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A bem da Nação

LUZIDA FRAGATA

 

Luzida fragata a que naquela segunda feira, 27 de Março de 1684, subiu a barra do rio Praya, acesso principal ao Reino do Sião.

 

“Nossa Senhora do Rosário” se chamava a fragata e nela se fazia transportar o seu proprietário, Pero Vaz de Siqueira, grande armador de Macau e Senhor nos mares da China, a quem o Vice-rei da Índia, D. Francisco de Távora, enviava como Embaixador de D. Pedro II, rei de Portugal, ao rei Phra Narai do Sião.

 

“Depois que o Senhor Embaixador recebeo as ordens para fazer trez Embaixadas aos Reynos de Sião, Cauchinchina e Camboja, não poz a consideração nas grandes despezas que se lhe offerecião de sua fazenda para o serviço de Sua Alteza porque para este dezejou sempre ter muito pello grande zelo que nelle morou sempre de leal vassalo, mas considerou que para conseguir as ditas Embaixadas lhe era necessário grande lustro e apparato assim de gente como de ornatos porque os Reys destas partes não estimão os Embaixadores que a seus Reynos vão, tanto pela calidade das pessoas quanto pello apparato com que entrão em seus Reynos   ( … )”

 

Depois de 60 anos de governação filipina e das batalhas de Montijo (1644), Linhas de Elvas (1659), Ameixial (1663), Castelo Rodrigo (1664) e Montes Claros (1665) pela restauração da soberania nacional, estava o reino em tão grandes dificuldades financeiras que o Vedor da Fazenda, D. Luís de Meneses, 3º Conde da Ericeira, acabaria por se suicidar.

 

É assim bem de ver por que tanto fausto na Embaixada ao rei do Sião teria que correr pelo financiamento privado do próprio Embaixador.

 

E como podia então um Embaixador financiar tão luzidas missões de Estado?

 

Pero Vaz de Siqueira era natural de Macau, fidalgo-cavaleiro, participou de 1644 a 1647 na Embaixada que seu pai chefiou ao Japão com o objectivo de tentar reabrir o comércio japonês que acabara em 1639 com a expulsão dos portugueses, em benefício do exclusivo holandês. Depois de participar na reconquista de várias praças na Índia, regressou a Macau no início da década de 1670 onde casou rico e se tornou armador e comerciante entre Macau, Bornéu, Timor, Java e Sião explorando, sem lhe dar esse nome, as vantagens comparativas dos diferentes produtos no comércio internacional. Pena foi que seu pai não tivesse conseguido demover o Xógum Tokugawa Iemitsu a reabrir aos portugueses o tráfego da prata japonesa para a China e das sedas chinesas para o Japão. Paciência; se não se conseguia chegar directamente ao Japão, havia que tentar um intermediário e esse poderia muito bem ser o Sião, reino amigo tanto do Japão como de Portugal. E se a Coroa não tinha cabedais que lhe permitissem o desempenho condigno das missões de Estado, nada mais conveniente do que mobilizar a vontade particular de quem comerciava sob alvará régio amealhando lautos bens de fortuna podendo vir a ter interesse directo no pródigo mas bom termo diplomático de tão prodigioso trato.

 

Mas se em Portugal a restauração se fez contra os espanhóis, lá por fora, no que restava do Império, houve que enfrentar espanhóis, holandeses e franceses que tudo nos queriam abocanhar. E se no Japão, Malaca, Sri Lanka e Macaçar tivemos que defrontar os interesses holandeses, no Sião tínhamos os Bispos franceses que, ao abrigo das determinações de Urbano VIII, ali derrotaram o Padroado Português, cativaram aquele grego a que nós chamávamos Constantino Falcão que desempenhava o cargo de Governador em nome do rei Phra Narai e assim impediram a entrada do Sião como intermediário de Portugal no negócio com o Japão. E porquê? Porque naquela época tudo o que no Oriente fosse bom para Portugal era mau para as outras nações europeias. Eis como a Guerra da nossa Restauração foi bem mais ampla do que aquilo que os compêndios de História referem.

 

E não contentes com o imbróglio político, houve também a questão religiosa pois era a partir de Macau que o Padroado Português exercia a sua acção na China, Japão, Sudoeste Asiático, Tonquim, Cochinchina, Hainan e Camboja mas sempre em confronto com o Padroado da Coroa Espanhola situado nas Filipinas e que daquela região queria afincadamente expulsar qualquer influência portuguesa. Assim foi que Jesuítas e Franciscanos – os prosélitos do Deus infinitamente bom e do perdão – optaram por Macau e, portanto, por Portugal enquanto Agostinhos e Dominicanos – os do Deus castigador – se resguardaram nas Filipinas ao abrigo de Espanha. E como aquilo que na Europa é verdade, na Ásia pode não ser, eis como no Sião os franceses se encarregaram de facilitar a vida aos espanhóis, seus arqui-inimigos no Velho Continente, dificultando a diplomacia portuguesa. Mais: em 1686 os siameses não ajudaram Portugal, no ano seguinte os franceses mandaram um contingente militar e assumiram o quase monopólio das relações do Sião com o exterior mas em 1688 o rei Narai adoeceu, Constantino Falcão foi passado pelas armas e os franceses expulsos. Portugal viu confirmados os seus créditos no Sião, não conseguiu voltar a comerciar com o Japão e optou durante mais alguns séculos pelas lutas contra piratas, tufões e tsunamis nos imensos mares do sul.

 

E por aí navegou a seu bel-prazer em lauto comércio entre as praças que tanto prezava para benefício próprio e de locais, sempre com o dedo no gatilho e de olho posto na cobiça de quem construía menos conventos do que Universidades.

 

Quando o último português regressava à pátria lambendo as feridas do Império perdido no Largo do Carmo, sobrevoou a antiga fortaleza de Nossa Senhora dos Milagres no Cabo de Jafanapatão e à sua frente viu o Sol pôr-se em terra por trás de Madurai e Pondicherry.

 

Lisboa, Março de 2006

 

Henrique Salles da Fonseca

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

“A EMBAIXADA AO SIÃO DE PERO VAZ DE SIQUEIRA (1684-1686) ”

Autora: Leonor de Seabra, Leitora de Português na Universidade de Macau

Editores: Instituto Português do Oriente e Fundação Oriente

1ª Edição: Macau, Dezembro de 2004

Talvez agora em inglês se oiça...

 

v      O Diário Económico, na edição de 29/03/06, deu especial destaque ao que um consultor da Comissão Europeia, irlandês por sinal (A. Ahearne, do Bruegel, um centro de estudos europeu), pensa sobre a camisa de onze varas onde nós, portugueses, nos metemos – e que, bem vistas as coisas, talhámos por nossas próprias mãos.

v      Segundo o entrevistado: (i) existe demasiada dívida portuguesa na posse de investidores europeus (cerca de € 70 mil milhões); (ii) a entrada de Portugal na zona-euro deu lugar, internamente, a uma “bolha” de crédito bancário que as autoridades nacionais não souberam prever, muito menos conter e esvaziar a tempo; (iii) ajustar as contas públicas e o endividamento das famílias vai ser difícil e demorado; (iv) enquanto estes processos de ajustamento durarem, a economia portuguesa não terá condições para crescer significativamente; (v) na origem destes desequilíbrios, que ameaçam a estabilidade da própria zona-euro, estão aumentos de preços e salários excessivos e completamente desalinhados com o que se passa nas grandes economias europeias.

v      Nem Ahearne, nem o estudo que o trouxe para a ribalta (“The Euro: only for the agile”), parecem identificar o fio condutor de tudo isto, dos aumentos de preços e salários à bolha de crédito, da dívida externa do país ao diferencial de inflação, do desequilíbrio interno (deficites primários no OE em crescendo) ao desequilíbrio externo (deficites na BTC ainda mais acentuados). E também lhes escapou que aqueles números correspondem, apenas, à dívida soberana, faltando somar ainda a dívida externa dos bancos nacionais (a dívida externa de empresas e famílias ainda tem pouca expressão).

v      Apesar de assinalar evidentes falhas na regulação e supervisão do sistema bancário português, lê-se-lhe nas entrelinhas que Portugal, ao integrar a zona-euro, ficou despojado do instrumento cambial (o que é certo) e impedido de conduzir uma política monetária autónoma (o que está longe de ser verdadeiro). Sobre a causalidade, eminentemente bancária, da situação em que nos encontramos, só a tal referência à “bolha” de crédito, e nada mais. Muito custa a desenraizar o mito da neutralidade da moeda, et pour cause, da actividade bancária!

v      São, porém, as declarações colhidas pelo jornal junto de Miguel Beleza (MB) e de João Ferreira do Amaral (JFA) que vêm lançar luz sobre o porquê deste nosso malfadado destino.

v      No essencial, MB afirma que: (i) antes da adesão à moeda única já se sabia que o crédito bancário e endividamento das famílias iriam disparar; (ii) o BdP poderia ter aplicado regras mais apertadas, mas se os bancos nacionais não emprestassem, emprestariam os bancos estrangeiros; (iii) o mau desempenho da economia está directamente relacionado com erros na política económica, em geral, e da política orçamental, em particular.

v      Mas, se se previa que as famílias iriam acorrer aos bancos para se endividarem, e se ninguém ignorava a apetência dos portugueses por bens importados, porque não se previram também os efeitos na BTC desse surto de procura interna que a previsível queda nas taxas de juro não deixaria de estimular?

v      E que ideia fazia o BdP sobre a suficiência (ou insuficiência) dos capitais próprios da banca portuguesa perante esse surto na procura de crédito bancário que já então se dava por certo?

v      E como pensavam as autoridades nacionais financiar os previstos deficites na BTC? Em particular, que programava o BdP para a Balança de Capitais Monetários (isto é, os movimentos puramente financeiros entre bancos residentes e não residentes), peça essencial no seio de uma união monetária?

v      Por outro lado, é ingénuo presumir que aí estariam os bancos estrangeiros para aproveitarem o que os bancos portugueses, distraídos ou desinteressados, não pegassem. Por várias razões: (i) a barreira cambial (que está, por certo, no pensamento de MB) é, sem dúvida, um obstáculo de monta, mas não é o único a tolher os movimentos transfronteiriços de fundos, ou a actividade dos bancos fora dos seus países de origem; (ii) os bancos, em todas as latitudes, são extremamente sensíveis aos custos de transacção e, por isso, só se estabelecem num país estrangeiro quando estimam que a dimensão desse mercado, ou o diferencial de oportunidades que aí vão encontrar, compensam; (iii) cada vez mais os bancos sensatos são sensíveis ao risco (risco de crédito, risco de mercado e riscos operacionais) - e sabem bem que, seja por razões prudenciais, seja pela simples força da peers’ review, têm de manter os seus capitais próprios em linha com o perfil do risco a que se encontrem expostos.

v      Ora: (i) no contexto da zona-euro, a dimensão do nosso mercado financeiro, seja ela medida em número de clientes, em valor ou em sofisticação, é insignificante; (ii) a partir do momento em passássemos a integrar uma união monetária, as taxas de juro aqui praticadas nunca se afastariam muito daquelas que prevalecessem nos restantes países membros, e se se afastassem, seria só para melhor reflectirem custos de transacção e/ou riscos - pelo que, por aqui, oportunidades, oportunidades, muitas não haveria; (iii) sabe-se ainda pouco sobre os efeitos que a adesão a uma união monetária induz no risco de crédito do país aderente, mas estou certo que, já em 1999, ninguém lá fora tinha dúvidas de que nós, por cá, que nunca fomos de pagar bem, íamos mal, e logo chegariam os dias em que pagaríamos pior.

v      Aos bancos estrangeiros ofereciam-se, então, cinco alternativas: (i) abrir por aqui filiais, correndo por inteiro o risco da economia portuguesa; (ii) pescar à linha na nata das empresas portuguesas, ou em algum nicho do mercado; (iii) acompanhar por cá empresas que eram já suas clientes noutras paragens; (iv) expor-se ao risco médio do nosso país por via indirecta, investindo na dívida pública portuguesa ou nas operações de titularização de activos financeiros domiciliados em Portugal; (v) prestar serviços vários directamente aos bancos nacionais. Excepção feita a alguns bancos espanhóis, que adoptaram claramente aquela primeira alternativa por razões óbvias, poucos têm sido os bancos estrangeiros a demonstrar interesse no nosso mercado, e os que o fazem tendem a seguir as duas últimas vias. A possibilidade de o nosso mercado ser invadido nunca existiu, dado serem fracas as perspectivas de benefício/custo e ser relativamente elevado o risco.

v      Diz MB que o que falhou foi a política económica, designadamente a política orçamental. Sem dúvida que a governação do país falhou a partir do momento em que aderimos à CEE. Mas, desde 1997 (quando a entrada de Portugal na zona-euro era um dado adquirido), a execução orçamental tem sido favorecida precisamente por aquilo que nos ia arrastando para o desastre. Refiro-me á “bolha” do crédito bancário que, ao tornar possível a expansão acelerada da procura interna, aumentava simultaneamente as receitas fiscais – já que, entre nós, uma larga fatia da base tributável está intimamente ligada à despesa. Como nos habituámos a olhar para o deficit do OE e não para o peso das despesas públicas, essa foi (e é), na verdade, a falha da política orçamental.

v      Pior ainda. A “bolha” do crédito bancário, quando não se convertia em deficites da BTC, encaminhava-se, quase integralmente, para o sector dos bens não transaccionáveis (construção, serviços de vizinhança, distribuição de bens importados, funcionalismo público). Acontece que, entre nós, é este o sector dominante no mercado do trabalho, pelo que tem sido ele, sobreaquecido pelo crédito bancário, a marcar o aumento dos Custos Unitários do Trabalho, do diferencial da inflação e do câmbio real. Com o aplauso de todos, este anel vicioso tem vindo a asfixiar o sector dos bens transaccionáveis, à medida que os bancos nacionais se endividam mais e mais no exterior (mas sobre isto, já escrevi).

v      JFA, por seu turno, defende a saída de Portugal da zona-euro, porque, para ele, a adesão foi prematura e precipitada. Insiste também em diversos aspectos teóricos, muito interessantes mas que não vêm ao caso (como sejam as condições necessária a uma zona monetária óptima à Mundell). Agora dar como prova do insucesso do euro a volatilidade da taxa de câmbio €/USD é que não lembra ao diabo (tal como nos matrimónios, também no mercado cambial, quando as coisas não correm bem, as culpas raramente cabem a um só).

v      Certamente JFA (tal como Ahearne) desconhece o nível do endividamento monetário externo (isto é, junto de bancos não residentes) da banca nacional, e ainda não interiorizou que já está em vigor o Novo Acordo de Basileia, com as suas regras em matéria de gestão do risco e adequação de capital.

v      Nem deverá ter reflectido bem nas crises bancárias do Chile (1980), dos Tigres Asiáticos (1997/1998) ou da Argentina (2001/2002) – e nas convulsões sociais que as acompanharam.

v      Porque se tivesse, veria que Portugal está maduro para uma crise semelhante, e só a pertença à zona-euro (que, é certo, tornou possível a “bolha” de crédito bancário) tem impedido que tal suceda.

v      Do BdP, durante o processo de integração numa união monetária, esperava-se: (i) que controlasse o endividamento monetário externo dos bancos nacionais; (ii) que não tolerasse baixos níveis de capitalização, agindo de imediato e com firmeza; (iii) que vigiasse para que os bancos reflectissem no pricing das suas operações de crédito bancário o risco a que ficavam expostos, penalizando os que não o fizessem com maiores exigências de capital. Não o fez. Vamos perder todos.

v      Foi isto que faltou dizer ao Prof. Ahearne.

 

Lisboa, Março de 2006

 

A.Palhinha Machado

Operacionalizar-mos ?


 
 
 
«Há um provérbio húngaro que diz: "É por sua língua que um país vive". É muitas vezes num certo culto da língua nacional e de vários outros elementos do patrimônio nacional e do folclore que a consciência patriótica vai buscar as razões da sua sobrevivência e de sua grandeza. » (Correio da Unesco, Maiode 1986, pág.23).
 
De muitos pensadores saem outras verdades que os milênios de vida do homem
tem confirmado serem verdades básicas, tais como "povo que perde ou renuncia
às suas raízes está condenado a perder a sua identidade."
 
Aqui no Brasil estes pensamentos e estas verdades parecem, muitas vezes estar invertidas, o que não é muito para admirar visto estarmos no hemisfério sul, sempre representado na parte inferior do globo, sem que ninguém saiba qual a parte deste que está por cima. Mas enfim.
 
Na Tv brasileira passam filmes legendados com um linguajar ou escrevinhar do
tipo "vc ax bm q ç pass?" - Traduzindo: Você acha bem o que se passa?
 
Qual a intenção da emissora de Tv? Destruir o patrimônio nacional que é a nossa língua? E porque o ministério da cultura não interfere? Liberdade jornalística? Ou... incapacidade e quem sabe se cumplicidade?
 
Há dias um hotel de 5 estrelas mandou um orçamento para um jantar, caríssimo, que tinha algumas preciosidades semânticas: começava por oferecer um Jantar privativo empratado!  Jantar empratado! Uma delícia! E por fim, depois de apresentar um cardápio caricato, com termos franceses e ingleses, quase todos mal escritos, pede uma resposta rápida para "operacionalizar-mos o pedido"!  Fiquei imaginando o pessoal do hotel: uns a operacionalizarem-se com o pedido e os cozinheiros a empratarem a comida do hóspedes.
 
Não chega a ser uma vergonha. É uma tristeza.
 
Mas como não há-de ser assim se até um indivíduo que encontrei não faz muito
tempo, de sobrenome Silva, afirma a pés juntos que não é descendente de
portugueses, mas sim de celtas! Logo de celtas! Ninguém sabe como ele terá
montado a sua árvore genealógica para chegar a tão longínquas raízes, mas... em vez de árvore não será "um molho de capim genealógico"... para burros?
 
Empratando a operacionalização, quem sabe se algum dia se vai ensinar melhor
nas escolas, sobretudo nas oficiais! U q vc ax?
 
 
 
Rio de Janeiro, 30 de Março de 2006
 
Francisco Gomes de Amorim

"Uma segunda opinião"

Novo livro do Seixas da Costa: “Uma segunda opinião”.

Seixas da Costa escreve muito bem e é um bem intencionado. A sua ideia é que o multilateralismo é uma espécie de panaceia diplomática: aplica-se a todas as situações, resolve todos os problemas. Esquece-se porém que, no caso do Iraque, o multilateralismo tornou o problema diplomaticamente insolúvel. O multilateralismo deu à França o veto e esta não teve pejo de o negociar por debaixo da mesa com Saddam Hussein. A partir desse momento, o ataque americano tornou-se inevitável.

 

Ideia louvável parece-me a sua de criar os Institutos regionais. Ele só fala no Europeu;  eu falaria do Africano. Importante corrigir o erro que está na origem do ISCSP: - destruiu-se um Instituto com vocação para os  estudos africanos  do melhor que havia na Europa  no género para dar lugar a  um Instituto de Ciências Políticas como muitos outros que há por essa Europa. O mais curioso é que esta transformação foi operada em plena ditadura colonialista!

 

Estoril, 30 de Março de 2006 

 

Luís Soares de Oliveira

PELA ROTA DA ÍNDIA

 

 

Pela rota de Índia se foi fazendo Portugal e disso é prova que foi com os dinheiros realizados na Europa com mercadorias exóticas, tais como o açúcar madeirense, que se financiou o início da construção em Lisboa do Hospital de Todos os Santos. Corria o ano de 1498.

 

Mas foi bem antes disso, em 1430, que os monges da Ordem da Trindade se instalaram definitivamente em Tavira ali construindo o Hospital do Espírito Santo para apoio aos navegantes e combatentes no norte de África. De tal modo a sua acção se destinava a apoiar os agentes da conquista que há quem considere este o primeiro hospital do ultramar português.

 

Dará para imaginar no que nessas épocas remotas consistiam os hospitais e que medicina neles se praticava?

 

Fossem quais fossem, eram os tratamentos que à época se conheciam mas a higiene devia ser bem duvidosa. Normalmente, aproveitavam-se umas casas que estivessem livres e de que o Alcaide ou Governador militar pudessem dispor nelas autorizando a entrada de doentes que se recolhiam a montes de trapos a que chamavam enxerga. Era sobre esses trapos que se derramavam os humores sempre fétidos só que alguns purulentos e outros apenas orgânicos. Dá para imaginar . . .

 

Quem desses doentes tratava eram religiosos que tudo faziam por amor a Deus pois outro sentimento não poderá ser invocado no meio de tanta pústula, escara, febre e gemido. Era pois necessário que os religiosos seguissem os mareantes. Sobretudo a partir do momento em que pelo ano de 1434 Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador e em que a evacuação de doentes para Portugal deixava de ser possível sem acrescidos riscos na sobrevivência do infeliz. A expansão da Fé passou a ser anunciada como um objectivo das descobertas portuguesas mas não restam muitas dúvidas de que só assim é que se conseguiria convencer a Igreja a acompanhar esses meio azougados aventureiros que estavam certamente muito mais interessados no ouro da Mina e nos curativos hospitalares do que na piedade inspirada no crucifixo.

 

Apesar da relativa proximidade, em 1486 foi instalado em Safim um local de acolhimento dos doentes enquanto não eram evacuados para Tavira. Acabou este local por desempenhar as funções de verdadeiro hospital pois chegou a ter físico, cirurgião e boticário. A terra era pobre naquelas paragens mas o mar, esse, era pródigo em pescarias e era nessa faina que os portugueses lá andavam por longos períodos. O pretexto para se instalar este hospital foi o do apoio aos nossos pescadores mas acabou por servir toda a população indígena que muito beneficiou com a situação. Datam de muito mais tarde, 1516, os hospitais de Tânger e Arzila e é incerta no tempo a fundação do Hospital de Santa Cruz do Cabo de Gué, hoje Agadir, que foi praça portuguesa entre 1505 e 1541.

 

Mas se a rota do Algarve d’além-mar (Marrocos) para Portugal se fazia em linha recta e o porto de chegada era algures no Algarve d’aquém-mar, quando a origem da viagem era a sul do Cabo Bojador, a rota era circular zarpando as caravelas para o mar alto rumo à Madeira e Açores, daí tomando o nascente até Lisboa. Eis a razão pela qual foi necessário edificar em Lisboa o Hospital de Todos os Santos e não mais no sul do reino. Só que o hospital de Lisboa nunca foi considerado afecto ao ultramar pois atendia sobretudo às populações residentes na cidade e cercanias.

 

O mais antigo hospital situado além do Bojador foi mandado erigir em 1497 pelo Rei D. Manuel na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, a que se seguiu o de S. Jorge da Mina (actual Gana) em 1498. Foi ainda o Rei D. Manuel que em 1504 mandou instalar o hospital em S. Tomé para apoio aos mareantes que demandavam o Manikongo mas que acabou por se destinar sobretudo às populações residentes em clima tão inóspito como aquele que hoje sabemos ser sobretudo palustre.

 

. . . e assim foi que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas.

 

Chegados ao Índico, havia que prover aos cuidados nessa banda já tão longínqua e nada menos do que dois hospitais foram instalados em 1505 em Sofala e Quilôa e o da Ilha de Moçambique em 1507. Foi este último que passou a assumir a liderança no sistema de saúde português na costa oriental de África dadas as condições de salubridade do local e a afabilidade dos povos indígenas.

 

Mas a navegação no Atlântico sul deixou em 1500 de se fazer ao longo da costa africana passando a fazer-se pelo recém-descoberto Brasil com aproveitamento total dos alísios e evitando as calmarias namibianas. Eis como se tornou necessário e possível instalar um hospital na resguardada Bahia de Todos os Santos. Contando com o de Tavira, foi este o 9º na sucessão.

 

Data de 1511 a instalação do hospital em Melinde, não longe de Zanzibar, onde os portugueses largavam habitualmente a navegação costeira para se fazerem à travessia do Índico rumo a Chaul, já na costa do Malabar.

 

A amizade estabelecida por Vasco da Gama com o Rei de Cochim facilitou a instalação naquele porto em 1505 do mais antigo hospital português naquela costa, a que se seguiu em 1506 o de Cananor. São incertas as datas em que se edificaram os hospitais em Goa e Baçaim mas em 1512 Afonso de Albuquerque vê-se obrigado a expulsar os falsos doentes que se recolhiam em mendicidade no hospital de Goa e por carta datada de 31 de Outubro de 1548 da Misericórdia de Baçaim se ficou a saber que “(…) porque serteficamos a Vossa Alteza, que o ano em que sercarão Dio (1546), forão tantas as necessidades desta terra de feridos e doentes e pobres, que a elle della vyeram que nem ho espritall, nem a misericordia, nem o capitão nem outras nenhumas pessoas erão poderosas pera os agasalhar, nem curar, nem respairar, como hera necessaryo, se não forão os moradores desta terra que, ainda que são pobres, vendo quanto compria ao serviço de Deus e de Vossa Alteza, faziãm de suas casas espritais, e gastavão o seu, e davam muita conssolação dos ferydos e doentes que de Dio vynhão, que herão muytos”.

 

Assim contamos 17 hospitais entre Tavira e Baçaim. Ficam por contar os que se instalaram para lá da Índia. Mas disso tratarei alhures quando o Sol cair em terra e se puser por trás de Madurai e Pondicherry.

 

Lisboa, 28 de Março de 2006

 

Henrique Salles da Fonseca

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

“ARMADAS PORTUGUESAS – apoio sanitário na época dos Descobrimentos”

Autor: Médico Capitão-de-mar-e-guerra José de Vasconcellos e Menezes

Editor: Academia de Marinha, Lisboa, 1987

DIZ-ME COM QUEM OPAS . . . OU A NATUREZA DO ESCORPIÃO

 

 

Amigos meus, talvez perplexos com os comentários absolutamente délficos dos nossos analistas, perguntam-me o que penso eu da OPA que o BCP diz ir lançar sobre o BPI. Esquematicamente, penso isto (baseado nas demonstrações financeiras de 2004):

v      Para o que aqui interessa, o BCP é um banco: (i) fortemente endividado junto de bancos estrangeiros; (ii) cuja taxa de incumprimento no crédito bancário, ano após ano, fica bem acima do que se considera razoável para a banca de retalho; (iii) que não consegue (mas será que quer?) repercutir no pricing das suas operações de crédito bancário os riscos a que se expõe; (iv) cujas provisões para o risco de crédito se encontram muito aquém da perda esperada na carteira de crédito bancário; (v) com uma estrutura (medida pelo rácio cost-to-income) bastante pesada pelos padrões internacionais - e que tende a crescer mais rapidamente do que a margem operacional; (vi) que depende quase sempre dos proveitos não-recorrentes (isto é, extraordinários) para compor os resultados de exercício; (vii) com um balanço pouco líquido e pequeno demais para licitar regularmente nos leilões de liquidez primária do BCE; (viii) que não conseguiu ainda reintegrar o goodwill das anteriores aquisições - pelo que as diferenças de consolidação continuam a absorver uma fatia apreciável dos seus capitais próprios; (ix) e que, se não corrigir o rumo, terá de proceder a mais um aumento de capital antes de 2008, mesmo que esta OPA não vá por diante.

v      Por sua vez, o BPI: (i) está também muito endividado junto de bancos estrangeiros, mas o seu endividamento concentra-se num número muito reduzido de contrapartes; (ii) privilegia os empréstimos hipotecários residenciais, o que imprime grande rigidez ao balanço (prazo médio muito dilatado, baixa rotação); (iii) regista taxas de incumprimento no crédito bancário mais em linha com o que se passa internacionalmente na banca de retalho, mas, atendendo aos picos de incumprimento típicos nas hipotecas residenciais, é de prever que o risco de crédito a que está, de facto, exposto se agrave significativamente nos próximos anos; (iv) porque joga forte num segmento de mercado muito competitivo (o dos créditos bancários residenciais), tem de praticar spreads que, provavelmente, não darão para cobrir os riscos que aí encontra (tudo vai, porém, do modo como evoluírem os preços do imobiliário, cá dentro); (v) regista provisões para riscos de crédito insuficientes, tendo em conta a perda esperada na carteira de crédito bancário; (vi) possui também uma estrutura empolada, mas relativamente estabilizada; (vii) apresenta, por norma, resultados correntes positivos, o que indicia solidez na construção dos resultados de exercício; (viii) sendo o mais pequeno entre os cinco maiores bancos portugueses, também não consegue aceder directamente ao mercado de repos do BCE; (viii) especialmente sensível ao ciclo económico e às conjunturas do desemprego, por força do peso que os créditos de muito longo prazo a particulares têm no seu balanço, não deverá passar sem uma nova chamada de capital se a economia portuguesa tardar em recuperar.

v      Estes bancos encontram-se mal preparados para o quadro prudencial que o Novo Acordo de Basileia (Basileia 2) veio instituir: (i) novas regras contabilísticas vão obrigá-los a recalcular os capitais próprios, entre 2005 e 2007; (ii) as posições interbancárias credoras contam já para o cálculo do capital regulamentar (o que não acontecia antes de 2005); (iii) caberá, simultaneamente, ao mercado e às autoridades de supervisão ajuizar sobre o risco a que eles, como qualquer outro banco, se encontrem expostos e, bem assim, sobre a suficiência do capital que estiver afecto a esse risco; (iv) ambos terão dificuldades em demonstrar, já às autoridades de supervisão, já aos seus contrapartes no mercado, o perfil do risco nos respectivos balanços - balanços que são constituídos, quase na íntegra, por posições desprovidas de notação (rating).

v      Se a OPA for uma realidade, tudo se somará num primeiro momento, excepto: (i) os capitais próprios, que continuarão a ser aqueles que o BCP possuir, mas agora corrigidos do goodwill que a operação implicar; (ii) as posições cruzadas (isto é, os créditos recíprocos) nos mercados interbancários, que se extinguirão por compensação; (iii) as aplicações que o BCP tiver em valores representativos de dívida ou de capital emitidos pelo BPI, que igualmente se extinguirão.

v      Somar-se-ão: (i) o endividamento monetário (isto é, os passivos negociados nos mercados interbancários) doméstico e no exterior; (ii) a carteira de crédito bancário e todas as demais carteiras que compõem os balanços envolvidos; (iii) as restantes parcelas do activo e do passivo de um e de outro banco; (iv) os respectivos quadros de pessoal (embora, num segundo momento, possa haver lugar a despedimentos).

v      Dois problemas se avolumam, desde logo: (i) a preservação das “linhas de financiamento” abertas pelos bancos não residentes, que, na nova realidade, passarão a estar respaldadas apenas pelos capitais próprios do BCP (e, mesmo esses, diminuídos pelo goodwill da operação); (ii) as novas situações de concentração de risco que resultarão da simples agregação aritmética das respectivas carteiras (isto porque se somam por inteiro as posições de crédito que cada um dos bancos detiver sobre determinada entidade, mas o capital que serve de medida para caracterizar os grandes riscos, esse, será só o do banco adquirente, o BCP).

v      Não vejo como possam os capitais próprios do BCP, no quadro do Basileia 2, sustentar o endividamento monetário que assegura, hoje, o financiamento de parte substancial dos dois balanços. Nem vejo que o mercado interbancário doméstico tenha liquidez suficiente para substituir, alguma vez, as “linhas de financiamento” externas que, entretanto, venham a ser reduzidas ou, mesmo, canceladas. E, sempre, em pano de fundo a nova regra prudencial que manda incluir as posições credoras sobre outros bancos, sem excepção (não mais a excepção da OCDE), no cálculo do capital adequado.

v      1ª conclusão: o BCP terá de alienar activos, e rapidamente, mesmo antes de tentar recompor os seus capitais próprios; aliás, uma redução do balanço, nomeadamente na carteira de crédito bancário, seria sempre imposta pela concentração de risco que acima assinalei.

v      O passo óbvio é a titularização de activos. E os activos com maior procura neste tipo de operações são, justamente, os créditos hipotecários residenciais e outras formas de crédito pessoal que fazem o grosso do balanço do BPI.

v      2ª conclusão: o BCP, se for sensato, venderá num ápice boa parte do Activo do BPI (e uns quantos créditos semelhantes mais que ele próprio, então, detenha) para liquidar, sem mais delongas, os financiamentos que tiver contraído para a OPA e, assim, dar um novo fôlego aos seus capitais próprios.

v      A grande questão, neste ponto, é saber se as operações de titularização gerarão mais ou menos valias (dados o spread médio que o BPI tem vindo a praticar e as dúvidas quanto à perda esperada) que alterem, de forma relevante, os capitais próprios do BCP post-OPA.

v      3ª conclusão: depois da titularização de créditos e da venda de outros activos, pouco restará do potencial de intermediação bancária que o BPI hoje possui; se, entretanto, não aparecerem novos players na banca comercial (e é pouco provável que apareçam, dada a exiguidade da nossa economia), a concorrência no mercado bancário resultará atenuada.

v      Dito de outra maneira, o BCP terá exterminado um concorrente, mas do facto serão os bancos concorrentes quem poderá tirar melhor partido.

v      Como o BCP já deverá ter constatado, na sequência das suas anteriores aquisições, existe uma fronteira para a gestão do risco de crédito. Quando um banco é suficientemente pequeno, com uma estrutura eficiente (o que não tem sido o caso do BCP), pode prosseguir confortavelmente uma estratégia de seleccionar clientes (cherry picking ou “pescar à linha”) tomando como critério a minimização absoluta das perdas por incumprimento. Ultrapassada, porém, a tal fronteira, a dimensão da carteira torna-se tal que não poderá deixar de incluir, fatalmente, riscos agravados - e a preocupação dominante será, então, não descolar do risco médio do mercado, visto que lá estarão sempre os concorrentes a procurarem “roubar” as entidades de melhor risco.

v      4ª conclusão: Em termos de posição competitiva no mercado português, esta OPA não é a iniciativa que melhor servirá, no imediato, o interesse dos accionistas do BCP; são eles que, em última análise, arcarão com a totalidade dos custos, mas parte dos benefícios serão colhidos, inevitavelmente, pelos bancos concorrentes.

v      Mas contribuirá a OPA para a maior solidez do sistema bancário português?

v      Creio que não. Os grandes bancos de raiz portuguesa têm crescido em extensão, mas não em sofisticação; internamente, mas não em capacidade competitiva nos mercados internacionais; à custa do endividamento monetário externo, e não de excedentes na BTC. Neste quadro, não haverá certamente vantagem em privilegiar bancos de pequena dimensão com o único propósito de tirar partido da fórmula que apura a adequação do capital. Mas concentrar num número cada vez mais reduzido de bancos (que continuarão grandes apenas à pequena escala doméstica) significa reduzir a capacidade de endividamento monetário externo do sistema bancário como um todo. E isto é, seguramente, a última coisa que a economia portuguesa poderia desejar.

v      5ª conclusão: No plano mais amplo da política financeira, esta OPA é um contra-senso.

v      Não obstante, a OPA poderia fazer ainda algum sentido se daí resultasse um banco com dimensão suficiente para operar directamente no mercado de repos do BCE. O acesso ao mercado primário da liquidez em €€ daria um contributo importante para a estabilidade do sistema bancário português. Infelizmente, o BCP não deverá encontrar no balanço do BPI valores elegíveis para as tais operações repo em quantidade suficiente que, adicionados aos que já possui, lhe permitam tornar-se uma presença regular nesse mercado.

v      6ª conclusão: também quanto à Base Monetária da banca portuguesa, esta OPA parece não levar longe.

v      Então, porquê a OPA? A pergunta é tanto mais pertinente quanto, dias antes de anunciar o lançamento da OPA, o BCP comunicou ao mercado que iria proceder a um aumento de capital destinado a resgatar as stock options que há tempos tinha subscrito a benefício do seu pessoal. Ora, na ausência de outras quaisquer notícias, esta emissão, só por ela, teria o efeito de pressionar no sentido da baixa a cotação das acções do banco (efeito de diluição), tornando-o mais vulnerável a uma qualquer OPA.

v      7ª conclusão: a OPA é inoportuna e foi preparada de maneira pouco consistente (salvo se o BCP der o dito por não dito no assunto das stock options).

v      8º conclusão: se a OPA for concretizada, o BCP passará a ser um alvo fácil (BBVA? FortisBank? A própria La Caixa? Infelizmente, o lote de candidatos é pequeno) – e relativamente barato.

v      Mas porquê a OPA? A única explicação que me vem à ideia é a fábula do sapo, do rio e do escorpião que queria atravessar o rio às cavalitas do sapo. Estava-lhe na massa do sangue, nunca poderia ter feito outra coisa, porque outra coisa não sabia fazer.

 

Março de 2006

 

A. Palhinha Machado

 

 

NIN – NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO NACIONAL

Uma das conversas que sucederam durante o primeiro jantar de ano novo do “A bem da Nação” foi o da necessidade de se enveredar por um registo único em substituição do Bilhete de Identidade, do Cartão de Contribuinte, do Cartão de Eleitor, da Carta de Condução, do Cartão de Beneficiário da Segurança Social, etc.

Prometemos voltar ao tema com maior profundidade mas entretanto parece que o Governo se adiantou e conforme mostrado nas TVs, o Primeiro Ministro já tem um documento único.

Independentemente disso, acho que devemos debater o caso e para o efeito poderá servir o diálogo seguinte que me chegou por Internet, de autoria minha desconhecida mas cujo humor me agradou.

Lisboa, 23 de Março de 2006

Henrique Salles da Fonseca

 

 

Telefonista: - Pizza Hot, boa noite!

Cliente: - Boa noite, quero encomendar pizzas . . .

Telefonista: - Pode-me dar o seu NIN?

Cliente: - Sim, o meu número de identificação nacional é  o 6102-1993-8456-54632107.

Telefonista: - Obrigada, Sr. Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 1988 apartamento nº 52 B e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu telemóvel é 962662566.

Cliente: - Como é que você conseguiu essas informações todas?

Telefonista: - Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.

Cliente: - Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma quatro queijos e outra calabresa . . .

Telefonista: - Talvez não seja uma boa ideia...

Cliente: - O quê?

Telefonista: - Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida  proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.

Cliente: - É. tem razão! O que você sugere?

Telefonista: - Por que é que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!

Cliente: - Como é que você sabe que vou adorar?

Telefonista: - O Sr. consultou o site "Recettes Gourmandes au Soja" da Biblioteca Municipal, dia 15 de Janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...

Cliente: - OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho familiar!

Telefonista: - É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos, pode ter a certeza.

Cliente: - Quanto é?

Telefonista: - São € 49,99

Cliente: - Você quer o número do meu cartão de crédito?

Telefonista: - Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito foi ultrapassado.

Cliente: - Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco levantar dinheiro antes que chegue a pizza.

Telefonista: - Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.

Cliente: - Meta-se na sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?

Telefonista: - Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso . . .

Cliente: - Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?

Telefonista: - Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. Não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.

Cliente: - @#%/§@&?#§/%#!!!!!!!!!!!!!

Telefonista: - Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... Não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.

Cliente: (Silêncio)

Telefonista: - Mais alguma coisa?

Cliente: - Não, é só isso . . .  Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.

Telefonista: - Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 095423/12, proíbe a venda de bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

Cliente: - Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou-me atirar pela janela!!!!!

Telefonista: - E torcer um pé? O Sr. mora no rés-do-chão!  

Crónicas de África

 

A OPA lusófona

 

            Muito se tem escrito e opinado sobre as OPAs que animam o mercado português. Contudo, nada é verdade. Há alguns meses atrás, durante uma jornada de reflexão sobre o papel dos mercados lusófonos para a economia portuguesa, foi decidido que a Portugal Telecom (PT) lançasse uma OPA sobre a totalidade de Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé. As contas eram simples. Estes três países apresentam, por atacado, um PIB anual que ronda os 1,5 mil mihões de dólares. Ora, só em proveitos, a PT alcançou no ano passado os 6,3 mil milhões de Euros. Embora politicamente incorrecto, a tentação falou mais alto. Mas como as paredes têm ouvidos, alguém avisou os governos daqueles países. Estes, sabendo da forte ligação que a Microsoft tem, através da Fundação Gates, com Moçambique, pediram ao governo deste país que intercedesse junto de Bill Gates E está explicada a razão da vinda do milionário a Portugal. Qual Plano Tecnológico, qual quê! A conversa foi simples: ou estão quietinhos ou eu lanço uma OPA a Portugal (de recordar que o PIB português são cento e tal mil milhões de dólares e que as receitas da Microsoft são cerca de 40 mil milhões de dólares...). O governo meteu a viola no saco e foi repensar a estratégia. Bingo! Angola! Angola é que é o futuro, tudo começará por ali. Há que tomar o mercado. Como? Antes do mais, afastando qualquer indício da participação directa do governo. Como fazer? Convence-se Belmiro de Azevedo a lançar uma OPA à PT (está agora percebido porque aquele não quer o Brasil mas afirma que África é para apostar). Depois, a SONAE/PT lança uma OPA à Unitel, onde detém uma importante participação, e depois às outras operadores do mercado. Entretanto, para apoiar o enorme esforço financeiro de conquista do mercado angolano, aconselhou-se o BCP a lançar uma OPA sobre o BPI e um mês depois sobre o BES. Entretanto, a CGD abriria também em Angola, o que já está em andamento, para dar uma ajudinha, por fora, claro, pois é público. Este novo banco, Tugangola, lançará diversas OPAs nas áreas onde detêm já interesses consolidados, nomeadamente sobre a Endiama, nos diamantes. Mas como a pérola é o petróleo, foi pedido a Américo Amorim que abrisse um banco em Angola, se aliasse a uma das filhas do presidente, e que depois contaria com o apoio do novo grupo bancário português para lançar uma OPA sobre a SONANGOL. Acontece que, entretanto, aquele empresário adquiriu uma participação na GALP, juntamente com a filha do presidente e ainda a SONANGOL. E de imediato prepara-se para anunciar uma OPA sobre a GALP. Julgavam que os angolanos andavam a dormir? E para tornar mais atraente a oferta junto dos investidores, vai ser proposto que Mantorras seja o futuro CEO da empresa e que, para além da contrapartida monetária por acção, cada 100 acções permitirão gozar uma semana de férias no Mussulo durante os próximos dez anos. Perante tal traição, o empresário português encontra-se exilado nas ilhas Tuvalu. Não menos interessante são as OPAs da UNICER sobre a totalidade das cervejeiras do país, o sector industrial mais dinâmico e garantido, do Grupo Pestana sobre o condomínio do Futungo de Belas agora que o presidente angolano se mudou para a Cidade Alta, e da Soares da Costa e Mota/Engil sobre as construtores. Neste último caso é improvável o sucesso já que o governo angolano pediu ajuda à China. Esta prepara-se para OPAR as construtoras portuguesas.

Finalmente, e aqui reside a questão central da deslocação de José Sócrates a Angola, a Pastelaria Pastéis de Belém, totalmente apoiada pelo novo vizinho Cavaco Silva e suportada num parecer jurídico do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, lançou uma OPA, ainda por cima hostil, à cadeia de Pastelarias luandense Maravilha. O melindre político é evidente e por aqui passará o futuro das relações luso-angolanas.

 

PS: de acordo com o insupeito canal financeiro Bloomberg, as empresas Bacalhau Pascoal, Conservas de Atum Ramirez e Conservas de Sardinha Bom Petisco, como forma de internacionalizarem a sua presença nas mesas dos falantes de português, preparam-se para lançar uma OPA à CPLP...  

 

Manuel Ennes Ferreira

Professor do Departamento de Economia do ISEG

Publicado em 21 de Março de 2006 no "Diário Económico"

 

Oremos . . .

“Pai nosse qui está ne céos,
Santificádo seja tua nomi,
Venho nós a tua Reyno,
Seja fêto a tua vontade,
Assi ne terra, como ne céos;
O pan nosse de cada dia nos dá ojo,
E perdová nós nosse dívidas,
Assi como nós perdovamos nosse dividóris,
E nan nos desse caí em tentaçan,
Mas livra nós de mal.
Amen”

 

 

Assim se reza hoje no Sri Lanka a oração que o Senhor nos ensinou.

 

E nós, que os abandonámos, como deveríamos rezar?

 

Lisboa, 18 de Março de 2006

 

Henrique Salles da Fonseca

A INVASÂO E OCUPAÇÃO DO IRAQUE − TRÊS ANOS DEPOIS

 

Adriano Miranda Lima     

 

 

 Passa agora o terceiro aniversário da invasão e ocupação do Iraque sob a égide dos desígnios inconfessáveis da administração Bush e seus apaniguados apoiantes.

      É já um dado adquirido que as razões então invocadas para a invasão foram totalmente contrárias à razão e ao mais elementar sentido de prudência e de discernimento estratégico que deve nortear uma nação com as responsabilidades planetárias como são os Estados Unidos da América.

      De então para cá, o Iraque tornou-se, como se sabe, numa incontrolável coutada do terrorismo e num país onde a saga sangrenta é uma realidade diária que se traduz num inaudito sofrimento para uma população que é tão inocente e merecedora de paz como a de qualquer país do Ocidente. O resultado conseguido foi precisamente o oposto dos objectivos estratégicos visados pelas potências ocupantes.

      Entretanto, Saddam Hussein está a ser julgado por crimes cometidos para manter o seu despótico poder e sua sede de controlo hegemónico naquela que é a região do globo que mais se assemelha ao barril de pólvora que se receia possa um dia vir a ter repercussões gravíssimas em todo o mundo. Para não se pensar que há exagero apocalíptico nestas palavras, basta focar a atenção no Irão e na sua indisfarçável ambição de aceder à posse de armamento nuclear e, assim, poder ditar as suas regras no xadrez da região.

      Só que o Irão é um estado islâmico enquanto que o Iraque de Saddam era um estado laico. A diferença não é tão despicienda como isso. Com o Saddam era sempre possível encontrar uma plataforma de diálogo negocial para equilibrar e moderar o seu poder no contexto regional, porque a lógica da sua ambição política, que não a dos valores, em boa verdade pouco ou nada diferia da dos seus parceiros ocidentais, ambas inspiradas, em suas linhas mestras, na filosofia política do estado laico. A dialéctica do discurso poderia ter levada à convergência de pontos de interesse comum, salvaguardando-se, quanto possível e dentro dos limites da razoabilidade, o orgulho ferido e o amor-próprio do ditador. Ou seja, de ambos os lados os negociadores poderiam ser fiéis discípulos de Maquiavel, mas se as suas posições conseguissem equilibrar a balança do interesse mútuo, a paz na região teria recebido um importante contributo. 

      Contudo, os EUA nunca estiveram interessados em tal coisa nem foi concedido a Saddam aspirar a qualquer expectativa esperançosa de participar numa saída política favorável ao equilíbrio estratégico na região. O facto é que, depois da sua fracassada tentativa de anexar o Kuwait, jamais lhe foi consentida qualquer possibilidade de franca e aberta conversação sobre o rumo a seguir, preferindo-se um surto reiterado de retaliações e boicotes económicos ao Iraque que não logrou qualquer efeito a não ser elevar o sofrimento da população do país a níveis inconcebíveis e em absoluto intoleráveis para a consciência do mundo ocidental. Acossado como um animal selvagem dentro do seu país, nem mesmo assim se pode dizer que Saddam ensaiou uma qualquer espécie de fuga para a frente, como ficou patente com a comprovada falsidade de todas as razões invocadas para a invasão e ocupação do país (presença de armas de destruição maciça e acolhimento de bases terroristas). Hoje, algumas bocas devem estar a amargar com a certeza consabida de que esta guerra imposta foi porventura das mais injustas e iníquas da história dos países nela envolvidos. Hoje, o ditador está a ser julgado, mas a consciência do mundo ocidental, se ela é ainda sensível aos valores do humanismo cristão e do racionalismo, deve sentir-se bem constrangida por saber impunes os verdadeiros fautores duma guerra e todo o seu cortejo de desgraças e infortúnio. Mas não se pense que estou a pretender branquear a feroz ditadura de Saddam Hussein. Só que os factos da actualidade estão a demonstrar que foi muitíssimo pior a emenda que o soneto.

      Bem diferente, para não dizer virtualmente irredutível, é o diálogo com os estados islâmicos, como é o caso do Irão. Nesses estados, a religião islâmica tutela e inspira o poder político e todo o sistema social e económico, em grau tanto mais elevado quanto maior a leitura fundamentalista dos dogmas religiosos.

      Na sua cegueira para, “à espadeirada”, derrubar Saddam e assim poderem controlar as fontes de produção petrolífera, de que depende a sua economia, os EUA ignoraram, ou menosprezaram levianamente, o Irão e toda uma ameaça que este país representava, que não era já apenas potencial mas claramente visível e pronta a manifestar-se. Com efeito, o Irão reiniciou há pouco as suas actividades nucleares e, ao mesmo tempo, os mais recentes discursos do seu Presidente não são propriamente apologéticos de uma política de paz no Médio Oriente; o Irão apoia grupos radicais islâmicos como a Jihad islâmica e o Hamas, além de ser muito hostil ao estado de Israel; apoia vários grupos no Iraque que estão a lançar o país no caos; e ao Irão não interessa minimamente um Iraque democrático e secular, como utopicamente pretende George Bush, porque isso iria incentivar as aspirações democráticas dos iranianos e ameaçar a sobrevivência do regime.

      Está assim criada a confusão, com uma complexidade crescente e à revelia da intervenção bélica no Iraque, como se esta nada tivesse logrado senão o derrube do ditador. Dir-se-á, com razão, que os estrategos americanos se atiraram cegamente contra um tigre de papel, entretendo-se com um engodo que bem serviu os intentos da Al Qaeda, Irão, Síria e outros Estados da região.

      Agora, os EUA e o Reino Unido deram-se conta do logro em que caíram e não sabem como descalçar a bota, com promessas já esboçadas de abandonar o Iraque e deixá-lo entregue a si próprio, destroçado, desmoralizado e com a sua economia de rastos, portanto, em muito pior situação do que no tempo de Saddam. Os EUA podem estar agora a apontar os binóculos para o Irão, mas é bem possível que os capítulos do próximo episódio se venham a escrever com tintas bem mais trágicas ainda. Entretanto, é todo o mundo ocidental que está a sofrer os reveses de tamanha imponderação e aventureirismo. Não é com a espada que se vai conseguir resolver aquilo que alguns consideram ser um conflito de civilização. É ao património cultural da humanidade que se terá de ir buscar a bússola para dar um outro rumo à história.

 

 

                                            Tomar, 18 de Março de 2006

 

                                                 Adriano Miranda Lima

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  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D