Vinho, garrafas, rolhas e saca-rolhas
O vinho, liquido precioso, das uvas retirado, há séculos e séculos por civilizações divinizado e apreciado, por andantes, mareantes e mercadores do mundo era consumido fresco porque o contacto do liquido com o ar, o calor e o movimento logo o estragava. O condicionamento e armazenamento em garrafas tem história recente. Antes era guardado em tonéis e vasilhas de barro ou de metal, sem vedação eficiente, o que favorecia a reacções químicas que logo o avinagravam.
Foi no século XVII com Dig by, vidraceiro que descobriu uma maneira de fazer garrafas mais fortes, colocando mais areia à fabricação do vidros e fazendo gargalos mais altos, que se notou que o vinho assim acondicionado durava mais. Era a menor área de contacto do liquido com o ar que diminuía as reacções químicas que o preservavam. Ao princípio usava-se buchas de pano ou de couro para vedar a garrafa até que na Península Ibérica surgiram as rolhas de cortiça, material limpo, macio, adaptável ao gargalo, com propriedades isolantes que facilitavam a conservação do vinho. Embora as rolhas de vidro esmerilado (bouchée à l'émeri) já fossem conhecidas e usadas, por quebrarem-se mais facilmente estas e as garrafas ao serem destampadas, aos poucos foram pelas de cortiça trocadas.
Com as garrafas de vidro e as rolhas de cortiça passou-se a estocar o vinho. Observou-se que a rolha molhada quando se guardava a garrafa deitada mantinha o espírito (álcool) do vinho, tornando-o mais longevo. Mas para abrir a garrafa alguém um dia notou que um utensílio de aço em espiral, já usado para tirar balas e buchas de armas de fogo, se proporia bem a essa função. Assim nasceu o saca-garrafa, nomeado hoje em dia saca-rolhas.
Curiosidades e generalidades sobre a cortiça:
A cortiça provém do sobreiro, árvore que madura (25 anos) de 9 em 9 anos dá uma casca grossa, que tirada com técnica (descortiçada), sempre no verão, dá o material para a confecção das rolhas, e outros produtos, sem matar a árvore.
As cascas do sobreiro ficam secando por 3 meses. Após isso são lavadas numa solução com fungicidas e guardadas num lugar fresco e escuro. Meses depois são cortadas e confeccionadas. Da espessura de uma boa placa
(amadia - 3) faz-se a inteiriça longa e boa rolha, reservada para os melhores vinhos. Das lascas e aparas restantes faz-se aglomerados para confecção de rolhas inferiores.
A árvore é resistente até ao fogo devido à sua casaca isolante.
Portugal é o maior produtor de cortiça do mundo (Alentejo) e produz as melhores rolhas para o comércio vinícola.
Ref. bibliográfica. A História do Vinho (Hug Johnson).
