CRÓNICAS DO BRASIL
ÀS AVESSAS
Fazer uma reforma, profunda, a sério, em algumas das estruturas fundamentais do país, como a fiscal, a política, a da segurança social, a agrária, e diversas outras... é só p'ra macho. E sendo macho antagónico de democracia, que significa jogo político, que significa sorrir e empurrar os problemas com a barriga, é evidente que tais reformas, indispensáveis para o progresso do nação - leia-se povo - só serão feitas quando a democracia, no mínimo, esmorecer.
Não é necessário ser-se mais esperto ou mais bem informado para se constatar que só se elege e mantém elevado o seu índice de popularidade, quem conseguir estar em permanente exposição de sorriso na cara, mesmo fazendo e dizendo um monte de bobeiras.
É o caso do nosso grande líder. Governar, o país que se governe sozinho, mas aparecer, sim, que isso é o principal objetivo.
Diariamente, só no jornal "O Globo", sexa aparece, SEMPRE, pelo menos em cinco ou seis fotos, sorrindo, sem que a notícia que acompanha tenha o mínimo valor, quando não é caricata.
Alguém está pagando, e caro, por essa publicidade indirecta, constante, massiva, esmagadora. E como anda agora mais bem vestido do que no tempo em que liderava greves, o povão acha que o Governo merece uns 60% de aprovação!
Em democracia, reforma significa perca de popularidade. Ninguém quer isso? Só os utópicos. O fundamental neste sujo, sujíssimo, jogo político é manter-se na crista da onda, roubar o máximo possível enquanto lá estiver e candidatar-se, sempre, a novo mandato, que significa a mesmice, o empobrecimento do Outro, a eternização das soluções.
A criminalidade deixa de ser um problema social para ser um caso de polícia, a corrupção um status quo aceite pela sociedade, a sonegação a práctica mais comum, a reforma agrária entregue na mão de baderneiros, sem que haja uma palavra de ordem, uma orientação, nem a mínima intenção de se envolver e resolver o intrincado problema.
Dizem os cientistas políticos que quanto mais democracia, mais fácil se torna resolver estes problemas. Pura filosofia barata. Demagogia. Tem-se assistido à evolução da democracia e ao aumento de miséria no mundo.
Democracia tem que ser como foi há dois mil anos: quem for capaz de pensar, vota. Para ser capaz de pensar tem que ter cultura. Para ter cultura precisa de instrução. Para ter instrução é preciso que os governos encarem a sério as bases do ensino e não queiram começar por reformar o ensino universitário. E, evidente, é preciso acabar com a fome.
Aqui a democracia funciona às avessas: de cima para baixo. Começa-se por querer reformar as Universidades sem se atentar ao ensino básico. Vamos assim formar Doutores ignorantes, continuando a maioria na ignorância total, adorando e votando naquele que aparecer mais vezes e com o sorriso mais simpático - e falso - nos órgãos de informação.
Rio de Janeiro, 11 de Abril de 2007
Francisco Gomes de Amorim