, sobretudo, do aeroporto de Barajas (Madrid).

[6] E a peregrina ideia de financiar o projecto com a venda da ANA, EPE, (e, por arrastamento, de uma participação qualificada no aeroporto de Macau), dando de mão beijada a experiência em gestão aeroportuária que lá tem vindo a acumular-se (é certo que a ganhar pó, pois não se vê nela a menor vontade de rentabilizar, no exterior, a reputação internacional que granjeou).

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