Foi pelo Fórum Desenvolvimento e Cooperação (1) que tomei conhecimento da realização no ISEG durante o ano lectivo 2004-2005 do II Ciclo de Conferências sobre África organizado pelo Professor Doutor Manuel Ennes Ferreira, docente da cadeira de Economia Africana na licenciatura de Economia e do Mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional. Assisti a todas as conferências realizadas em Novembro e Dezembro de 2004; gostei e decidi continuar em 2005 a assistir às conferências a que calendário e horário me permitam.
Constatei já que salvo casos especiais este ciclo de conferências tem servido para lançar os mestrandos na qualidade de conferencistas e creio que esta é uma acção da maior importância tanto para os oradores como para a própria assistência, maioritariamente constituída por colegas de mestrado. Não se compreende que um especialista em temas de desenvolvimento possa ter uma má comunicação oral pois, caso contrário, fica limitado à escrita e em países mais atrasados esta não é tão acessível como a conversa. Grande desapontamento será o de quem se proponha transmitir ideias por escrito a um mar de analfabetos ou em regiões em que não existam jornais. Timbre de voz, ritmo de respiração e postura em cena são factores que condicionam muito a captação da atenção da assistência e se esta não está disponível para ouvir, então não vale sequer a pena entrar na análise do conteúdo da mensagem que o orador pretende transmitir. Ou seja, num mestrado de Desenvolvimento e Cooperação Internacional, parece-me essencial que se saiba falar em público. Anoto, pois, muito pela positiva, esta experiência a que estes mestrandos se submetem bem como a preparação que pedagogicamente lhes é dada pelo Orientador.
Pelo desenrolar do calendário já não faz hoje muito sentido comentar as conferências de 2004 mas ainda vou a tempo de citar a que se realizou em 12 de Janeiro de 2005 intitulada Serão as Maurícias e as Seychelles exemplos para Cabo Verde? proferida pela Dr.ª Daniela Pereira.
Bom timbre de voz, boa postura em cena, discurso descontraído e com palavras correntes, sem doutorices pretensiosas e enfadonhas.
A tipificação dos desenvolvimentos das Maurícias, das Seychelles e de Cabo Verde à data das respectivas independências e os tipos de política que caracterizaram épocas especiais que se seguiram nas vidas políticas de cada um desses Estados, foi apresentado de um modo que todos os presentes entendemos com facilidade. Contudo, aquilo que me pareceu mais importante foi a fase conclusiva da conferência em que nos foi apresentado um cenário de desenvolvimento para Cabo Verde que eu temo que não chegue ao debate real e no terreno no próprio país interessado.
Trata-se de um modelo claramente liberal em que se potenciam as enormes virtualidades da diáspora cabo-verdiana na Europa e na América não apenas como fonte de divisas mas sobretudo e aqui, a novidade como lobby nacional. Na minha opinião, esta proposta valia por toda a conferência mas a oradora desenvolveu uma série de ideias que se poderão traduzir em políticas e projectos a que tanto o Governo como o empresariado nascente não deveriam ficar alheios. Por exemplo, construir em Cabo Verde o free shop do Atlântico à semelhança do que já é o Dubai no Médio Oriente e fazer do país um paraíso internético (virtual island). Mas houve muito mais sugestões que geraram animado debate com a assistência, nomeadamente em torno das pescas, do turismo, da indústria têxtil e da autonomia alimentar do país.
Sem qualquer espécie de ironia, um verdadeiro Programa Económico de Governo. Esperemos que tudo passe da Academia para a realidade (física e virtual).