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A bem da Nação

S. Tomé e Príncipe . . .

stome6.gif. . . ouvi dizer que é por lá que passa o Equador.
"Ver para crer", como dizía S. Tomé: vou lá de 12 a 20 de Fevereiro ver o Equador a passar mas volto a horas de votar. Depois vos digo. Abraços,
Henrique Salles da Fonseca

Divagando pela utopia – 6ª parte

Resumo da 5ª parte: No Ocidente, Zao Zyiang poderá ser considerado uma vítima do regime repressivo chinês e um verdadeiro herói da liberdade mas duvido que o chinês comum pense o mesmo; a nossa democracia não é um conceito aplicável a todas as sociedades, sobretudo se não dispuserem de uma ampla e sustentada classe média; a globalização em curso é perversa para os interesses das economias ocidentais menos avançadas, nomeadamente a portuguesa; a abertura comercial europeia aos produtos chineses deverá ser condicionada à evolução que a China vá fazendo na regulamentação laboral.



Plausível – Antes de irmos para intervalo, prometeu que desta vez falaríamos do Sri Lanka e de Moçambique. Como é que esses países são vítimas da actual globalização?
Utópico – Do mesmo modo que Portugal é vítima da invasão espanhola. O tão apregoado e quase sacrossanto liberalismo refere maravilhas de progresso e critica asperamente qualquer espécie de protecção, nomeadamente de índole pautal. Eu já uma vez contei a história do Professor Milton Friedman que por meados do séc. XX foi à Índia provar que os indianos tinham muito mais interesse em cessar a produção das suas siderurgias e passarem a importar aço americano. É claro que foi corrido.
Plausível – Mas não teria razão?
Utópico – Duvido.
Plausível – Duvida?
Utópico – Sim, duvido que a pureza do raciocínio liberal “made in USA” fosse então aplicável na Índia ou que sequer se pudesse minimamente compatibilizar com os interesses mais primários de desenvolvimento daquele enorme país asiático que pouco tempo antes estava imperialmente proibido de fiar e tecer o algodão que produzia ou sequer de fabricar sal por meios privados. A lógica liberal pode ser aceite por quem já possua um relativamente elevado nível de bem-estar mas quem esteja num estado muito rudimentar de desenvolvimento, possua abundantes recursos naturais e tenha uma perspectiva de respeitável dimensão, pode-se dar ao luxo de imaginar políticas de índole mercantilista. Foi isso que a Índia fez para desespero de todos aqueles que queriam entrar naquele já então promissor mercado. Foi isso que o General Franco fez em 1939 quando ganhou a Guerra Civil – e não me venham para cá dizer que ele fez isso porque foi boicotado internacionalmente. Ele fez isso porque entendeu que esse era o modo de provocar o desenvolvimento endógeno espanhol, sabendo de antemão que possuía um mercado interno então muito empobrecido mas com um potencial formidável e, sobretudo, com uma população muito orgulhosa. Os resultados indiano e espanhol estão à vista, novamente para grande desespero dos teóricos do liberalismo. Claro que este meu raciocínio não se aplica a países muito pequenos. O que é válido para a Índia, para Espanha, para o Brasil ou para a África do Sul, não é obrigatoriamente válido para países pequenos cujo mercado doméstico não permita um mínimo de economias de escala. Estes, têm que ganhar dimensão fronteiras-além se quiserem sobreviver após o desmantelamento das barreiras protectoras e é isso que algumas empresas portuguesas estão agora a fazer.
Plausível – Não será tarde?
Utópico – Não, não me parece que seja tarde. O que não significa que não devesse ter sido feito muito antes. Mas não vale a pena discutir o passado; devemos aprender com ele mas discuti-lo é um exercício inútil. Continuo a achar que há empresas portuguesas com grande potencial de crescimento um pouco “urbi et orbi”.
Plausível – Não acha que deveria haver uma especialização da estratégia expansionista portuguesa?
Utópico – Não, não acho. E por várias razões. Em primeiro lugar, porque nunca se deve transportar todos os ovos no mesmo cesto. Imagine que todas as empresas portuguesas tinham apostado na Argentina. O que teria sucedido a Portugal na época da bancarrota daquele país? Espanha é bem maior que nós e andou bem combalida nessa altura.
Plausível – Mas, em compensação, agora a Argentina está na maior . . .
Utópico – Já enclausuraram os gatunos que deambulavam pela política?
Plausível – Não sei.
Utópico – Não se esqueça de que na Argentina não se pensa do mesmo modo que na Europa.
Plausível – E isso quer dizer que . . . ?
Utópico – Depois do General Peron ter atirado com o país para a falência e ter sido derrubado, andou uns tempos com o corpo da mulher – da Evita – em bolandas por Itália e Espanha e acabou por regressar em triunfo para lhe fazer um mausoléu num grande cemitério de Buenos Aires, para ele próprio morrer no exercício da presidência e deixar como Presidenta a nova mulher que despachava os assuntos de Estado na cama a fazer de doente para comover o povo mas com as câmaras de televisão bem atentas à cena . . . Não me lembro se os ministros que iam a despacho se sentavam ao lado da cama, se ficavam de pé ou se se deitavam também. Por cima dos lençóis, claro.
Plausível – Sim, seria mau ter todos os investimentos num país desses.
Utópico – Repare: a Argentina é um país formidável e cheio de potencialidades e se tiver a sorte de eleger políticos sérios e que executem as políticas apropriadas, então terá um futuro esplendoroso como foi o passado antes do primeiro mandato de Peron em que ele deitou tudo a perder com muita demagogia e com a famosa industrialização forçada. É que o mercantilismo não pode ser cego e sistemático, não pode abdicar da racionalidade económica e da viabilidade financeira, não pode querer manter-se monopolista “per saecula saeculorum”, tem que tender para uma abertura progressiva à concorrência externa sob pena de concretizar um monte de sucata, de viver à custa do império da lei e dos subsídios do Estado.
Plausível – Mas sobre isso falamos mais tarde. Mais razões para que não haja uma especialização da expansão portuguesa . . .
Utópico – Uma outra razão tem a ver com o negócio de cada empresa. O que é válido para as cimenteiras – que vêm fazendo uma expansão muito significativa no Norte de África – pode não ter nada a ver com a estratégia desejável para a banca, para as telecomunicações, para o vidro de embalagem.
Plausível – Mas, então, o que é que o Governo deve fazer no sentido de promover a internacionalização da nossa Economia?
Utópico – O Governo tem feito muito pela internacionalização passiva da nossa Economia vendendo as participações do Estado a grupos estrangeiros; eu refiro-me à expansão de dentro para fora, à internacionalização activa, àquela que procura alcançar a dimensão que nos falta no mercado doméstico.
Plausível – Então, o que deve o Governo fazer?
Utópico – Essa é a terceira razão pela qual eu acho que não deve haver uma especialização da nossa expansão. É preferível que o Governo nada faça do que actuar de modo contrário aos interesses nacionais, nomeadamente vendendo em bloco as tais participações aos estrangeiros. Se quer vender as participações que ainda detém em algumas empresas, disperse-as em bolsa e deixe de dizer que anda à procura de parceiros estratégicos para “épater les bourgeois”; os burgueses já não precisam de se espantar mais do que aquilo que os telejornais lhe fazem. Os parceiros estratégicos somos nós, temos a tecnologia mais do que necessária; o que nos falta é dimensão e essa arranja-se com novos mercados.
Plausível – Com o ICEP?
Utópico – Não conheço a eficácia do ICEP e não sei mesmo se alguém a conhece.
Plausível – Mas já nos estamos a afastar do tema inicial: como é que o Sri Lanka e Moçambique são vítimas da globalização?
Utópico – A globalização tem o liberalismo como fonte teórica. Simplificando raciocínios, o liberalismo nas relações internacionais diz: eu posso entrar na tua casa e tu podes entrar na minha se fores capaz. Os grandes obtiveram o direito de comer os pequenos. Daí que em Portugal estejamos a assistir a uma invasão espanhola, em Moçambique já comecem a estar fartos dos sul-africanos e no Sri Lanka nada avance porque se é imediatamente cilindrado pelos indianos. A própria Argentina de que há pouco falávamos se queixa amargamente da invasão brasileira. Portanto, a sacrossanta globalização e o seu pai, o liberalismo, vão ter que limar as unhas pois estão a transformar-se em garras.
Plausível – E acha que isso vai suceder?
Utópico – Eu sou utópico; Você é que tem raciocínios plausíveis. Contudo, acho que nem Davos nem Porto Alegre estão dentro da razão; nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Plausível – E isso significa o quê?
Utópico – Significa que a OMC, o FMI e outros instrumentos do liberalismo e do monetarismo puros vão ter que repensar um pouco as políticas que têm seguido. É necessário que fique escrito nos Tratados que os pequenos também têm direito à vida sem terem que depender de esmolas como contrapartida da devassa dos seus mercados domésticos. Que me interessa saber se a minha empresa não é competitiva a nível internacional se o meu mercado é aqui no bairro onde moro? Ah! Mas isso é contrário aos interesses das empresas que são competitivas a nível global. Então que sejam competitivas lá no globo delas que eu me governo cá no meu globozinho de bairro. Mas vivo com a minha dignidade, sou patrão de mim mesmo e não sou assalariado de ninguém. E diz Você que os clientes ficam menos bem servidos sem a tal empresa globalmente viável. Ao que eu lhe respondo que essa empresa só espera por obter o monopólio pela morte da concorrência doméstica para fazer gato-sapato do mercado do tal bairro e passar a ditar os preços dos produtos que vende a quem não tem qualquer hipótese de discutir preços. Como sabe, as Autoridades da Concorrência primam por não funcionar nesta perspectiva da salvaguarda da oferta genuinamente nacional.
Plausível – E isso não será cultivar a mediocridade?
Utópico – Nem todos terão obrigatoriamente que ser competitivos a nível da fórmula 1. O desporto não pode ser só a alta competição. As Autoridades nacionais da Concorrência não podem deixar cair as empresas nacionais e têm que ser criados os mecanismos legais em cada país que se fundamentem nos Tratados internacionais que actualmente não querem ouvir falar disso.
Plausível – Volto a perguntar: acha que é isso que vai suceder?
Utópico – Volto a responder: Você é que é o Plausível; eu divago pela utopia.

Lisboa, Fevereiro de 2005
Henrique Salles da Fonseca

AS CONFERÊNCIAS DE LISBOA – 4


Foi pela mão amiga do Carlos Alves Bernardo que me chegou informação do maior interesse sobre a conferência que Tom Peters proferiu há dias no Pequeno Auditório do CCB intitulada "Re-Imagine! Business Excellence in a Disruptive Age".

Parece que, nos últimos 36 meses, 60 mil fábricas detidas por estrangeiros abriram na China. É uma pena não poder aqui transcrever o resumo feito por Helena Oliveira no “Portal Executivo” da Caixa Geral de Depósitos que se pode visitar em http://www.portalexecutivo.com/PortalExecutivo/Bem%20Vindo/default.htm mas a verdade é que, quando cheguei ao fim do texto, deparei com um “copyright” inultrapassável e não me arrisco a citar seja o que for, a menos que a Caixa formalmente me peça para o fazer. Como tal pedido não é expectável, sugiro aos leitores de “A bem da Nação” que tentem aceder à informação de que apenas deixo uma breve imagem.

A propósito de direitos de autor, “A bem da Nação” não proíbe seja o que for de transcrições, citações ou parafraseados. Não queremos que alguém tenha que pagar para saber o que nós pensamos; os nossos conhecimentos são tão universais e democráticos como o ar que respiramos. “Malgré tout”, já vivemos na era da globalização e do livre acesso ao conhecimento; já praticamos a “Estratégia de Lisboa”.

Lisboa, Fevereiro de 2005

Henrique Salles da Fonseca

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