Em 11 de Junho, o ministro Mário Lino foi à Assembleia
da República anunciar o congelamento durante seis meses
da decisão sobre o Novo Aeroporto de Lisboa.
Decerto tinha nos ouvidos a frase de James Bond, traduzida
à sua maneira: “Jamais digas jamais”
Ha quem veja neste recuo face à Ota uma manobra maquiavélica. De uma
assentada, esvazia a polémica sobre o novo Aeroporto, evita que o assunto
contamine a Presidência da União durante seis meses, retira aos partidos da
oposição o controlo do debate, e adopta uma postura responsável face ao apelo
formulado pelo Presidente da República. E como brinde, ainda diminui o desgaste
da candidatura de António Costa a Lisboa.
Se acrescentarmos que é o Laboratório Nacional de Engenharia Civil a avaliar o
estudo de Alcochete e a Naer, a empresa responsável pelo desenvolvimento do
novo aeroporto, a pagá-lo, ainda mais parece uma boa manobra para quem quiser
sustentar a Ota dentro de seis meses. O problema é que uma manobra só é boa ou
má, por comparação com outras. E neste caso, depois da repulsa manifestada pelo
país em nome do interesse nacional, o Governo não tinha outra decisão
disponível.
Pelo caminho, ficaram naturalmente muitas mensagens públicas e privadas, de
muitos consórcios, grupos e personalidades. Houve muita manobras de
desinformação que entretanto se foram anulando entre si, com pena dos adeptos
das ‘teorias da conspiração’.
Mas uma coisa ficou: o recuo de 11 de Junho foi uma vitória da cidadania que
tornou evidente a fragilidade da opção pela Ota.
Com a queda do “jamais” comecaram a cair por terra os argumentos de Mário
Lino. O risco de perder os financiamentos europeus foi desmentido; e até
chegaram argumentos de Bruxelas que a localização de Alcochete poderia gerar
mais fundos. O atraso nas obras foi desmentido e confirmou-se que até se ganha
dois anos pois na margem Sul não são necessários os trabalhos faraónicos de
remoção de terras e construção sobre estacas.
E o efeito de dominó continua. Ha quinze dias atrás, estudar outras hipóteses era
muito caro. Mas depois de Rui Moreira, Presidente da Associacão Comercial do
Porto, ter revelado que o estudo sobre Alcochete foi combinado com o primeiro
-ministro, Mário Lino até aceitou estudar a Portela + 1. Assim, como defendem
João Soares e os candidatos a Lisboa, até poderão vir a cair por terra muitas
outras afirmações, como o esgotamento da Portela e os argumentos de segurança
e ambientais para justificar o seu encerramento.
Com tudo isto, ficam legitimados os argumentos dos especialistas que há dois anos
vinham a defendem o cenário de manutenção da Portela, com um segundo
aeroporto, que pode ser Alcochete, a crescer de forma modular e Montijo como
solução provisória. A espectacular tomada de posição dos engenheiros do Técnico
é uma óptima orientação.
O melhoramento do Aeroporto da Portela que está em curso ate 2012 começa a
recolher cada vez mais consensos. Todos os candidatos a Lisboa o defendem,
com excepção de Antonio Costa. A transferência do AT1 de Figo Maduro para
uma outra base militar na envolvente de Lisboa - Alverca ou Sintra – e o
prolongamento para norte do taxiway nascente da pista 03/21; e deslocação desta
pista 390 m para norte acaba com o problema de seguranca criado pelo
atravessamento da pista e permitiria às aeronaves descolar a meio da pista alongada,
poupando mais decibéis à cidade de Lisboa.
Aumentam tambem em flecha as razões para adaptar a Base do Montijo a voos
low-cost e charters do espaço Schengen. As instalações necessárias para quem
vem da Europa Schengen são diminutas e qualquer turista será privilegiado em
chegar a Lisboa, atravessando o Grande Estuário. Alem disso, os terrenos sao da
Força Aérea, ou seja, o Estado tem uma boa solução anti-especulativa. A região
metropolitana de Lisboa garantia assim um modelo aeroportuário suficientemente
eficaz e competitivo para o mercado que temos (e que capta as low-cost)
Richard de Neufville, especialista de MIT, veio a Lisboa dar este mesmo recado:
adiar investimentos até a respectiva necessidade ser demonstrada. E toda a gente
sabe que não há nada como um estrangeiro a falar para os provincianos ouvirem a
razão já provada por nacionais.
E finalmente, Alcochete. O estudo apresentado ao Governo vem confirmar que no
campo de tiro de Alcochete – e o mesmo se poderia dizer de Faias, Rio Frio e
Poceirão - há toda a conveniencia em implementar já em 2007 a reserva de terrenos
com cerca de 6000 ha para um novo aeroporto, se o crescimento dos movimentos
o exigir. A evolução mundial do tráfego aéreo, do preço do petróleo e dos fluxos
turísticos dirão quando iniciar essa construção, de um modo faseado, pista a pista,
criando um aeroporto definitivo a longo prazo com as infra-estruturas necessarias.
Com tantos dominós a caírem, é caso para dizer que se deseja que no LNEC haja
“especialistas no assunto”. A independência dos cientistas do LNEC será muito
importante nesta fase.
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Mendo Henriques