Viagem a Itália
"Mãe, temos de comprar os passes" e eu, concentrada na minha pronúncia italiana, "Voglio tre passi, per favore". E o homem, fazendo 3 passos com os dedos no balcão do guichet, "ah..tre passi non ce l'ho" muito educado e composto, tirando os olhos a rirem, "ah.. e tre biglietti, ce l'ha?" eu, com a mesma compostura, "si, tre bighlietti ce l'ho"... diálogozinho cheio de ironia e humor pela banal tarefa de comprar bilhetes para os vaporetti, os barcos de transporte público, muito frequentes.
Veneza – lindíssima, La Serenissima está limpa e bella, silenciosa e sem pombos (quase). Ficámos numa casinha no Dorsoduro. No r/c, a salinha de pequenos-almoços e em cada andar (3) um quarto com casa de banho. Os venezianos andam sempre depressa, distinguem-se tão bem dos visitantes, que andam sempre tão devagar. E como não andar devagar se de centímetro em centímetro há coisas bellas para admirar?
De carro, seguimos para Siena. Auto-estrada de montanha, estreita, com filas contínuas de camiões na faixa da direita, se fosse eu a guiar ainda vinha atrás do 5000º que era um TIR enorme.
A praça de Siena é muito mais fantástica ao vivo do que nas fotografias, todo o conjunto é lindo, espectacular, dá para imaginar os cavalos do Palio a correrem no topo, às voltas, multidões a torcerem, belíssimas bandeiras e distintivos... sentámo-nos no chão para a nossa sanduíche e, entre as pedras do pavimento encontrámos um cravo de ferradura enterrado... atirado pelo cavalo em furioso galope? Que loucura, que beleza.
A Catedral tem uma alegre fachada, branca, cor-de-rosa, verde clarinho, colunas torcidas e anjinhos. Come mai tive o pensamento vergonhoso de que parecia um bolo de noiva de Paredes (adoro Paredes, sem ofensa) mas sem pingo de excesso, como explicar, a um milímetro do excesso sem lá chegar. O domínio dos excessos que em Veneza está por todo o lado... Dentro, sobriedade, regularidade, faixas brancas e verdes escuras do chão às abóbadas, ampla, linda, mosaicos no chão, frescos nos tectos. Os bancos têm placas douradas com nomes de família – como se decide, no século XXI, a prioridade de escolha de bancos? Durante a missa ainda se observam os bancos vizinhos, os dianteiros de preferência, calculo eu, procurando alianças e casamentos? Acendi várias luzinhas a tanta beleza.
Bologna é uma cidade sem trânsito, cheia de gente, cheia de comércio, com monumentos estranhos e bellos: as duas torres altas e tortas, as 7 Igrejas encaixadas umas nas outras. Na hora do aperitivo, os cafés preparam-se com longas mesas cobertas de coisas deliciosas, sempre em self-service. Muitos estudantes, de todo o Mundo, ninguém resiste ao aperitivo...nem a encher demais os pratos da dose, aperfeiçoar imenso o equilíbrio é outra virtude do aperitivo.
E o chocolate quente, com menta, na esplanada aquecida?
No Domingo de Páscoa fomos a uma missa em Modena, tanta alegria no ar, famílias inteiras a cumprimentarem-se, enormes cestos de ovos de chocolate para as crianças! E almoço num dos poucos restaurantes abertos, o "7 peccatti", lindo.
O problema de viajar por Itália? É que depois só se quer ir a Itália.
Linda-a-Velha, Abril de 2007
Maria Eugénia Múrias