SER AÇORIANO
Poça Branca
Vitorino Nemésio, homem das artes e das letras das Ilhas Atlânticas, descreve os açorianos, seus conterrâneos ...
“Como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra. A geografia, para nós, vale tanto como a história, e não é debalde que nossas recordações escritas inserem dos cinqüenta por cento de relatos de sismos e enchentes. Como sereias, temos uma dupla natureza: somos de carne e de pedra. Os nossos ossos mergulham no mar”.
A pesar de correr o risco de ser redundante ou simplória, atrevo-me a dizer que o emigrante açoriano é um corajoso, um batalhador, que mesmo na sua simplicidade demonstra ter hombridade e personalidade.
Nascido numa terra vulcânica, instável por natureza, desenvolveu intuitivamente uma percepção aguda daquilo e daqueles que o rodeiam. Tem humor lábil, como o tempo das ilhas que muda de repente, ao sabor dos ventos e das correntes. Rijo de corpo e de espírito talhados na labuta dura de tirar da terra o seu sustento, sonha com um futuro melhor. Ama o mar, que para ele é saída e entrada para o mundo e para a vida, e a ele se integra como elemento fundamental.
Ser arraigado aos seus costumes e valores, amante e ciumento dos seus e das suas coisas, dá-lhe um caráter um tanto individualista, um pouco egoísta. É da beira do cais, olhando o horizonte, onde o mar encontra o céu, que sonha o outro lado do mundo conhecer e conquistar. E quando isso acontece, lá no estrangeiro, chora saudades do “seu” lugar e fala sempre em voltar, nem que seja apenas para as raízes reencontrar ou para na lava negra dos Açores para sempre descansar.
Maria Eduarda