1. A propósito da OPA que o BCP lançou sobre o BPI (operação que aguarda o favor dos deuses vai para nove meses), muito se tem dito e escrito sobre o que daí resultará para os clientes de um e de outro Banco, para a concorrência no nosso mercado e para os empregados do Banco alvo. Quanto aos efeitos na solidez e na estabilidade do sistema bancário, o Banco de Portugal cedo veio a terreiro: nada a recear! Eu, por mim, não sou tão optimista.
O m/ ponto de partida são as Demonstrações Financeiras Consolidadas respeitantes a 2005 que estes dois Bancos publicaram já no contexto das normas internacionais de contabilidade (IAS) e divulgação financeira (IFRS). Para assegurar a comparabilidade dos dados divulgados, introduzi três correcções: (a) nas responsabilidades pensionáveis (deduzi aos Capitais Próprios as insuficiências declaradas, estivessem elas reconhecidas contabilisticamente ou não); (b) no Resultado Operacional (reclassifiquei como proveitos e custos não recorrentes, logo, extraordinários, todos aqueles que tivessem origem em posições expostas aos risco de mercado); (c) no Imobilizado Intangível (inclui aí os investimentos em imóveis arrendados que os Bancos portugueses, à revelia das referidas normas internacionais e da realidade jurídica, persistem em contabilizar como Imobilizado Tangível). Os Capitais Próprios resultantes dos ajustamentos referidos em (a) e (c) (segundo as IAS, o Imobilizado Intangível é para deduzir aos Capitais Próprios) divergem bastante dos Fundos Próprios divulgados, visto que a Autoridade de Supervisão condescende com situações que, noutros sectores e noutras latitudes, são tratadas com maior rigor.
2. O quadro ficcional da análise é o seguinte: a OPA, nos termos anunciados, é a primeira operação que estes dois Bancos levam a efeito em 2006 – e só depois retomarão eles as suas actividades habituais. Uma vez a OPA concluída com sucesso, só os Capitais Próprios do BCP subsistirão – com os ajustamentos necessários, naturalmente. Ora, no fecho de 2005, esses Capitais Próprios eram de € 2,102.4 milhões (Nota: Todos os valores neste artigo vão expressos em milhões de euros, com truncagem à direita na primeira casa decimal). Não integro, ainda, nos Capitais Próprios os Resultados do Exercício (753.4) porque ignoro que parcela foi, entretanto, distribuída como dividendo.
O Valor Contabilístico (Book Value) das acções do BPI, naquela data – incluindo os Resultados do Exercício por distribuir, e uma vez deduzidos o valor nominal das acções próprias (42.9, ou seja, 5.4% do seu Capital Social) e a insuficiência no respectivo Fundo de Pensões (65.2) – era de € 1.081/acção (775.6 no total). O BCP possuía em carteira umas 321 mil acções do BPI (cujo valor de Balanço, no entanto, não divulgou). Nestas condições, o preço de aquisição oferecido pelo BCP (€ 5.70/acção) exige-lhe um dispêndio de 4,085.5 (a que acrescem as comissões e os encargos desta operação) e traduz-se num goodwill de 3,309.9 nas acções efectivamente adquiridas durante a OPA, mais um ajustamento negativo (estimado em 1.8) no valor a que as tais 321 mil acções em carteira estavam contabilizadas.
Por outro lado, o BPI possuía cerca de 131.4 milhões de acções do BCP (representando 3.66% do Capital Social deste último), com valorização publicada. Concretizada a OPA, este lote de acções cai no perímetro de consolidação do BCP – e terá de ser reconhecido no Balanço Consolidado como acções próprias ao valor nominal (€ 1.00/acção) – o que arrasta um outro ajustamento negativo de 306.1
3. Sem entrar nos pormenores sobre como financiar esta OPA, que excede manifestamente as disponibilidades líquidas do Oferente (mas nada posso afirmar quanto às tranches por utilizar nas suas linhas interbancárias e nas suas Sociedades Instrumentais), esta operação leva a uma redução nos Capitais Próprios de partida do BCP de 3,617.8 (=3,309.9+1.8+306.1). Consequentemente, para não ficar com Capitais Próprios negativos, da ordem dos 1,515.4, este Banco vai ter de proceder ao aumento do seu Capital Social o mais tardar em simultâneo com a conclusão da OPA que lançou. De quanto, é o que resta apurar. Dois cenários podem ser imaginados: (a) num (o cenário A), o BCP limita-se a repor os Capitais Próprios com que parte para a OPA; (b) no outro (o cenário B), o BCP, uma vez concluída a OPA, passa a exibir uma estrutura de Balanço mais conforme aos padrões internacionais (isto é, menos “alavancada”). Naquele primeiro cenário, a entrada de capital (incluindo o Prémio de Emissão) seria de 3,617.8., como é bem de ver. Neste segundo cenário, teria de se falar em 5,710. O quadro (ver anexo) apresenta, em resumo, a estrutura do Balanço do BCP pós-OPA em cada um destes cenários (por unidade de Capitais Próprios):
Imediatamente se percebe que o cenário A configura uma alavancagem (isto é, uma relação entre Fundos Reembolsáveis e Capitais Próprios) excessiva, mesmo inadmissível, à luz das regras prudenciais que estão em vigor internacionalmente – em particular quanto ao endividamento líquido face a Bancos não residentes (ou seja, a alavancagem monetária externa líquida) que atingiria mais do triplo (3.3x) dos Capitais Próprios. Como esta entrada de capital não permitiria financiar a totalidade da operação, o endividamento do BCP, não importa sob que forma, aumentaria em cerca de 780.
Para reconduzir a estrutura do Balanço do BCP à tipologia da Banca Comercial em geral, mantendo intacto o seu Activo, a entrada de capital não poderia ser inferior a 5,710 conforme indiquei mais acima (cenário B), mas daria então para financiar a totalidade da operação e, ainda, para reduzir o passivo nos mercados interbancários internacionais (o qual baixaria para 1.5x).
4. Dir-se-á, com razão, que a entrada de capital pode ficar algures entre os 3,650 e os 5,710 – sendo a diferença coberta pela venda e/ou pela titularização de activos. Assim é, de facto, se pelo menos uma das seguintes condições se verificar: (a) ou o BCP preparou já essas vendas e essas operações de titularização, de tal modo que elas podem ter lugar em simultâneo com a OPA; (b) ou a Autoridade de Supervisão vai ter de condescender com uma grave situação de insuficiência de Capitais Próprios durante largos meses. Acontece que operações de titularização de activos domiciliados em Portugal, de valor superior a 1,000 com um mesmo originador e num lapso de tempo tão curto não são propriamente triviais. E quaisquer menos valias que o BCP aí venha a registar terá de as abater aos seus Capitais Próprios, numa espiral de ajustamentos negativos.
Seja como for, o certo é que se trata de um aumento de capital que é inegavelmente grande pelos padrões internacionais – e sem paralelo na curta história financeira portuguesa. Conseguirá o BCP levá-lo a efeito com sucesso? Não sei. Sei sim é que a solidez e a estabilidade do nosso sistema bancário dependem do sucesso de tudo isto – qualquer coisa como 30% do mercado. Que garantias terá dado o BCP à Autoridade de Supervisão? Mistério profundo.
Então como é ? . . .
. . . Estará a nossa banca opada ou definhada?
5. Os efeitos da OPA poderiam ser analisados ainda sob muitas outras perspectivas, nomeadamente: os encargos com a estrutura (o rácio cost-to-income, em que nem o BPI nem o BCP, sobretudo este, têm um historial brilhante); a gestão do risco de crédito (idem); o cúmulo do risco de crédito (os chamados “grandes riscos”); a diversificação do risco de mercado; ou a adequação dos Capitais Próprios dada a exposição ao risco. Fica para uma outra altura. Mas parece-me interessante discorrer um pouco mais sobre a cotação de equilíbrio das acções do BCP. Aqui, a dúvida maior é saber que Prémio de Emissão o mercado aceitará pagar num aumento de capital desta magnitude. Que não será por aí além, suspeita-se: no fecho de 2005, o Valor Contabilístico (Book Value) das acções do BCP estava 42% abaixo do par (alguma razão assiste ao CEO do BPI quando se lhe ouve dizer que o Oferente é “uma máquina de destruir valor”). Tradicionalmente, o BCP tem adoptado um múltiplo entre 2 e 3 para fixar o preço de subscrição de novo capital. Assim sendo, as novas acções seriam emitidas a, talvez, € 1.80/acção, com um prémio de € 0.80/acção (o BookValue, concluídas todas estas operações, andaria por € 0.802/acção). Seja. Estamos a falar, então, numa emissão de 1.64 mil milhões deacções (aproximadamente 47.5% das acções disponíveis no mercado) com um efeito de diluição esperado nas cotações de equilíbrio deste título a rondar os 9.5%. Vista apenas por este ângulo, a OPA não assusta, de facto.
QUADRO
Cenário a
Cenário b
ACTIVO
Disponibilidades Líquidas
1.04
0.45
Posições Interbancárias
4.55
1.95
Carteira de Crédito Bancário
40.78
17.44
Carteira de Valores para Negociação
6.74
2.88
Carteira de Derivados
0.88
0.38
Outros Activos
5.06
2.17
TOTAL DO BALANÇO
59.06
25.27
passivo
Passivo Interbancário
7.71
2.91
Depósitos de Clientes
27.86
11.92
Passivo a médio/longo prazo
19.25
8.05
Outros Passivos (incl. Interesses de Minoritários)
Quem havia de dizer que, vez por outra, palavrões como estes são uma maravilha! Enquanto alguns fármacos tipo «mata-gente», como os antibióticos, se intitulam com palavreados semelhantes, estes levam-nos a cantar: «era o vinho meu bem, era o vinho, era a coisa que eu mais adorava»!
Perde-se na poeira dos tempos, sempre empoeirados, o conhecimento dos primeiros viti-vinicultores, que terão aparecido dez, vinte mil ou ainda mais anos atrás! Avozinhos bons esses, hein?
A ciência depois de nos querer convencer que os vinhos hoje sabem a frutas verdes, vermelhas, pretas, canela, abiu, araçá e murumuru, além de outros, vem agora animar-nos a beber mais uns copos, sempre do tinto, informando-nos que um composto encontrado na casca das uvas e no vinho tinto, a que chamou de resveratrol, aumenta a resistência à velhice e ainda evita a obesidade! Que delícia.
Saudemos estas Festas com tinto !
Eu conheci, muitos anos atrás, um homem com oitenta e tantos anos, alto, forte e seco (por fora) que de repente caiu de cama. O seu tempo chegava ao fim. Esse homem todos os dias de manhã começava por «matar o bicho» com um copo, um copo, não um cálice, de aguardente bagaceira. Depois, durante o dia, emborcava mais uns cinco litros de vinho. Velho rijo e são. O médico chamado a sua casa, vendo que a vida estava por um fio, recomendou: "Enquanto estiver assim não pode beber mais de um litro de vinho por dia". Resposta do velhote: "Pra beber tã pouco prefiro nã beber nada!" No dia seguinte morreu! Não se pode dizer que tenha morrido cheio de saúde, mas chegou aos oitenta e muitos, rijo e bêbado que nem um tonel. Pena não se ter feito uma análise do seu DNA (naquele tempo não havia disso) porque certamente deveria estar cheio do tal resveratrol, do tinto e do bagaço!
Era dali de perto de Évora. Talvez junto da Ribeira de Peramanca, onde se produzia um vinho tão maravilhoso que animou o Geraldo Geraldes a conquistar Évora aos mouros com meia dúzia de amigos! Há quase novecentos anos!
O problema por enquanto está só na procianidina. Dizem os cientistas que este composto - a procianidina é um composto! - encontrado nas sementes das uvas, faz muito bem ao sistema cardiovascular, sendo um vaso dilatador, coisa que os romanos que há 2.000 anos bebiam vinho do Alentejo já sabiam, e se encontrará sobretudo nas uvas do sudoeste de França! Isto porque o estudo foi feito numa escola de medicina em Londres. Porque não fazem esses estudos em Évora e dão a conhecer ao mundo uma região de briol que não pede meças ao sudoeste francês?
Entretanto um tinto das castas Trincadeira e Tinta Caiada, sobretudo dali, das terras de Peramanca, aaahhh!, dão vida a qualquer gladiador que se preze nas suas gladiações pela luta diária em que a globalização nos meteu.
Ao vigorar o tratado de Methween, século XVIII, e ultrapassada a crise da Restauração, em que, nas alianças, foram sacrificados recursos, bens e possibilidades do enorme património oriundo da fase dos descobrimentos e das conquistas ultramarinas, Portugal entrava em período difícil.
O comércio de matérias prima brasileiras constituía a base dos recursos lusos. Eram as especiarias, o algodão, o fumo, o azeite de baleia e em particular o açúcar. Quase todos esses produtos entravam em declínio de preços nos mercados consumidores. Essa retracção de preços deve ter provocado reflexos na elaboração e na manutenção do Tratado de Methween. É possível presumir que se tenha procurado assegurar aos vinhos, produto metropolitano, uma primazia que os produtos coloniais vinham perdendo.
Foi quando, no Brasil, começou a acelerar o desenvolvimento da mineração. De características peculiares, que facilitavam a exploração e influíam de maneira acentuada nos resultados, o ouro brasileiro não exigia aparelhamento vultoso nem empate de capital de importância considerável para proporcionar lucros.
Daí a rapidez com que a arrancada aurífera se impôs, alterando, até certo ponto, a fisionomia da produção colonial e subvertendo o quadro da existência metropolitana. Essa arrancada não ocorreu de forma progressiva. Veio quase de súbito e alastrou seus efeitos de forma até então inédita. A lenda do ouro brasileiro correu o mundo. Os ataques à cidade do Rio de Janeiro em 1710 e 1711, pelos franceses sob comando de Duclerc e Duguay Trouin, mostram como eles viam esse esplendor estranho. Mostra de forma eloquente, como essa praça, escoadouro natural das minas, se apresentava, ao espírito dos homens da época, como extraordinário centro de riqueza.
René Duguay-Trouin (Saint Malo, 1673 - Paris, 1736)
Almirante francês que bem tentou ficar com o ouro brasileiro mas ...
A expansão mineradora na colónia foi acontecimento de importância universal. E não interessou apenas a aventureiros, aos reis de diversos países, a comerciantes e a homens de várias espécies. (...) Não há sobre o desenvolvimento do comércio, dos negócios, da riqueza, quem, referindo-se àquela etapa histórica, não lhe dê lugar de destaque. Mas a avaliação do importe global dessa riqueza extravasada para o mundo é que despertou controvérsias. Se ninguém duvida que tenha sido vultosa e que tenha acarretado transformações de indiscutível importância, não há acordo quanto ao montante aproximado do ouro extraído da colónia e lançado na circulação do mercado europeu, em particular o da Inglaterra. Em parte por deficiência de informação dos estudiosos, em parte pela sonegação sistemática de informações – ninguém foi capaz de fornecer estimativa razoável desse considerável volume de ouro, estimativa que fosse possível aceitar, sem dúvidas. Entre 1700 e 1770, a produção do Brasil foi praticamente igual a toda a produção do resto da América verificada entre 1493 e 1850; e alcançou cerca de 50% do que o resto do mundo produziu nos séculos XVI, XVII e XVIII.
O reinado de D. João V contrasta com o de seus antecessores. É o período das grandes obras e nas finanças do Estado reinava certo desafogo. O ouro dos tributos afluía em cada frota; e dentro em pouco o calhau diamantino ia aparecer, afogueando as imaginações na febre da riqueza. De 1730 em diante decorre o período áureo do reinado.
D. João V (Lisboa, 1689 - Lisboa, 1750)
... o rei de Portugal não abriu mão do ouro até o entregar a quem muito bem entendeu, os ingleses
Se para Portugal, os efeitos do ouro foram tais, já o mesmo não aconteceu à colónia, que do ouro pouco aproveitou em sentido imediato e directo. Aproveitou em consequência de outras razões, que se reflectiam na sua história: " A indústria mineradora no Brasil – escreve um historiador moderno – nunca foi além, na verdade, desta aventura passageira (...)".
Para compreender perfeitamente a função desempenhada pelo ouro do Brasil no desenvolvimento do processo histórico em curso, é necessário situar o auge aurífero no tempo. Mesmo aceites as estimativas mais exageradas ou as indicações de Humboldt,
£ 200.000.000, que parecem aproximar-se, tanto quanto podemos ajuizar, do montante exacto, o volume de ouro do Brasil, posto em confronto com aquele que, em outras procedências, em época posterior, invadiu o mundo, era bem reduzido. A importância não está no seu montante, mas na fase histórica em que apareceu. Para a época, esse montante era de valor indiscutível e o essencial é que nessa fase teve função de primeira ordem: impulsionar o desenvolvimento da revolução industrial inglesa. Arrimado nesse ouro, que enfraquecendo as moedas, valorizava os produtos e em particular os produtos acabados, o mercantilismo e o industrialismo impulsionaram a ascensão que se vinha processando e articularam em base suficientemente sólida o edifício a que o ouro africano, em fase posterior, daria acabamento. O essencial foi a conjugação entre as duas coisas. O verdadeiro aspecto do problema, habitualmente confundido, é que, qualquer que fosse a procedência do ouro, os efeitos seriam os mesmos – a sua tendência inevitável, seria gravitar, uma vez retirado da terra e lançado no mercado, em torno dos fornecedores dos bens de consumo.
É inegável que o ouro brasileiro não aproveitou ao Brasil, que aproveitou a Portugal de forma transitória e sem significação profunda, que transitou para o mercado inglês, que alicerçou a grande capitalização da fase posterior, mas não é verdade demonstrável que tudo isso tenha acontecido em consequência do Tratado de Methween. Não foi apenas o tratado de 1703, aliado com o início do auge aurífero, mera coincidência histórica, que possibilitou – embora seja admissível que a tenha facilitado – a transferência do ouro brasileiro para o mercado inglês, com trânsito através de Portugal. Se houvesse coincidência entre o aparecimento do tratado e o lançamento do ouro em circulação, a atracão exercida sobre o ouro pelo núcleo britânico de produção não foi fenómeno casual, mas contingência inerente ao desenvolvimento económico da época, situando-se (o núcleo britânico) como detentor de uma estrutura de produção moderna.
vO editor deste blog, dando seguimento a mais um dos inúmeros relatórios sobre a crise do SNS, lançou o repto que eu diria ulianoviano: Que fazer (agora que tudo parece ter sido já experimentado e que da fonte das ideias nem mais uma gota)?
vAceito o repto. E começo por dizer que o financiamento dos cuidados de saúde deixou de ter solução no dia em que a ciência e a tecnologia começaram a progredir a um ritmo cada vez mais vertiginoso. Num processo malthusiano, o custo dos cuidados de saúde que aquelas duas irmãs vão tornando possível cresce exponencialmente; os fundos disponíveis para os pagar, não tanto. Acrescente-se a isto dois factos que alargam sem parar o fosso entre custos e dinheiro disponível: (a) o envelhecimento da população (logo, maior procura de cuidados de saúde); (b) o aumento da lista dos cuidados de saúde que podem ser correntemente praticados (logo, maior oferta de actos médicos).
vO dilema continua a ser aquele que eu descrevi num artigo sobre precisamente este mesmo tema que veio a lume na revista “Economia Pura” de Setembro de 2003: quando desligar a máquina.
vTrês pontos, pelo menos, parecem-me essenciais: (a) a triagem dos pacientes que, hoje, se encaminham directamente para os hospitais; (b) a gestão integrada das tesourarias dos hospitais; (c) a segmentação dos actos médicos (e dos cuidados de saúde) financiados.
vA triagem dos utentes. Os hospitais são organizações caras, recheadas de equipamentos cada vez mais caros e formadas por profissionais especializados, logo bem pagos. O acesso à rede hospitalar deveria ser restringido aos pacientes que só aí podem ser capazmente tratados. O que é dizer, pacientes enviados por Centros de Saúde de proximidade (estes preparados para efectuar diagnósticos e prestar cuidados de saúde em regime de ambulatório, 24 x7x365, talvez em regime de rotatividade) e por paramédicos a operar a partir do Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA). O acesso directo aos hospitais não seria completamente vedado: quem quisesse poderia fazê-lo, sujeitando-se a pagar o respectivo custo se a situação não configurasse uma daquelas que determinariam o envio desse caso por um Centro de Saúde ou pelo SNA. Esta solução, aqui esquematicamente descrita tem, pelo menos, dois corolários: (a) a criação de uma rede de hospitais para doenças/recuperações prolongadas (caminho que as Misericórdias parecem estar a explorar); (b) a plena utilização dos equipamentos hospitalares existentes no território nacional, o que significaria, a possibilidade de um doente poder ser encaminhado (salvo se a tanto se opusesse formalmente, correndo os correspondentes riscos) para um hospital mais distante da sua residência (como dizia, há anos, um perito norteamericano nestes assuntos, o nosso problema não é de hospitais, é de estradas, por vezes fico com a ideia que o SNS é pensado para que os familiares dos pacientes internados possam fazer comodamente as suas visitas diárias).
vA gestão integrada das tesourarias. Os hospitais pagam mal (nem todos...). Pior do que isso, o SNS como um todo, não sabe como paga, quando paga, a quem paga e quanto paga – mas paga sempre. Nesta escuridão, como é fácil de imaginar, todos os esquemas são possíveis, todas as ineficiências passam despercebidas, todos os excessos de custos permanecem impunes. Para completar o quadro, cobram ainda pior (do doente particular às seguradoras, passando pelos regimes convencionados) – e ninguém parece preocupar-se com isso. Estou em crer que uma plataforma (virtual) de gestão das tesourarias (esquema corrente em qualquer multinacional que não queira soçobrar ao primeiro solavanco) obraria, não direi milagres, mas maravilhas em matéria de contenção da Factura de Saúde.
vSegmentação dos actos médicos. Actualmente, se uma pessoa sentir dores nos calos todos os dias, todos os dias vai passar um bocado do seu tempo ao hospital que lhe ficar mais a jeito – e todos os dias é atendida, observada, diagnosticada e, quem sabe, medicada, mas quase sempre acarinhada. A segmentação que tenho em mente garantiria a gratuitidade (para o paciente) dos actos médicos praticados, e dos cuidados de saúde prestados na rede hospital quando ele fosse enviado por Centro de Saúde ou pelo SNA. Para utilização dos Centros de Saúde, cada pessoa disporia do seu cartão (pessoal e intransmissível) com um plafond de créditos válido para um dado período de tempo (ano, trimestre) e renovável. Os plafonds de créditos poderiam, muito bem, ser atribuídos em função da idade e de outras características relevantes do respectivo portador (por exemplo: a doentes que padecessem de determinadas doenças poderiam ser atribuídos plafonds de créditos mais elevados, ou até ilimitados). Importante é que cada acto médico fosse efectivamente facturado - ainda que essa factura não fosse apresentada ao paciente para pagamento (mas sê-lo-ia, a ele ou à sua seguradora, uma vez ultrapassado o plafond de créditos).
vEstranhará o leitor, talvez, que eu não me tenha envolvido, desde logo, nas polémicas de público/privado e de prestador/financiador. Quanto ao primeiro destes dilemas, não direi mais que Deng Chauping disse: “que me importa a cor do gato; o que me interessa é que ele cace ratos”. Compete ao Governo vigiar se quem ele põe “a caçar ratos” neste território do SNS os caça, de facto.
vNa discussão entre Administração Pública prestadora e Administração Pública financiadora sou a favor desta última solução por uma pilha de razões que não vêm agora ao caso (ver, a propósito, o artigo que publiquei na revista Economia Pura, em Julho de 2003, “Liberalização, Privatizações e Regulação”). Mas não deixo de ter presente que a intermediação orçamental, quando o Governo cobra aqui uns impostos para pagar ali umas despesas, tem um custo – e esse custo tem de ser medido e ponderado, quer na fase de planeamento, quer na fase de execução. Sempre.
vEnfim, o erro crasso (em m/ opinião naturalmente) que este Governo tem vindo a cometer neste domínio. Esmagado por despesas que não consegue controlar, nem em valor absoluto, nem em ritmo de crescimento, tem ele avançado com soluções que ignoram uma das traves mestras de qualquer modelo de prestação de cuidados de saúde: a política do ordenamento (da ocupação) do território. Os nossos primeiros reis sabiam mais disto que o actual Governo.
De um relatório que me é enviado periodicamente extraio uma questão que julgo interessar a todos os residentes em Portugal:
« (…) A comissão que estuda modelos alternativos para financiar o Serviço Nacional de Saúde apresentou uma espécie de ponto de situação (…) [em 24 de Novembro de 2006]. (…) A ideia base dos peritos é simples. Como a economia não acompanha o ritmo de crescimento da despesa em Saúde, Portugal tem de fazer alguma coisa: aumentar os impostos, criar um imposto especial para a saúde, permitir aos cidadãos saírem do SNS, fomentar os seguros privados, enfim, há várias hipóteses em cima da mesa, nenhuma delas particularmente agradável para os cidadãos, porque aumenta os encargos. (…)»
Para além da questão muito provável de, como utentes, mais tarde ou mais cedo, todos virmos a necessitar de cuidados de saúde e até mesmo de hospitalizações, temos também tudo a ver com o reverso da medalha na nossa inultrapassável condição de contribuintes.
Seria interessante trocarmos impressões sobre este assunto e por isso pergunto o que se deve fazer. Para não facilitar a questão, sugiro que nos imaginemos na posição do Ministro da Saúde.
A recente noticia, veiculada com alarde em rede nacional, que cerca de 10% das crianças brasileiras estão com problemas de hipertensão, não é um fato desconhecido pelas autoridades em saúde e pela mídia. O stress, o estilo de vida e a alimentação são sem dúvida os grandes vilões da situação.
Já à época da guerra do Vietname, a necropsia dos corpos dos soldados americanos, mortos no Vietcong, na década de 60, mostrou que grande parte desses jovens apresentava alterações nas artérias, com depósito de placas de gorduras que diminuíam o calibre dos vasos.
O estilo norte-americano de viver, que após a segunda guerra mundial se tornou ícone para o mundo, mostrou cedo a sua face negativa. A Coca-Cola, xarope "aditivado" e gaseificado, pelos americanos idealizado (John S. Pemberton) e por todos apreciado, o consumo exagerado de produtos industrializados, ricos em gorduras e pobre em vitaminas, as facilidades de transportes populares motorizados, que tiram o homem do seu mais importante e elementar exercício, o andar, a descoberta da TV, que mantém as pessoas dentro de casa enfurnadas, a tecnologia doméstica que dá conforto e poupa a (o) dona (o) da casa dos mínimos esforços físicos, foram os primeiros passos para uma vida moderna, mais sedentária.
Há umas quatro décadas atrás era comum ver-se crianças brincarem de pique- esconde, amarelinha, chicotinho -queimado, bicicleta, bola-de-gude, à tarde, após as aulas, nos quintais e em frente às suas casas, esbanjando vitalidade, queimando energia. Guloseimas, refrigerantes e salgadinhos só esporadicamente eram consumidos nas festas de aniversário. Doces e pudins só depois do almoço ou jantar, como sobremesa, para não atrapalhar o apetite e a refeição, sempre baseada no arroz, feijão, salada e na carne (de vaca, frango e peixe), fontes de uma saudável alimentação. As frutas vinham como suco ou sobremesa, ou mesmo para acompanhar o prato principal. Com as mudanças e conquistas sociais femininas, onde a mulher passou a trabalhar fora, as crianças passaram a ficar em casa com as empregadas domésticas ou com algum familiar, sem ter actividades físicas para se exercitar. Nas classes sociais mais carentes, as crianças passaram a ficar por conta dos irmãos mais velhos, em creches ou até em casa trancadas, quando não ficavam nas ruas, sozinhas, liberadas.
O crescimento populacional, não sustentado, a paternidade irresponsável, o agravamento das desigualdades sociais levaram ao aumento desmesurado da violência urbana, que passou a aprisionar a infância das classes média e alta em casa e a da classe pobre a ficar nas calçadas, abandonada. A tecnologia domestica, a modificação alimentar, rica em fast-food, e o novo estilo de vida sedentário levaram as nossas crianças a problemas precoces de saúde, como a hipertensão e a obesidade, antigamente só vistos nas pessoas de mais idade.
"Leanor, pela verdura . . .
. . . vai formosa e não segura"
Enquanto soluções político-sociais mais efectivas e gerais não surgirem, procura-se nas dietas, nas academias de ginástica, nas inovadoras técnicas cirúrgicas e nos modernos medicamentos reverter os malefícios que, em certos aspectos, a civilização moderna nos trouxe.
Era uma vez... Não. Já não era a primeira vez. Lá, naquele reino do faz de conta, ainda os animais falavam, um dia, estes, que passavam mal, juntaram-se e, entre gritaria e ganância, escolheram um homem que fosse caçar para eles. O eleito chamou uma enorme quantidade de cachorros seus conhecidos que, em princípio, o ajudariam a caçar e depois distribuir os alimentos entre todos. Três vezes por dia. Os animais aplaudiram aguardando a felicidade que aquele maná lhes poderia proporcionar.
Lá foram, caçador e sua imensa matilha. Não tardou o desengano. Os cachorros em vez de retornarem com a caça para a distribuir por todos, comiam tudo que aparecia, e como era muita, a caça, guardavam-na para reserva própria e de outros cachorros amigos. Vestido de pijama de seda na sua carruagem de abóbora, o caçador não via nada.
Os animais esperaram, esperaram, e como também não viam aparecer a comida prometida, decidiram que aqueles cachorros não podiam voltar a caçar.
O caçador, vestido de seda, informou que não tinha visto os seus cachorros comerem durante a caçada, porque, vestido de seda e dentro da sua abóbora, nenhuma informação lhe chegava. Os animais é que viam, nitidamente, aquela cachorrada com o sangue na boca e os dentes e os pelos do focinho ainda carregados de sangue e carne.
A pradaria está cheia de . . .
. . . mabecos predadores
Resolveram dar outra oportunidade ao caçador. Que voltasse a caçar. Mas que abrisse os olhos e levasse outros cachorros! Os cachorros conhecidos, todos comprometidos não podiam voltar a participar. Havia que escolher outros. Aqui o problema encrencou. Enquanto os animais continuam à espera da prometida comida, três vezes ao dia, o caçador... está no mato sem cachorro!
Os ídolos ou os heróis de um povo podem ser grandes vilões para outro, como foram os generais romanos para os povos derrotados, Átila para os godos, Napoleão para os ingleses, Pizarro para os mexicanos, Caxias e Tamandaré para os paraguaios e tantos e tantos outros, talvez todos aqueles que ficaram na História como heróis.
No post 25 de Abril em Portugal até o Vasco da Gama quase virou um famigerado bandido pela dureza com que puniu ladrões e outros que lhe eram adversos, e assim se vai desconstruindo a História, a cultura, a base e orgulho, de uma Nação.
Quando um ignorante se levanta e começa a bramar contra actos mais ou menos condenáveis cometidos por esses heróis de há uns quantos séculos, até há pouco tempo o máximo que lhe podia acontecer era ser trancafiado num manicômio até a «doença» lhe passar. Hoje não. Há o que eufemisticamente se chama de «direitos humanos»! O ignorante, o revoltado, o frustrado, começa a bramar contra os heróis que ajudaram a construir o seu país, que o alimenta, junta mais uns quantos idiotas e vão para as ruas com cartazes ameaçar a consciência e a paz das pessoas normais!
Tiradentes - não faltará muito para que o equiparem a alguma . . . prótese dentária
E não fica a agressividade desses anormais só pelos heróis militares. Vão buscar qualquer figura da História, encontrando sempre algo que a possa denegrir. Mesmo que seja mentira.
Causou-me profunda impressão ouvir no noticiário de França que, por medo de eventuais perturbações da ordem pública, indo na contramão do que sempre se fez, não foram este ano festejados os aniversários de Napoleão, que descansa envenenado no Invalides, num sumptuoso sarcófago de granito, e, pasmem, ó gentes, o de Corneille!!! Um dos maiores gênios do teatro francês, que tem o melhor teatro do mundo, também não foi festejado com a tradicional exibição de umas quantas peças clássicas, para evitar confrontos com grupos que decidiram classificar o grande mestre de... De quê mesmo?
A França é um país que admiro profundamente, talvez com exceção dos motoristas de táxi de Paris que sempre aproveitam para nos meter a mão nos bolsos, mas fico perplexo ao tomar conhecimento destas notícias.
Será que a França se acovardou? Não dá para acreditar! O país da sensacional Resistance durante a II Guerra Mundial, assustar-se agora porque uns quantos mentecaptos decidiram que Napoleão era igual a Hitler e Corneille protegido de um rei absoluto?
Onde vamos parar? Por este andar não admira que Le Pen acabe por ser eleito! Foi assim que a Alemanha elegeu Hitler! Cutucou nos brios do povo. Na sua cultura e tradição. Enalteceu os seus heróis. Tudo estava a ser espezinhado e denegrido pelos vencedores da I Guerra. Hilter se já não era muito bom da cabeça, depois endoidou! É assim que surgem os ditadores: do caos, da desmoralização do povo. Stalin, Mão Tse Tung, Mussolini, Franco e Salazar e agora os novos sul americanos, seguindo com rigor as pisadas de todos estes, apoiados no velho e podre Fidel.
Por estas bandas brasis acontece o mesmo. Quase tudo quanto os construtores deste país fizeram acabou por se tornar uma herança maldita.
Imaginem se fossemos todos uns «bem aventurados sem qualquer herança»! Pobres. Como o Darfur. Não estamos muito longe disso. Festejamos como heróis um pobre diabo a quem estupidamente cortaram o pescoço para assustar a elite liberal, e um herói mítico que não se sabe bem se morreu, se teve o pescoço cortado, mas que tem feito um magnífico serviço aos políticos fala barato!
Heróis, escritores, cientistas e outros que per obras valerosas se vão da morte libertando... são simplesmente ignorados, desconhecidos ou, na modernidade, muitos deles contestados.