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A bem da Nação

Deslumbrados e Sôfregos

 

Deusa da Fertilidade - último monumento erigido pelos portugueses

 

 

Cheguei a Macau no dia 23 de Dezembro de 2006 e passado pouco já me lembrava de Cristina Wasa, rainha da Suécia, que foi a primeira cabeça reinante a reconhecer a soberania portuguesa depois da expulsão dos Filipes. Por isso ainda hoje nós, os portugueses, damos “Vivas à Cristina!”.

 

Passados alguns séculos do seu passamento em Roma no ano de 1683 com a então razoável idade de 63 anos, continuamos sem saber se Cristina era uma mulher deslumbrante ou se deslumbrada. Para o Cardeal Dezio Azzolino, certamente uma mulher deslumbrante; por D. António Pimentel do Lago, o Amarante, certamente uma mulher deslumbrada. Mas sobre ela escrevo noutra sede pois que, por agora, me ocorre apenas a sua memória por causa dos chineses e de Macau: quem deslumbra quem? Macau deslumbra os chineses ou são estes que deslumbram Macau? Eis a questão.

 

Não vi em que condições se vive na vizinha Província de Cantão nem sequer dá para imaginar se por lá se vive ou se se sobrevive. O que dá para ver é o ar de extasiamento dos chineses acabados de chegar a este nosso antigo território. Mais: a correria em que fazem o percurso das Portas do Cerco aos autocarros que gratuitamente ligam a fronteira terrestre aos casinos, dá para imaginar que esta viagem se fazia ansiosamente esperar. Sim, cada casino tem um serviço gratuito de transporte nesse percurso para ter a certeza de que o dinheiro amealhado do lado de lá da fronteira não é desbaratado em bilhetes dos transportes públicos da cidade ao preço “astronómico” de 3 Patacas, o equivalente a € 0,30 !!! Mas, mesmo assim, alguns desses turistas escapam-se e vão ao templo da Deusa A-Mah pedir sorte ao jogo.

 

E quem é a Deusa A-Mah? Conta a tradição chinesa que, nos tempos mais antigos, uma frota de juncos foi apanhada por um tufão salvando-se apenas um único barco que com a força dos ventos foi atirado para cima de terra na zona que muito mais tarde receberia o nome de Porto Interior de Macau. Nesse barco fazia-se transportar A-Mah, concubina terrestre do Imperador Celestial e, desde que serenados os ventos, logo o povo lhe atribuiu o fim da tempestade e a deificou. Ao local passou a chamar-se “porto de A-Mah” o que em cantonês soaria a algo como “A-Mah Gao”. De apócope em corruptela e assim sucessivamente, eis que se chega ao nome de Macau.

 

Macau, a quem muitos fazem corresponder o extenso nome de “Cidade do Santo Nome de Deus”. Ora, é axiomático que Deus é Santo e, portanto, a expressão “Santo Nome de Deus” é um pleonasmo sem sentido teológico. Por isso, Macau assume o nome extenso de “Cidade do Nome de Deus” e não como é corrente afirmar.

 

No templo de A-Mah – apesar da agnóstica presença dos curiosos turistas – prevalece uma evidente religiosidade que nos faz recordar o princípio fundamental de que a Fé não se discute. Quem não souber respeitar a Fé alheia, mais vale que não ponha lá os pés. Os crentes locais vão lá pedir protecção nas pescarias; os forasteiros crentes vão lá pedir sorte antes de se abalançarem ao jogo e vão lá agradecer as graças recebidas quando disso tenha sido o caso.

 

Habituado que estou a falar em surdina sempre que visito algum lugar de oração, estranhei o meu guia turístico – macaense, cidadão português – falar connosco, a família Salles da Fonseca, como se fôssemos surdos, o que felizmente não somos nem ficámos apesar do barulho do fogo de artifício que estralejava entretanto na rua fronteira ao templo. É que, quanto maior a fortuna recebida no casino, maior a agradecimento no templo em oferendas e incenso e maior o espavento na rua provocado pelo fogo de artifício. Pululam no local as lojecas de pirotecnia cujos propagandistas chamam a potencial clientela com megafone ou, mais sofisticadamente, com microfone, alto-falante e sombrinha protectora da canícula ou da chuva, conforme as circunstâncias. Fizeram-me lembrar a Feira do Relógio ou a da Luz, em Lisboa . . . Gritaria incomoda sempre mas quando é tecnologicamente ampliada incomoda muito mais e isso tanto em Macau como em Lisboa ou em qualquer outra feira de atoalhados, vitualhas e bugigangas, bem à nossa moda. Restou-me a dúvida sobre como será possível orar no meio de tanta balbúrdia mas fui obrigado a reconhecer que a Fé move montanhas e, pelos vistos, silencia algazarras.

 

Frente ao templo de A-Mah, do outro lado da rua, existe a Capitania e o Museu Marítimo, local onde aportaram os primeiros portugueses nos idos de 500. Todo esse grande terreno e instalações vão ser doados ao Governo Português para aí instalar tudo o que lhe aprouver, nomeadamente a Escola Portuguesa de Macau que hoje se situa em local que certamente é super-cobiçado pela construção civil, bem perto do Hotel Lisboa e do Novo Casino Lisboa a inaugurar brevemente no próximo Ano Novo Lunar. O pudor estético impede-me de descrever esse futuro ex-libris de Macau; publico fotografia que dele fizemos e cada leitor que julgue por si.

 

 Afinal, tenho que explicar porque não se vê: a partir do polo superior deste esferóide desenvolve-se um edifício com qualquer coisa como 40 ou 50 pisos (ou mais ainda) em que a meia dúzia do topo parece formar uma banana descascada tendo cada um desses pisos maior área do que o que lhe está por baixo. Será o edifício mais alto de Macau...

Aportou Jorge Álvares em 1513 a esta terra a que hoje chamamos Macau, vindo da sua cabana em Sanchuan, também ali na costa cantonesa, onde em 2 de Dezembro de 1552 viria a morrer S. Francisco Xavier de febres para que então não havia cura ou que, no mínimo, o amável anfitrião desconhecia. Foi esse capitão-comerciante muito importante nos mares do sul da China não só como transportador de mercadoria própria e alheia mas também no comando de navios militares portugueses. Foram várias as batalhas navais que travou contra opositores locais à presença portuguesa e acabou mesmo por morrer na sequência de ferimentos recebidos na última peleja em que participou. Ferido e moribundo, recolheu-se à sua cabana em Sanchuan nas proximidades da qual erigira um padrão atribuindo o local à posse do Rei de Portugal. Cumpriram-lhe a vontade de sepultura junto ao padrão mas não lhe sobreviveu a posse portuguesa daquela terra.

 

Transportava Jorge Álvares nos seus navios lastro de pedra portuguesa mas quando deparou com a maravilha da porcelana chinesa, logo tratou de vender a pedra para calcetamento das veredas locais a troco dessa outra “pedra” por que ainda hoje bebemos o chá das 5. E o lucro que fez com a venda da porcelana foi tal que, descoberta a origem da preciosa mercadoria, despertou a cobiça de muitos mais portugueses que de imediato rumaram ao Oriente. O mais curioso é que a calçada frente ao templo da Deusa A-Mah, do Museu Marítimo e da Capitania de Macau é suposto ser feita com essa pedra oriunda de Portugal. Mesmo que não seja verdade, é uma história bem apanhada. Mais: foi-me contada com uma enorme simpatia e até mesmo paixão por tudo que respeita a Portugal.

 

  Ruínas da Igreja de S. Paulo, actual ex-libris de Macau, antiga glória da Província do Oriente da Companhia de Jesus

 

E que resta em Macau de Portugal? Muito e pouco, simultaneamente.

 

Todos os escritos públicos são bilingues em chinês (presumo que mandarim pois ouvi dizer que o cantonês não tem escrita oficialmente reconhecida na China) e em português. As viaturas da Polícia identificam-se como “Polícia de Segurança Pública”, os autocarros dos transportes urbanos afirmam que “existimos para melhor servir” ou outra expressão equivalente, a toponímia mantém os nomes que a Administração Portuguesa definiu mas... quase ninguém fala português.

 

Contudo, nada melhor do que apurar da verdade dessa afirmação – de que nem os polícias falam português apesar do distintivo escrito na nossa língua. O nosso hotel era bem próximo de um grande aquartelamento da PSP pelo que sempre passávamos à porta de armas quando nos dirigíamos no sentido de um conjunto de quarteirões muito comercial, pejado de restaurantes. Decidimos inventar um pretexto para fazermos uma pergunta ao polícia de plantão e perguntei-lhe em português pausado mas fluente qual a melhor carreira de autocarros para a Ilha da Taipa. Felizmente, não precisávamos da resposta para nada porque, se não, ainda hoje lá estaríamos à espera da alguma indicação válida. O encolher desculposo de ombros que o polícia me fez implicou que eu repetisse a pergunta em inglês e foi então que me regalei ao constatar que a tradição da rainha Vitória também ali não criou quaisquer raízes, apesar do sistemático assédio que historicamente fizeram às colónias portuguesas. O diligente agente da Autoridade com que eu tentava comunicar pediu ajuda a um colega que estava para lá da porta de armas mas o resultado foi igual, ou seja, zero. Será mais simpático concluirmos que os polícias de Macau não andam de autocarro...

 

Não andam de autocarro mas é imprescindível que falem cantonês, língua usada pelos “clientes” que eles possam ter que meter no calabouço. É para mim claro que seria muito simpático que articulassem alguns sons na língua em que estão escritos os distintivos da farda que usam e que algum domínio do português – uma das duas línguas oficiais do território que policiam – fosse critério preferencial para as promoções na carreira.

 

Mas, para além do motivo algo artificial das promoções, há todo o interesse prático em falar português em Macau pois a medicina chinesa não é exímia em cirurgia e são os médicos portugueses muito solicitados para todos os casos que não se resolvam com a simplesmente analgésica acupunctura. Sucede também que o Direito em Macau é o que Portugal lá deixou e tudo é gerido com uma forte componente de Advogados portugueses. Não seria complicado arregimentar mais alguns argumentos a favor da aprendizagem da nossa língua mas nada apurei sobre se a Escola Portuguesa de Macau – com escassos 180 alunos diurnos – ministra cursos para adultos em horário post-laboral, não só para polícias mas também para bancários ligados às instituições de capital português, tão importantes naquela praça.

 

Finalmente, os arranha-céus em construção sugerem-me que Macau poderá ser um bom local para os nossos recém-licenciados em Arquitectura fazerem uma “comissão” de um ou dois anos em regime de profissão liberal ou vinculados a alguma instituição ligada ao “métier” e não sei mesmo se outras profissões actualmente em menos bons lençóis por cá não deveriam encarar igual hipótese. Não há quem diga que em Portugal temos Advogados a mais? Alguém conhece lugar mais aprazível para ganhar curriculum?

 

Em Macau vemos gente deslumbrada com os feéricos e profusos néons, gente apressada para não perder um certo momento de sorte que ninguém sabe quando acontece num dos 25 casinos em funcionamento e deparamos com esses sôfregos locais de alguma sorte e muito azar a não perderem um único Yuan poupado do outro lado das Portas do Cerco. Fico mesmo sem saber se são os chineses que se deslumbram com os casinos ou se são os casinos que se deslumbram com as poupanças dos chineses assim como me restam todas as dúvidas sobre se prevalece a sofreguidão chinesa pelo dinheiro fácil ou a sofreguidão dos patrões dos croupiers pela cupidez dos jogadores.

 

Fica a pergunta sobre o que diria o Herói do Passaleão a este vibrante e inebriante estilo de vida e fica também a questão de saber durante quanto tempo a febre construtora de casinos, hotéis e outras piramidais estruturas permitirá a manutenção dos traços arquitectónicos que Portugal ali edificou durante quase 450 anos.

 

  No Largo do Leal Senado, um dos edifícios de que mais gostei

 

 

Lisboa, 5 de Janeiro de 2007

 

Henrique Salles da Fonseca

CURTINHAS XXVI

Atenção! este Texto é mesmo chato...

 

v     Há coisa de duas semanas assisti na Gulbenkian a uma conferência sobre “O Risco e a Cidade” pelo Prof. Quintanilha. Uma abordagem algo intimista, muito interessante – com um senão: por aquela sala esvoaçaram palavras como “probabilidades”, “incerteza”, “risco”, “resultado”, “perda” ou “ganho”, “sorte” e “adversidade”, sem que ninguém conseguisse dar-lhes um conteúdo preciso. Muitos terão saído com a ideia de que tudo aquilo não passava de sinónimos que cada um usará conforme mais jeito lhe der.

v     E, no entanto, falava-se das pedras angulares do conhecimento actual, tanto nas ciências da Natureza como nas ciências do Homem. Quem sabe se o leitor não comunga também de igual perplexidade? Talvez gostasse de compreender melhor aquilo que arrumou já no esconso das “conversas abstrusas, só para iniciados”? Sim? Então venha daí.

v     Se houver um destino a fadar-nos: ou conhecemos o que ele nos reserva – e é inútil tentar contrariá-lo; ou não conhecemos – e o que tem de ser, será. No primeiro caso dispomos de informação completa sobre um futuro que é inescapável. No segundo caso, ignoramos tudo sobre o que nos espera, mas também não poderemos escapar-lhe. Em ambos os casos estamos cientes de que não existe alternativa: tudo evolui perante nós como uma infindável sucessão de situações únicas. Nestas circunstâncias não há lugar, nem para a incerteza, nem para o risco: ou há clarividência perfeita, ou há a mais absoluta ignorância. Qualquer delas completamente inútil.

v     A nossa experiência, porém, diz-nos que muitas situações comportam diversas possibilidades, mas que, em cada momento, só uma dessas possibilidades eclodirá. Designemos por cenário (ou estado da natureza) cada uma dessas tais possibilidades, nesse momento. Se formos suficientemente hábeis na descrição dos cenários, eles serão mutuamente exclusivos (isto é, elementares) de tal forma que poderemos dizer sempre, a posteriori, que cenário ocorreu e que cenários não se verificaram.

v     Os jogos proporcionam excelentes exemplos. Na “moeda ao ar” os cenários elementares são: “cara para cima”, “coroa para cima”, “moeda em pé” (não! “moeda desaparecida por um buraco” não é um cenário admissível porque o jogo é jogado, por hipótese, numa mesa enorme e lisa). No lançamento de um dado, são seis os cenários definidos como “a face virada para cima” (excluindo os casos em que o dado fique em equilíbrio precário, ou sobre uma aresta, ou sobre um vértice). No xadrez, os cenários são muito mais numerosos, sendo cada um deles totalmente descrito pelas pedras no tabuleiro e pelas posições que elas aí ocupam.

v     Uma vez lançada uma moeda (perfeita, por definição) ninguém consegue saber de antemão como irá ela cair sobre a mesa. Há incerteza, mas não ignorância: na verdade, qualquer um de nós pode descrever os cenários possíveis – só não conseguirá predizer qual ocorrerá. Com o dado rolado passar-se-á o mesmo. Pelo contrário, no xadrez, a causa da incerteza reside, antes do mais, na estratégia que cada jogador tenta executar e que o adversário lhe permitir – são eles, os jogadores, a fonte da incerteza.

v     Incerteza em sentido amplo é quando conseguimos enumerar os cenários possíveis, sem poder dizer antecipadamente qual irá ser observado. Estamos confrontados, então, com um problema de informação limitada que gera um ambiente de incerteza e que nos impede de indicar, sem sombra de dúvida, que cenário ocorrerá nesse tal momento. Os jogos que referi são, cada um a seu modo, processos geradores de incerteza neste sentido. E se reflectirmos por uns instantes concluiremos que as nossas vidas estão mergulhadas permanentemente em ambientes de incerteza. Só que – há incertezas e incertezas.

v     A incerteza gerada pelo lançamento da moeda ao ar, pelo rolar de um dado, por muitos fenómenos naturais, é uma incerteza sobre cujos cenários possíveis não temos qualquer acção: estes cenários são-nos exteriores, exógenos. Qualquer deles pode acontecer – e não os podemos alterar. Tudo o que está ao nosso alcance é descrever, da forma mais exacta possível, todos os cenários elementares – e furtarmo-nos ao ambiente que os gera se não quisermos sofrer-lhes as consequências. Esta é a incerteza em sentido estrito.

v     No caso do xadrez, porém, e na generalidade dos processos de inter-relação social, tal como em vários fenómenos naturais, os cenários possíveis podem ser, mal ou bem, desenhados – ou seja, podemos agir sobre o ambiente de incerteza dando-lhe a forma que pensamos ser, para nós, a mais favorável. Fala-se, então, de risco. No parágrafo anterior, se houver que decidir, decide-se em face da incerteza em sentido estrito. Aqui, está-se num ambiente de risco e decidir-se-á em face do risco. (continuarei, apesar de tudo, a falar de ambiente de incerteza em sentido amplo, sem especificar se se trata de ambiente de incerteza em sentido estrito ou de ambiente de risco).

v     É corrente ouvir-se dizer: “Não levo chapéu-de-chuva. Corro o risco de apanhar uma molha!” Na realidade, quem diz isto está a decidir em face da incerteza, já que só lhe restam duas opções: não se expor ao ambiente de incerteza – e ficar debaixo de telha; ou expor-se – e nada poderá fazer para que chova ou não chova (excepto se for xamã...). Pelo contrário, o jogador de xadrez, ao condicionar com os seus lances o adversário, tenta reduzir o ambiente de incerteza com que iniciou a partida.

 "Rain-makers" sioux. Que probabilidade haveria de chover caso as danças da chuva não tivessem sido executadas? Não o poderemos saber pois que se trata de uma experiência não experimentada e, a essas, nunca lhes conheceremos os resultados . . .

v     Em princípio, a cada cenário corresponde um resultado quantificável para o sujeito que se expõe (ou que fica exposto) ao ambiente de incerteza. Dê-se um nome a esta correspondência “cenário ® resultado” num tal ambiente de incerteza: função de perda (é um nome pessimista, como tudo aquilo que lida com a incerteza). Alguns resultados podem ser apetecíveis para o tal sujeito; outros nem tanto; outros ainda podem ser mesmo muito desagradáveis (e, no limite, fatais). Uns representarão ganhos, outros perdas. E se os resultados traduzirem invariavelmente perdas, seja qual for o cenário elementar que ocorra, então sim, esse é um ambiente de incerteza verdadeiramente adverso.

v     Por estranho que pareça, são os ambientes de incerteza cujas funções de perda assumem um amplo espectro de resultados de todos os matizes, nem só ganhos, nem só adversidade, que mais chamam a atenção – e que mais ricos se revelam em termos de decisão.

v     Quando os resultados possíveis num determinado ambiente de incerteza são, uns, ganhos, outros, perdas, a tentação é ponderar quais nos parecem mais verosímeis, ou quais deles pensamos que ocorrem com mais frequência. O passo seguinte é, por conseguinte, atribuir um número a cada cenário elementar. Não de qualquer maneira, mas de tal forma que: (a) todos esses números sejam não negativos; (b) a soma de todos os números atribuídos (aos cenários elementares) seja sempre igual a 1; (c) se um cenário nos parece mais verosímil que outro, então o número que atribuirmos àquele primeiro não pode ser inferior ao que atribuímos a este último. Os números com estas características designam-se por probabilidades: cada um deles é a probabilidade que atribuímos à ocorrência de um cenário (elementar ou não). E o conjunto por eles formado é a distribuição de probabilidades nesse ambiente de incerteza.

v     O que não faltam são maneiras de atribuir probabilidades aos cenários elementares de um ambiente de incerteza. Desde que se respeitem aquelas três regras, qualquer um pode construir, modificar, moldar distribuições de probabilidades conforme melhor lhe parecer. Sob este ponto de vista, as probabilidades são puramente subjectivas. E há até métodos simples, mas consistentes, de rever as probabilidades inicialmente atribuídas, tendo em conta a informação adicional que entretanto nos vai chegando (métodos bayesianos).

v     Ao falarmos de probabilidades, vemos melhor porque é que os cenários elementares da “moeda em pé”, ou do “dado sobre uma aresta” podem ser afastados sem grande prejuízo. São, de facto, cenários possíveis, mas altamente inverosímeis – a que, quase sem nos darmos conta, atribuímos a probabilidade 0. Diz-se então que são acontecimentos improváveis (embora possíveis, em abstracto).

v     O que tem mais graça é que a incerteza não é só subjectiva, companheira inevitável da nossa ignorância e do facto de não conseguirmos ir além da informação limitada sobre (quase) tudo o que nos rodeia. Parece que ela também está inscrita no âmago da própria matéria (princípio da incerteza de Heisenberg). Mas isso são outros contos.

v     Eu bem avisei....

Lisboa, Dezembro de 2006

A. Palhinha Machado

CRÓNICAS DO BRASIL

O VICE-REINADO DO PRATA

 

Domínio Inglês no Prata

 

 

Rio de la Plata

 

Enquanto Espanha e Portugal estiveram sob o mesmo governo, de 1580 a 1640, e desde o início da colonização até o advento do domínio espanhol sobre Portugal, as colónias sul-americanas de um e outro país não tiveram motivos para atritos. As relações amistosas mantiveram acentuadas devido a distância que separava as áreas de ocupação e pelos espaços vazios existentes entre elas.

 

Com o domínio único sobre o continente a noção de limite ou de faixa de influência e domínio perdeu a razão de existir e facilitou as penetrações irradiadas da Capitania de São Paulo até atingirem as regiões platinas. Essas penetrações foram impulsionadas pelas bandeiras que buscavam o apresamento dos indígenas mantidos pela catequese e organização jesuíticas naquelas regiões.

 

A Restauração da autonomia portuguesa, com a retomada de seus domínios coloniais, devia por fim à relação de harmonia e de trocas comerciais consideráveis para a época.

  

A aceitação do comércio com a Guiné e com o Brasil foi a base da colonização do estuário platino e da implantação do núcleo de Buenos Aires. A expansão comercial realizada pelos portugueses, paralelamente à territorial, foi a mais importante e enfraqueceu, assim, de Buenos Aires, o monopólio comercial espanhol na América do Sul. Enquanto os comerciantes espanhóis (sevilhanos), regra geral, seguiam a rota Porto Belo, Panamá, Guaiaquil, Callao, Lima, de Lisboa partiam inúmeros navios para dirigir-se directamente ao Rio da Prata. Seu carregamento principal eram os tecidos, que em não poucos casos chegavam em Lima.  No começo, a carga principal com que retornavam esses navios era a prata. Ao restringir-se as possibilidades comerciais legais, Portugal e Brasil deram impulso a esse intercâmbio ilegal para garantir a necessária transacção económica. Lisboa continuou comerciando com os tecidos da Europa; os portugueses provêem a América de escravos, o Brasil proporciona açúcar e comestíveis à Buenos Aires. Poderíamos surpreendermos, face a tais circunstâncias, de que Buenos Aires fosse, em seu início, uma cidade portuguesa?

 

Além dos motivos peculiares da expansão do povoamento, nas colónias americanas de uma e outra nação, sobreviviam aqui ou para aqui se transferiam, os motivos derivados da política seguida pelas cortes de Lisboa e Madrid nos negócios especificamente europeus. Nesse sentido, aquela política sujeita a flutuações e contradições transitórias, pode ser definida, em linhas gerais, assim:

 

  • De um lado, pela íntima ligação entre Portugal e a Inglaterra e a subordinação económica daquele a este.

 

  • De outro, pela contradição entre a Espanha e a Inglaterra.

 

  

Portugal e Inglaterra firmaram sucessivos tratados de aliança e no século XVIII, com o de Methween, a subordinação, antes definida, consolidava-se e permitiu que, quando se esboçou e se aprofundou o processo de desenvolvimento capitalista conhecido como Revolução Industrial, a Inglaterra tivesse em Portugal não apenas uma área subordinada, mas um instrumento eficaz em sua luta por novos mercados. Aqueles tratados visavam:

 

  • Do lado inglês: assegurar o surto de sua produção manufactureira, penetrando e dominando o mercado metropolitano português e os mercados coloniais portugueses e espanhóis. Para atingir esse objectivo utiliza-se de Portugal para a conquista do mercado espanhol.

 

  • Do lado português: assegurar a posição de sua produção vinícola no mercado britânico e eliminar a concorrência da produção francesa.

 

  

O sistema colonial fundado no monopólio de comércio antecede ao movimento expansionista da produção industrial britânica. O crescimento acelerado desta, exigia a abertura de novos mercados, a exploração de novas áreas. Com o desenvolvimento das colónias espanholas e portuguesas no continente sul-americano, seus mercados se ampliavam e apresentavam-se como alvo de interesse inglês. Portugal resistia às pressões inglesas para abertura de seus mercados coloniais, particularmente o Brasil, mas cedia progressivamente, enquanto a Espanha resistia.

  

Em relação a Portugal, a acção britânica se processava por via diplomática, através de sucessivos acordos chamados de aliança,  aprofundando-se na fase de debilitamento luso, como a da Restauração, prolongada até meados do século XVIII; em relação à Espanha, se revestia de violência implacável e contínua, pontilhada apenas de acordos em que Madrid, ganhando uma pausa, fazia largas concessões. A competição comercial teve seus primeiros episódios, por isso mesmo, na guerra marítima dos corsários, quando as frotas espanholas eram atacadas, nas rotas para a Espanha, por piratas portadores de cartas de corso fornecidas pelas nações competidoras. Dessa fase de espoliação segue-se a de penetração directa nos mercados. As lutas entre Espanha e Inglaterra, em consequência, seriam prolongadas, tanto no cenário Europeu quanto no Americano, na proporção em que a rota do Atlântico assumia capital importância.

 

 

Campo Belo, 27 de Dezembro de 2006

 

Therezinha B. de Figueiredo

 

 

NO CAMINHO DE NOVOSIBIRSK . . .

 

 

. . . para São Petersburgo ouvi “Adiós Nonino”, o tango que Astor Piazzola compôs em memória do pai acabado de morrer e lembrei-me de que Carlos Gardel tinha convidado o então jovem músico para o acompanhar numa longa digressão, que o pai se opusera com o argumento de que o rapaz era muito novo para tais andanças, de que nessa viagem o avião caiu e Gardel e todos os acompanhantes morreram e de que o compositor passou a referir que a clarividência do pai o tinha posto a tocar acordeão e piano na Terra em vez de harpa no Céu . . . E eu que ia naquele momento a cerca de onze mil metros de altitude, perto dos céus em que Gagarine não terá visto Deus, não encontrei Gardel mas lembrei-me do extasiamento de John Glenn perante a grandeza da obra divina quando vista do espaço . . .

 

Assim me entretive voando sobre as Rússias vindo de Xangai numa rota que me trouxe a Pequim, Ulan Bator, Novosibirsk, São Petersburgo, Copenhaga até Amesterdão. Tudo de um só trago, o que é de mais para meu gosto.

 

A cidade de Xangai tem cerca de 18 milhões de residentes, uma população flutuante calculada em 4 milhões, recebe anualmente à volta de 95 milhões de turistas dos quais cerca de 6 milhões estrangeiros e tem qualquer coisa como 5.000 empresas com capital de Taiwan. Estes são os números da cidade porque os da Província são logicamente muito superiores.

 

Das questões que me assoberbavam, algumas ficaram resolvidas como, por exemplo, a da unidade monetária. As minhas dúvidas assentavam na existência de várias moedas em circulação – o Yuan convertível, o Yuan não convertível, o Dólar de Hong Kong e a Pataca de Macau – num único espaço político. Que consolidação financeira seria possível alcançar quando as despesas militares eram segredo de Estado? E que se passará com o orçamento do enorme Partido Comunista Chinês? Que congruência terão as políticas monetária e orçamental chinesas? Será, afinal, a China uma bolha que poderá rebentar a qualquer momento?

  Será a cidade de Xangai tão confusa como a realidade chinesa?

Essas e outras questões levava eu comigo quando me encaminhei para aquelas paragens. E que apurei entretanto?

 

Apurei que é necessário apresentar passaporte na saída de Hong Kong para Macau; que é necessário apresentar passaporte à entrada de Macau, vindo de Hong Kong; idem, no sentido inverso; que é necessário apresentar passaporte na saída de Hong Kong para Xangai e que à chegada a esta cidade, vindo de Hong Kong, os formalismos são idênticos aos aplicados a quem no Céu se apresente vindo do Inferno. Não há, pois, qualquer unidade política. Comecei a compreender melhor a existência das diferentes moedas mas o meu espanto assomou-me à cabeça quando fiquei a saber que o Yuan, o Dólar de Hong Kong e a Pataca têm o mesmo valor. Como é isso possível se cada moeda tem o seu próprio Banco emissor e corresponde a uma economia específica? Ainda me poderiam dizer que se tratava de uma igualdade circunstancial mas, na verdade, trata-se de algo que deve ser ditado por decreto pois a igualdade é perene. Ou seja, alguma daquelas moedas (ou todas) tem valor artificial. Qual? Qualquer uma menos o Yuan não convertível – por óbvia definição da sua própria inconvertibilidade – que entretanto desapareceu da circulação. E essa nova convertibilidade de tão grande massa de meros bilhetes de racionamento, que expressão terá tido na política monetária da China propriamente dita? Valerá hoje o Yuan o mesmo que valia antes dessa operação política? Estaremos hoje perante um câmbio aceitável? Temo que a definição por acto legislativo do valor cambial de uma moeda possa sofrer os efeitos de um tufão de categoria elevada quando sujeito às forças do mercado cambial. Neste mês de Dezembro de 2006, o câmbio era de um Euro para dez Yuans ou Patacas ou Dólares de Hong Kong. Algo me cheira a falso. E tanto assim é que o nosso Banco de Portugal me informa que num Euro cabem actualmente cerca de 43 Novos Dólares de Taiwan. Apesar de Pequim dizer que Taiwan é sua, os secionistas não se submetem e a realidade cambial fica à vista de todos.

 

Atentemos aos seguintes modelos de desenvolvimento:

 

  • A China propriamente dita – e Xangai em particular – é actualmente o estaleiro industrial do Mundo para onde converge toda a deslocalização produtiva de base industrial por ali se gozar de uma mão-de-obra barata e da inexistência de quaisquer reivindicações sindicais;
  • Hong Kong é uma grande praça financeira, tem uma fervilhante actividade comercial e o seu porto é ainda o mais movimentado de toda a região, com a particularidade de os trabalhadores preferirem receber o vencimento em triplo do que gozarem o mês de férias que Chris Patten impôs;
  • Macau é o novo casino do Mundo pois ultrapassou Las Vegas à escala mundial e está a construir mais casinos em terrenos conquistados ao mar (esse novo empreendimento chama-se mesmo “Las Vegas da Ásia” e criará cerca de 80.000 postos de trabalho).

 

Que semelhanças têm estes modelos? Nenhumas, claro. Então como é que têm moedas de igual valor? Mistério que só a autocracia desvendará . . .

  Poderá Xangai vir a ser a "Manhattan" do Oriente?

As condições de vida que apurei em Xangai têm a ver com o salário mensal mínimo de 750 Yuans, temporariamente atribuido pelo Governo a quem lá chegue vindo das zonas rurais chinesas a fim de se adaptar à vida da cidade e arranjar trabalho; uma caixeira das lojas da famosa Nanking Road – em tudo equivalente à londrina Oxford Street, à Via Veneto de Roma ou aos Champs Elysées de Paris – ganha mensalmente cerca de 2.000 Yuans (€ 200,00) por cada um dos 12 meses de trabalho anual; uma funcionária do check-in no aeroporto ganha cerca de 4.000 Yuans mas um professor de línguas estrangeiras ronda os 5.000 Yuans; as férias anuais somam um total de dez dias e são repartidas pelo dia 1 de Janeiro, três dias a pretexto do Ano Novo Lunar, três dias a propósito do 1º de Maio e outros três dias à volta do Dia Nacional da República Popular da China, algures em Outubro; o subsídio de desemprego, de 400 Yuans mensais, é pago num máximo de seis meses e é suficiente apenas para a alimentação do próprio desempregado (se houver família a alimentar . . . ); o ensino primário e o secundário são obrigatórios e gratuitos mas a Universidade pública tem propinas de cerca de 10.000 Yuans por ano lectivo; o parque habitacional está privatizado e em grande remodelação sendo o tipo de construção bastante mais sensato do que nas outras cidades que visitei. Para se ter uma ideia sobre o custo de vida, posso informar que jantei com a minha família (4 pessoas) num restaurante ocidentalizado muito razoável por uma quantia total equivalente a € 17,70  (sem vinho), já com serviço incluído.

 

Em Macau ninguém sobrevive com menos de 5.000 Patacas por mês mas a Saúde e a Educação (Universidade, inclusive) são gratuitos; quem não tenha rendimentos que lhe permitam arrendar casa, pode recorrer à habitação social que disponibiliza pequenos apartamentos a preços simbólicos em blocos que albergam qualquer coisa como . . . 900 famílias! Dá para imaginar que esses colossos provoquem mudanças climáticas locais ao impedirem a normal passagem dos ventos. Mais: o que será habitar num desses apartamentos mais altos em dia de tufão? De qualquer modo, estes meus temores não incomodam os chineses do lado de lá das Portas do Cerco que assediam Macau na busca de melhores condições de vida do que as que a Província de Cantão lhes faculta. Província essa para onde se deslocalizaram inúmeras fábricas macaenses em busca de mão-de-obra ainda mais barata. Bastou-lhes passarem de uma margem do Porto Interior para a outra assim como que a uma distância equivalente à que vai de Lisboa a Cacilhas, ou menos. E como o chinês comum é mortinho pelo jogo, aquilo que Macau perdeu em produção industrial, ganhou nos casinos que fervilham 24 horas por dia e têm shuttles directos e gratuitos à fronteira. Pululam obviamente as casas de penhores bem perto das portas dos casinos e o templo da Deusa “A-mah” tem uma notável frequência por quem lá vai previamente pedir sorte ao jogo – e não só a tradicional protecção aos pescadores – e posteriormente agradecer a sorte recebida. Nada me foi referido quanto ao procedimento habitual dos que perderam ao jogo e não conseguiram saldar a dívida na casa de penhores mas admito que todos insistam em posteriores visitas a Macau depois de terem amealhado alguns cobres do outro lado da fronteira mesmo que para tal tenham que comer pouco (é claro que num regime dito comunista ninguém passa fome) e usar a mesma roupa até ao fio . . .

 

E para não passar em falta sobre Hong Kong, refiro apenas uma frase que me disse o guia que nos acompanhou nalguns passeios: - A liberdade em Hong Kong e na China é a mesma; a diferença é que lá não se protesta.

 

Finalmente, informo quem não saiba que a CCTV9  é o canal internacional, em inglês, da Central China TV, a televisão do Governo central, em Pequim. É o autêntico porta-voz do Governo chinês e foi nele que assisti a uma inglória entrevista a Guennadi Ziuganov, o líder do Partido Comunista Russo de visita à China em que no final o entrevistado aproveitou a oportunidade para informar que em Outubro de 2007 se comemorarão em Moscovo os 90 anos da revolução bolchevique. O entrevistador não resistiu e comentou: - O meu pai teria muito gosto em assistir a essas comemorações.

 

Pois é. A conclusão é mesmo essa: o comunismo nada diz a muitos dos chineses que hoje dão vida ao país, nomeadamente a quem faz entrevistas na TV do Estado chinês.

 

Pena que em Xangai eu nada tenha visto relativamente a Portugal: nem lojas portuguesas na Nanking Road nem sequer o número de telefone do nosso Consulado na lista telefónica.

 Bem procurei algum traço português em Nanking Road mas . . .

 

Quem havia de me dizer há meia dúzia de anos que a República Popular da China se transformaria no paraíso do capitalismo e que eu havia de me lembrar de Astor Piazzola ao sobrevoar Novosibirsk . . .

 

Lisboa, 2 de Janeiro de 2007

 

Henrique Salles da Fonseca

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