VIVA GALIZA !!!
Foi a Internet que me deu a conhecer o Ângelo Cristóvão, galego com presença habitual nos “Encontros da Lusofonia” que o Chrys Chrystello anualmente organiza em Bragança.
Ainda não o conheço pessoalmente mas como tenciono estar presente no próximo Encontro, em Outubro de 2007, espero então conhecê-lo. O mesmo se diga relativamente ao anfitrião.
O Ângelo Cristóvão tem feito intervenções sobre a língua na Galiza, nomeadamente sobre o português galego que há quem teime em torpedear castelhanizando-o ao máximo por mera conveniência da política espanhola.
Não creio que uma língua possa ser tratada de tal modo e parece-me que os actuais políticos espanhóis afinal nada aprenderam com a era franquista em que se espezinharam o catalão, o basco, o português da Galiza, etc. Os galegos têm tido um comportamento mais sereno que os bascos …
Foi essa serenidade que me levou a pedir ao Ângelo Cristóvão que nos explicasse em que situação se encontra actualmente a língua portuguesa na Galiza. Fi-lo como segue:
- “ (…) Estou certo de que a questão da língua na Galiza vai motivar enorme interesse dos nossos leitores. Dado que estamos muito fora do assunto, seria interessante que Você nos explicasse do que se trata na perspectiva linguística como reflexo dos problemas políticos. (…)
A resposta não se fez esperar:
- “ (…) Num artigo sobre a questão da língua da Galiza haveria muitos motivos para queixar-se da desigualdade legal entre o castelhano e o português da Galiza, da discriminação institucionalizada, etc. A mim interessa-me mais salientar os logros do que insistir nas lamentações, na mágoa. Certamente temos muitos problemas, mas começamos a fazer coisinhas interessantes. Há alguns contributos galegos cujo valor ultrapassa fronteiras, por exemplo, no terreno da literatura. Ora, o projecto mais importante para os próximos meses (e anos) é a criação da Academia Galega da Língua Portuguesa, e dela tratarei no meu texto. Sabe qual é o maior repto para mim ao escrever este artigo? Manter um discurso igualmente válido e interessante para galegos e portugueses, sem necessidade de explicações complementares. É difícil, porque o intelectual português em geral desconhece quase tudo da Galiza, enquanto na Galiza se regista um crescente interesse por Portugal e a Lusofonia em geral. Muitos vemos os telejornais da RTPI (através do satélite), lemos as notícias do jornal Público e o JN (na Internet), e compramos montes de livros e revistas editados em Portugal. Na Galiza sabemos o que significou o mapa cor-de-rosa de Angola a Moçambique, que provocou o ultimatum inglês, originando o que viria a ser hino nacional de Portugal. É curioso observar como aquele arranque de dignidade nacional, aquela agitação contra Inglaterra, tradicional aliado, desembocou na criação da república. "Contra os Bretões, marchar, marchar". Depois foi mudado: "Contra os canhões...".
A expressão "A bem da nação", lugar-comum em todo o planeta, exprime um paradoxo e uma contradição: ao dizermos "nação" apelamos a uma solidariedade interna. Contudo, o nome em singular implica necessariamente a existência de outras nações, o que exige uma espécie de solidariedade universal. A origem desta contradição tem de ser procurada na história da Europa, mais concretamente na história social do latim europeu, na substituição da expressão «nationes», pelo uso de «natio» em cada sociedade relacionada e identificada por uma mesma língua vernácula. São questões que não costumam ser explicadas nas aulas, e mereceriam alguma reflexão.
Bom, farei o artigo nos próximos dias, ou mesmo na Páscoa. (… )”
Aproveito para dizer que, no início do “A bem da Nação”, o conceito de Nação era efectivamente o dessa solidariedade interna mas que actualmente alarguei ao de “Nação Lusófona”, essa que só existirá se nós assim o decidirmos. Também comecei por tratar quase exclusivamente de temas económicos e de finanças públicas e, contudo, hoje já abordamos temas bem mais amplos. A linha editorial, essa, mantém-se incólume: identificação de problemas apontando soluções compatíveis com a democracia ocidental; debater ideias, referir factos para ilustração dessas ideias e nunca discutir pessoas, sobretudo se vivas.
Cá ficamos à espera da primeira “Crónica da Galiza”.
Lisboa, Março de 2007
Henrique Salles da Fonseca