CRÓNICAS DO BRASIL
A Propósito do PIB, onde está o crescimento?
Aproveitando o bem humorado texto de prezado amigo Francisco Amorim, O PIB, A DONA MINISTRA E A CEFALOPODOCRACIA, que tem na sátira a sua marca registrada, gostaria de levantar alguns pontos que, como leiga em economia política, fico por entender. Vejamos:
É facto, o FMI diz que as pessoas estão menos pobres porque podem comprar uma cesta básica. Mas não é o governo quem patrocina essa cesta? Portanto não é o indivíduo que tem esse poder aquisitivo. Então é falso dizer que se diminuiu a pobreza. O que se tem é uma transferência temporária de “riqueza”. No dia em que o povo parar de receber a cesta, se não houver outra fonte estável de ganho, ele volta à pobreza. O que se depreende é que um povo que precisa da ajuda do Estado para comer é porque o governo é insuficiente para lhe dar condições de autonomia.
Dizem também que o desemprego diminuiu, só não dizem que a maioria desses empregos é forjada, através do enorme inchaço do governo, que absorve gente a rodo, distribui colocações a torto e a direito nos serviços públicos e reintegra funcionários demitidos desde a época do Collor. Todos esses empregos mantidos pelos impostos dos contribuintes, para o governo, dos” menos ricos”, para aqueles que produzem, dos “menos pobres,” que trabalham de modo assalariado e que vêem nos contracheques do mês descontos pesados e imediatos nos seus salários.
De facto a inflação está contida, isso desde FHC, e sem dúvida o mais carente, o que ganha salário ou bolsa família, teve uma melhora no poder aquisitivo. Mas os que geram emprego e riqueza, ainda não estão crescendo!
Gostaria de saber dos economistas, daqueles que entendem do riscado, a explicação como pode o PIB de repente crescer. Será que é porque agora os parâmetros para os cálculos foram alterados pelo governo? E é correto comparar o actual índice com os índices anteriores, que foram calculados diferentemente? Isso não é manipulação de dados?
O governo diz que aumentaram os empregos entre os jovens, mas as estatísticas da FGV (Fundação Getúlio Vargas) dizem que as ofertas para os saídos da Universidade caíram. Supõe-se que o mercado de trabalho dê emprego de preferência aos qualificados, se não o faz é porque não cresceu ou então porque está usando mão de obra barata ou não qualificada.
Estatísticas em 1995 davam taxas de desemprego entre os jovens de 10% com ganho médio de 521 reais. Em 2007 a taxa está na ordem de 18% e o ganho médio caiu para 465 reais. Isso é crescimento?
Tudo faz matutar, se o país cresceu como dizem o governo e o FMI, porque os jovens não querem sair da faculdade, prolongando o curso com estágios e subespecializações, postergando o acesso ao mercado, cada vez mais concorrido? Será que é porque eles não se sentem bem preparados? Será que não há vagas suficientes para absorver os profissionais que saem todos os anos das faculdades e dos cursos profissionalizantes? Se for por isso, onde está o crescimento?
Mas o governo continua a “distribuir cultura”, e a toque de caixa. Agora dá universidade para todos, o tal programa da PROUNI. Resta saber que fazer com tantas cotas distribuídas de forma preconceituosa, com tantos cursos dados sem estofo e qualidade, que despejam a espaços cada vez mais curtos jovens mal preparados no defasado mercado de trabalho. É assim que se resolve a desigualdade, vilipendiando a educação, oferecendo diplomas como brindes, fingindo que o país está evoluindo?
As pesquisas dizem que o Presidente continua com alto índice de popularidade. Talvez porque ele priorize no seu governo a distribuição de cestas básicas e cotas para as Universidades, planos sociais que atingem a grande maioria da população brasileira que é carente material e culturalmente. Mas será que é por aí que se vão resolver as chagas da pobreza e ignorância generalizadas? Com certeza o que se precisa é de muito, muito mais. E a segunda fase complementar do programa que o governo diz ter que não vemos chegar? Cadê os milhões de empregos prometidos?
Para tentar solucionar as dificuldades do Estado, o representante do Executivo deve ter seriedade e tino administrativos, visão clara do que é desenvolvimento, decisões e prioridades acertadas para trazer progresso ao país. Mas o Presidente continua há dois mandatos acima de tudo isso, vivendo como um espectador distante e diferenciado, dando opiniões óbvias e ululantes à mídia, em mini-discursos ocasionais e bem humorados, discutindo interminavelmente com os ministros e a sociedade, como um candidato, não como o dirigente da nação, de quem se espera uma atitude enérgica e imediata para enfrentar os nossos urgentes e graves problemas. Discurso ele sabe ler, improvisações sabe fazer, mas decidir e agir...
A população brasileira consciente continua a esperar, ansiosa, as respostas do governo. Mas pelo andar da carruagem, tomara que não estejam construindo para o país um ídolo com pés de barro.
Maria Eduarda Fagundes
12/04/07