(Os diagnósticos sobre o estado da economia portuguesa enchem páginas e páginas de brilhante prosa. Mas será que não se pode resumir tudo isso em duas ou três frases esclarecedoras, que qualquer um, por mais desinteressado, entenderá sem dificuldade?)
Nós, portugueses, exigimos emprego, mas sonhamos com bens (e serviços) que não está ao nosso alcance produzir (ou prestar) e, não obstante, temos tido dinheiro para comprá-los Nós, portugueses, queremos ganhar como europeus, mas, se houver por aí bens (e serviços) a preços chineses, corremos a comprá-los e o dinheiro para isso não nos tem faltado Nós, portugueses, ainda nos custa a crer que a regra do jogo seja só esta: ganhar a vida consiste em ter para oferecer algo que outros apreciem e estejam na disposição de pagar por isso bom dinheiro - mas não é que tem havido tanta gente interessada em adquirir o nosso endividamento, que oferecemos, aliás, de boa vontade e sem nenhum esforço?
"Ordinariamente, todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
"Na babugem do êxodo" Um livro de Inácio Rebelo de Andrade Editora Vega Lisboa 2005
Em sub-título está indicado que se trata de um romance. Não vou dizer que seja mentira jamais me atreveria a contradizer o autor ou até autoridades em literatura. Este livro do Inácio Rebelo de Andrade é, não um romance, mas um muito valioso documento histórico. Escrito sem pretensões literárias, que só o valoriza, texto simples, pode até chamar-se-lhe de modesto, claro, directo, tem nessa sua simplicidade grande parte do seu interesse. O restante vem, como seria de esperar, pelas descrições que faz, com pequeninos e incríveis detalhes que, para quem viveu situações semelhantes, as revive com um colorido tão natural que chegam a impressionar, e pela clareza com que nos mostra o que foi o fim de uma época. Ali estão os corredores estreitos dos navios passageiros, aquele cheiro perturbador misto de tinta e comida, os menus em cima das mesas, os detalhes das paragens no Funchal e S.Tomé, a viagem na carrinha até ao Longonjo, a vida nas casas comerciais do mato, os nomes das ruas e lojas de Nova Lisboa e, por fim, o desmoronar de tantas vidas construídas com um imenso e sempre jovem entusiasmo e dedicação, em cima do absentismo e ignorância política duma metrópole longínqua, cega, surda e gananciosa. O entusiasmo e a vontade de crescer e transformar um mato num país, conseguiram enganar os olhos aos que queriam ignorar o óbvio: o fim desastroso de todos os lugares em África, com uma rara excepção, para a África do Sul anos mais tarde, que o deve a um dos maiores líderes mundiais do século XX, Nelson Mandela. Sem dúvida que este livro é um precioso documento para a história daquele lugar a que hoje eufemisticamente se chama de Huambo, porque nada quase existe do que foi uma cidade trabalhadora, bonita, agradável, limpa e em constante progresso. Completam o documento histórico as referências a leis, decretos e nomes de indivíduos que ocuparam em Angola lugares de responsabilidade, sempre relativa, porque a falta de liberdade não lhes permitia, mesmo que tivessem querido, proceder de modo diferente. Obrigado ao Inácio por nos deixar um retrato tão vivo e autêntico daquela época, daquele lugar e das gentes de viveram e sofreram para serem de repente jogadas no lixo da política ignorante e incapaz. Obrigado ainda por se ter abstido de pretenciosidades pseudo literárias, onde a maioria de outros que procuram debruçar-se sobre o mesmo tema, acabam se perdendo nas palavras em prejuízo da visão e da vivência. Só não posso agradecer o ter terminado a sua leitura tão rapidamente. O livro com mais de trezentas e cinquenta páginas... de repente acaba, porque se lê de um só fôlego! Queria mais!
A Delegação em Goa da Fundação Cidade de Lisboa pretende apoiar grupos de conversação em língua portuguesa constituídos por antigos alunos dos cursos de português ministrados em Panjim e Margão.
Os grupos serão constituídos por um máximo de 10 pessoas, funcionarão durante cerca de 6 semanas e deverão ser orientados por monitora em regime de voluntariado.
Aquela Instituição pretende obter a colaboração de voluntária portuguesa, de preferência com licenciatura de nível superior, que se proponha monitorar os referidos grupos de conversação.
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