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A bem da Nação

Uma leitura por dia - 6 de Outubro

L'Express du 04/10/2004 Serbie Avoir 20 ans dans les Balkans par Gilbert Charles Economie en lambeaux, chômage, corruption, mafias... les Serbes n'en finissent pas de payer l'addition des années Milosevic. Démunis, déboussolés, voire désespérés, les jeunes se replient sur eux-mêmes. Et s'abrutissent dans la fête, la drogue ou le sexe non protégé.

Para ler todo o artigo, ver em: http://www.lexpress.fr/info/monde/dossier/yougo/dossier.asp?ida=429642

 

Conversa fiada – 1ª parte

Jornalista – Obrigado por ter aceite o convite para esta conversa que é a continuação dos ”Diálogos Platónicos” que tivemos enquanto eu estava na Universidade. Economista – Mas é com muito gosto que continuo a conversar consigo, sobretudo agora que Você já está a trabalhar. Parabéns, felicito-o pela oportunidade que conseguiu. O jornalismo exercido por um economista tem todo o cabimento. É, à partida, uma garantia de nível técnico nos temas económicos, o que pode não ser alcançado por generalistas. E quando falo dos temas económicos, refiro-me tanto à macro como à micro. Jornalista – Mas eu ainda não estou a escrever artigos de opinião . . . Economista – Mas vai com certeza fazer perguntas pertinentes e isso já é muito importante. Lá chegará o tempo em que dará a sua opinião em directo. Se agora, com as perguntas que formula, orientar as conversas, então é Você que define os temas. É Você que indirectamente forma a opinião. Jornalista – Mas isso não significa que eu concorde com as opiniões que os entrevistados tenham e lá se vai uma parte importante da capacidade de intervenção que eu possa ter. Economista – Tudo tem o seu tempo. Lá chegará e, nunca se sabe, talvez mais rapidamente do que supõe. A carreira do especialista é estruturalmente diferente da do generalista. Dê tempo ao tempo . . . Jornalista – Muito bem: eu imaginei que – antes de irmos para os tais temas de doutrina e de relações internacionais – pudéssemos dar uma volta pelos temas correntes da vida portuguesa e, se concordar, lhe chamássemos “Conversa fiada” precisamente porque havemos de ir um pouco ao sabor dos ventos e que a dividíssemos em partes de modo a facilitar a participação de quem nos vier a ler. Economista – Perfeito. Concordo plenamente. Os temas importantes não são apenas os de estrutura, os tais de que tanto falámos nos “Diálogos platónicos”. E nem só as evoluções de médio e longo prazos são importantes; as variações sazonais podem ser muito importantes para uma sociedade. Jornalista – A propósito, como divide os prazos? Economista – Bem, essa já é uma pergunta de doutrina e combinámos que isso é para mais tarde. Mas, no entanto, avanço com a minha divisão do tempo; é muito discutível mas é a minha divisão. Para mim, o prazo imediato é o do mês, o curto é o do ano, o médio situa-se entre 1 e 5 anos, o longo entre 5 e 10 anos e para além de 10 anos é o muito longo prazo. Mas há quem siga definições diferentes e eu não posso discordar delas. Este é o meu critério e como foi a mim que Você perguntou, pois aí tem. Jornalista – Portanto, concorda com uma conversa que gire em torno de temas correntes, ou seja, no curto prazo? Economista – Sim, concordo mas os assuntos correntes podem referir-se a temas estruturais. Se num dado momento a discussão corrente for sobre a Constituição Europeia, nós não vamos passar ao lado só porque se trata de um tema estrutural. Jornalista – Claro, claro. Então ainda bem que lhe chamamos “Conversa fiada”. Vem com o fio dos acontecimentos e das notícias. Economista – Olhe: a propósito da Constituição Europeia, não tardará muito que a rainha de Inglaterra fique equiparada a Chefe da Repartição Britânica dos assuntos europeus e se até agora tinha um papel apenas simbólico, a partir de então até o simbolismo se há-de esvair. Os Estados europeus vão-se dissolver na letra da Lei enquanto que até aqui isso sucedia escamoteadamente, pela calada dos corredores de Bruxelas. Convenhamos que tudo passa a ser mais verdadeiro. Só que num sentido que eu considero altamente pernicioso. E quantos europeus pensarão como eu? Quem vai referendar o processo da dissolução política dos Estados? Jornalista – E acha que cada país deve fazer o seu referendo? Economista – Não, acho que deve ser feito um referendo único à escala europeia com os cidadãos de todos os países a votarem universalmente para um único resultado global. Jornalista – Acha que isso é mais correcto? Economista – Eu acho horrível mas os europeístas é que devem obrigar-se a um mínimo de congruência. Não querem a Europa unida? Então unam-na até às últimas consequências e façam as votações europeias à escala respectiva com sufrágios universais e directos sem qualquer tipo de ponderação país a país. Ou será que o voto de um alemão vale mais que o homólogo de um luxemburguês ou de um checo? Não somos todos iguais perante a Lei? Então se temos obrigações iguais, também temos que ter direitos iguais. Jornalista – E o que é que daí pode resultar no que se refere ao referendo da Constituição Europeia? Economista – Ah! Isso eu não sei mas é tudo uma questão de congruência. Então querem a união para umas coisas e a desunião para outras? Jornalista – Mas o projecto de Constituição não tem nada que lhe agrade? Economista – Ah! Tem, sim. Gosto muito do artigo 59º. Jornalista – Que trata de quê? Economista – Da “Saída voluntária da União”. Jornalista – E não concorda com a recente ideia francesa de referendar a adesão da Turquia? Economista – Mas é claro que concordo. Jornalista – Então são os franceses que vão decidir o futuro dos turcos? Economista – Sim, os franceses têm toda a legitimidade para se pronunciarem sobre a adesão turca. A questão é a de que não deviam ser só os franceses a referendar a entrada da Turquia mas sim todos os cidadãos europeus. A pergunta deve ser colocada como nos Clubes: cada candidato a sócio tem que ser aceite pelos membros do Clube; se tiver uma bola preta, não entra; só entra se tiver apenas bolas brancas. Claro que não íamos exigir que todos os europeus aceitassem a adesão turca; bastava que a maioria o fizesse. Mas todos se deveriam pronunciar no mesmo dia sobre a mesma pergunta e em votação directa, universal e não ponderada à semelhança do que deveria passar a ser o Referendo Europeu. Jornalista – Mas isso não é equiparar a Europa a um Clube? Economista – E não é? Mas se isso lhe faz confusão, então equiparemo-la a uma Sociedade. Será que eu tenho que admitir qualquer sócio na minha sociedade ou tenho o direito de convidar quem eu muito bem entendo? Jornalista – Se a sua sociedade estiver cotada em bolsa, vai ter que admitir todas as pessoas que comprem títulos. Economista – E é por isso que tantos se dedicam à blindagem estatutária. Jornalista – Mas, afinal, o que pensa da adesão turca? Economista – Se o objectivo é conduzir a UE à implosão ou ao desmembramento, então acho muito bem que a Turquia adira e que o faça já e sem condições especiais; se o objectivo é preservar a UE, então acho que a Turquia ainda tem que esperar muito para reunir as condições necessárias à adesão. Jornalista – Que condições? Economista – Culturais. Jornalista – Mas não acha que o adiamento da adesão pode provocar problemas graves na Turquia? Economista – Admito que isso possa suceder mas também não posso esquecer que a génese cultural turca é o islamismo, ou seja, inimiga tradicional do cristianismo europeu. São civilizações diferentes que se têm antagonizado numa muito difícil vizinhança na bacia mediterrânica, conflito que agora extravasou para outras regiões do planeta. Jornalista – Então isso significa para si que a Turquia nunca entrará na UE? Economista – Admito que assim possa suceder. A menos que . . . Jornalista – . . . a menos que . . .? Economista – . . . ressuscitem Mustafá Quemal, Atatürk. Jornalista – E isso o que é que significa? Economista – Uma segunda volta de laicização. Jornalista – Mas a Constituição turca proíbe os Partidos de inspiração religiosa . . . Economista – . . . de um modo tão eficaz que o actual Primeiro Ministro lidera um Partido de expressa inspiração islâmica, a mulher dele usa véu e o Parlamento acaba de votar uma Lei que radicaliza as disposições sobre a infidelidade matrimonial, feminina, claro. Jornalista – E com o adiamento não se corre o risco de uma ainda maior radicalização? Economista – Talvez. Mas isso vem confirmar que o problema é civilizacional. E digo-lhe mesmo mais: não acredito que as sociedades islâmicas estejam em condições de poderem ter uma democracia à nossa imagem e semelhança. Jornalista – O quê? Não acha essa uma ideia escandalosa? Economista – O escândalo está na permanente insistência do clero islâmico no sentido de dominar a população à semelhança do que sucedia na Europa durante a Idade Média. E para isso conta com o apoio dos feudalistas que pululam por todas aquelas paragens. Jornalista – Mas então como se resolve isso? Economista – Com um regime autocrata, laico de inspiração castrense. Jornalista – Uma ditadura? Economista – Um regime que inspire temor ao clero tanto sunita como xiita e que promova a constituição duma grande e preponderante classe média culturalmente capaz de se integrar no mundo moderno. Jornalista – Parece que vou ter que respirar fundo durante uns momentos para digerir essa sua opinião. Economista – Então, enquanto Você respira fundo, eu vou tomar um café. Uma italiana, de preferência. Lisboa, Outubro de 2004 Henrique Salles da Fonseca

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