BRASIL DE LUTO
Convivendo com o perigo
Acidentes acontecem, estão fora do controle de qualquer mortal. Mas o que está acontecendo no sector aeroviário brasileiro não é normal, é o resultado do descaso do governo.
Uma crise sem precedentes, já vislumbrada em 1965, na gestão de Castelo Branco e relembrada 2001, por uma equipe orquestrada por deputados, dizia do grande perigo que se corria no aeroporto de Congonhas, se este não fosse reestruturado e readaptado para a nova realidade urbana brasileira. Parece que ninguém acreditou. Engavetaram o estudo, e o governo o ignorou.
Mas não é só nessa área que há problemas. O país encontra-se num processo de paralisia político-administrativa que está levando ao atraso vários sectores da nação, por falta de investimento ou competência administrativa. A população cresceu e a demanda por prestação de serviços aumentou, mas o Brasil não evoluiu, pelo contrário, atrofiou. A corrupção, antes pontual, alargou-se, ganhou espaço, mostrada, mas não castigada, naturalmente aceita por várias figuras do governo, quase que vira instituição nacional. Nossos políticos usam e abusam do poder e do capital público que deveriam aplicar em beneficio do povo. CPIs, investigações da Policia Federal, apagões, gastam tempo e dinheiro e não levam a nada.
No sector aéreo, repete-se o problema. Por incapacidade, imprevidência, corrupção, ou ignorância das autoridades, nada foi feito de relevante e concreto nestes últimos seis anos. Quando o choque do jactinho Legacy com o avião da GOL provocou o terrível desastre onde pereceram cento e tantas vitimas, pensou-se que despertariam para a grave situação da aviação. Mas ledo engano. O pouco que foi feito foi mal feito, e a consequência foi mais uma tragédia, a do dia 17 de julho em Congonhas. Agora a população atónita, amarrotada, identifica e contabiliza seus mortos. Os cidadãos que viajam, apesar de pagar altos impostos, vêem-se perambulando pelos aeroportos, menosprezados pelas companhias aéreas, ignorados nos seus direitos à segurança. A sobrecarga de trabalho dos controladores de vôo, as más condições das pistas, as falhas nos sistemas de suporte aeroviário são problemas graves que o governo minimiza. E o brasileiro, angustiado, não bastando a insegurança por que passa nas ruas, sujeito a assaltos, violência e balas perdidas, agora também no meio da crise aérea, sente-se sujeitado à sorte de uma roleta russa, toda a vez que necessita viajar pelo espaço aéreo brasileiro ou quando está em casa, à espera que um avião lhe caia na cabeça.
. Enquanto isso no Planalto, do alto da sua larga e confortável poltrona vermelha, só após três dias da tragédia, que comoveu todo o país e até o Exterior, o presidente falou à nação, num curto e breve discurso no qual mal lamentou a sorte dos acidentados e a dor de seus familiares, mas que se preocupou em não ter pressa em achar os culpados... A equipe que gerencia a aviação continua a mesma, segundo ele, por enquanto não há motivos para trocá-la. Quanto ao Sr. Ministro da Defesa (Waldir Pires) sequer se pronunciou ou deu o ar da sua graça. Também a ministra do Turismo, a sexóloga Marta Suplicy, ao chegar de Portugal, tranqüila, desta vez não tinha nada a dizer aos parentes e familiares dos quase 200 mortos de Congonhas. Mas mesmo de estarrecer foram as atitudes descabidas e deprimentes do assessor (de quê?) do presidente, Marco Aurélio Garcia e de seu secretário fazendo gestos vulgares e chulos para comemorar a possibilidade, divulgada em rede nacional, de que o acidente poderia ser de falha no avião e não do descaso do governo.
Esta é a triste situação em que se encontra a nação brasileira!
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 24 de julho de 2007.