A morte, o médico e o poeta
Para os médicos sempre foi uma situação difícil encarar a morte de seus pacientes e a possibilidade certa da sua própria finitude. Talvez pelo acalento do ilusório sentimento que eles têm nas mãos os recursos científicos para enganá-la ou até mesmo protelá-la por um pouco mais de tempo. Mas todos sabem que há um limite intransponível para o qual não há força que a vença, e que é necessário encará-la como um facto natural e essencial no ciclo da vida. É preciso ter humildade para aceitar a nossa impotência, e entender que em certos casos, aqueles em que não há mais esperanças, usar de artifícios dolorosos e deprimentes para manter um sopro de vida, é prolongar a agonia e o sofrimento do paciente. Aceitar a inevitabilidade da morte e propiciar a saúde, com o mínimo de dignidade e bem estar, é o dever daqueles que têm como profissão tratar dos seus semelhantes.
Mas é através da arte, da literatura e da poesia que a morte se torna mais leve e aceita para a humana consciência.
Vinicius de Morais, o nosso amado e grande “poetinha” escrevia em” O haver”.
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“Resta esse diálogo cotidiano com a morte
Esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionado,
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.”
Para Fernando Pessoa, hospede do mundo, homem de muitas vidas:
Tem só duas datas: a da minha nascença e da minha morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. Morrer é só não ser visto.
E Alberto Caeiro, um dos seus heterônimos, o seu lado mais simplório e claro de ver, declamava:
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo.
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei, não pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada, antes da curva.
Porque só não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para o outro lado
E para aquilo que não vejo
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
A. C
Continuemos até Deus querer...
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 08/07/07