"LOS JUDIOS EN ESPAÑA"
No recém-publicado livro "Los Judios en España", o Prof. Joseph Pérez, da Universidade de Bordéus, propõe, entre outras, as seguintes conclusões que apresentam alguma novidade: O judeu ibérico não seria da raça semita-hebraica. Não há notícia de qualquer migração maciça proveniente de Israel. Os mais de meio milhão de judeus existentes no século XV seriam na sua grande maioria descendentes dos convertidos com resultado da actividade prosélita desenvolvida junto dos nativos pelos israelitas (comerciantes?) que visitaram a Península durante o período do Império romano. Até à invasão visigótica o proselitismo tanto judeu com cristão teria sido intenso e deu origem a um sentimento de profunda rivalidade entre os cleros respectivos que perdurou até aos tempos modernos.
Assim mesmo, a expulsão dos judeus de Espanha, 1492 [Portugal, 1498], não pode ser entendida como um fenómeno religioso. Trata-se de um fenómeno político que só pode compreender-se no contexto do processo de centralização e absolutização do poder real iniciado pelos Reis Católicos. O poder absoluto não convive com a diversidade de culturas; rejeita a pluralidade e exige a homogeneização do meio humano em que se instala. O mesmo aconteceu em França com Luís XIV, na Alemanha com Hitler, em Portugal com D. Manuel I e só não aconteceu em Inglaterra porque Cromwell frustrou o processo de absolutização iniciado por Charles I. No caso espanhol, a igreja mas não foi o instigador. O instigador foi a coroa, principalmente Fernando de Aragão. (A Igreja não queria expulsar; queria converter).
Não foi a saída dos judeus ricos e empreendedores que provocou a ruína económica de Espanha. Ficaram capitalistas com posses e contactos suficientes para manter a economia a funcionar nos moldes pré-expulsão. O que foi prejudicial à economia foi a cultura absolutista. Com a exclusão das culturas minoritárias judaica e mudéjar a cultura única subsistente privilegiava a nobilitação, mediante serviço prestado ao rei, tanto com a pena como com a espada e desprezava o comércio e toda e qualquer iniciativa privada. Todos queriam ser nobres funcionários ou soldados e a ninguém apetecia trabalhar nos campos e oficinas e transaccionar. Disto nos dá conta de forma genial Cervantes no seu D. Quixote. Foi esta atitude que afundou a economia espanhola, até aí próspera. O poder absolutizou-se mas Espanha ficou pobre. O fenómeno repetiu-se noutras latitudes e noutras épocas. (Em Inglaterra , pelas razões acima expostas, deu-se o fenómeno contrário: William Pitt explicaria a um seu embaixador: Temos que ser comerciantes antes de ser soldados).
Os judeus individualmente mostraram-se mais empreendedores do que os professos das restantes religiões. O Prof. Pérez atribui a razão deste avanço ao facto de no ensino judaico se exigir do iniciado, desde tenra idade, a interpretação do Tora, enquanto as restantes religiões se contentavam com meros exercícios de memorização.
No exílio, os Sefarditas (judeus oriundos da Península), mais expostos ao pensamento grego trazido até aqui pelos árabes, mostraram-se mais racionalistas do que os Askenazi (judeus oriundos da Alemanha e Europa central). Entre estes dominavam os ortodoxos; entre os sefarditas, os oriundos de Portugal eram os mais cultos e os de maior prestígio, como se pode verificar pelo que fizeram em Amesterdão. Spinoza, de família portuguesa, era herdeiro da tradição racionalista iniciada por Maimónides e afastou-se tanto dos seus irmãos de fé que acabou por ser expulso da sinagoga e da comunidade hebraica de Amesterdão. [O autor poderia também mencionar o que os judeus portugueses fizeram em Nova York]
Cascais, Dezembro de 2005
Luís Soares de Oliveira