(IR)RACIONALIDADE TRUMPISTA
O francês Nicolas Chauvin serviu ardorosamente nas campanhas napoleónicas e, depois da derrota final dos seu ídolo, em Waterloo, regressou a França graduado em sargento e inaugurou o culto do chauvinismo, ou seja, "França primeiro", "França é o melhor do mundo", fenómeno psicossocial semelhante ao sebastianismo português pós Alcácer Quibir. Todos conhecemos movimentos do mesmo cariz que ocorreram na Alemanha, Itália e Rússia, após derrotas catastróficas. Os chauvinismos são pois movimentos populistas compensatórios dos grandes traumas políticos que um qualquer país sofreu. Servem para manter ou reforçar o amor próprio patriótico, ingrediente essencial da nação: O que aconteceria a uma nação que deixasse de se amar a si própria? Lamentável é que para um povo se amar a si próprio seja necessário que "desame" os outros e desacredite a suas próprias elites. Todos estes populismos tem uma característica comum: o propósito de desmontar a elite estabelecida.
O surpreendente no trumpismo - America great again; America first - é que se impôs sem derrota prévia. Os EUA não terão já a superioridade que detinham no final da II Guerra Mundial, não serão omnipotentes nem invulneráveis, mas continuam hegemónicos. Talvez isto tenha acontecido porque na América o populismo existe em latência desde a Fundação da União. Poderemos até admitir que a Revolução Americana foi um processo de apropriação por parte de uma elite de um impulso caótico genuinamente popular. Ao longo da História americana, os dois partidos souberam sequestrar as sucessivas explosões de sentimentos populares; desta feita porém foi uma pessoa isolada que captou o sentimento e sequestrou um Partido.
O populismo-trumpista actual resultaria da adição de uma frustração de cariz marcadamente socioeconómico. O Povo deu-se conta que as elites o ignorava e começou a organizar-se. Mas Trump não é povo, Está muito longe de ser outro Nicolas Chauvin ou outro Bandarra. Será talvez outro elitista a tentar domesticar um forte impulso popular que poderia gerar o caos.
Luís Soares de Oliveira