CRÓNICAS DO BRASIL
O Rei Belchior
Os textos sagrados, coevos ou não, são um tanto confusos sobre aqueles três, ou quatro, segundo algumas fontes, Magos ou Reis Magos, que foram ajoelhar em frente de um Menino.
Esses Magos seriam o que chamaríamos hoje de Sábios. Eles sabiam que algo de grande, único, tinha acontecido, quando viram no firmamento aquela estrela, nova e brilhante, que se movia, e que eles entenderam que os estava a chamar.
Um deles ficou conhecido como o Rei Belchior. O que levou um pouco de ouro para o Menino pobre que acabara de nascer. Ele sabia que aquele Menino, apesar de ter nascido em condições de total pobreza, e talvez por isso mesmo, não era um Menino qualquer.
Porquê, e para quê, o Sábio-Rei Belchior terá vindo lá da longínqua Pérsia, atravessado montanhas e desertos para fazer semelhante oferta? Talvez para, com a sua sapiência, mostrar a todos os povos da terra a submissão das riquezas materiais a um novo mundo que esse Menino vinha anunciar. Os ídolos de ouro, já condenados e destruídos por Moisés, mas jamais erradicados da cabeça e da ganância dos homens, eram assim colocados no seu verdadeiro lugar: ajoelhados perante a Verdade, o Amor ao Próximo, a Paz. Um pouco de ouro para um pobre.
Hoje, passados dois mil anos, é cada vez mais assustador continuar a assistir-se ao extrair até à última gota de suor e de ouro aos pobres de todo o mundo. Tiram-lhes o ouro e as vidas e vendem-lhes quimeras e guerras.
Por estas, depois do festival de deploráveis manifestações anti-Bush, que não levam a lugar algum, mas ajudam sempre alguém a subir um pouco mais, começa agora a reinar a euforia de que vamos inundar os EUA com etanol.
O Brasil tem muita terra agrícola disponível, o MST tem 150.000 trabalhadores vagabundeando e assaltando fazendas e prédios do governo, a quererem terra, de modo que num vapt-vupt isto até parece que poderia virar o tal El Dourado! O equilíbrio do eco sistema que se...
Infelizmente não vai ser essa facilidade. A tecnologia já tira etanol da celulose, o que deverá ter um custo inferior ao da cana, e a burocracia e ladroagem vão impedir que, com a destreza necessária, o país avance um grande passo.
Vamos assistir, quem viver, ao Brasil crescer sim, quando o aquecimento global voltar a transformar a Europa num só glaciar. Aí sim, o ouro vai chegar aos bolsos de todos. Ou quase todos. Por ora distribui-se só entre a camarilha do desgoverno.
O que será difícil é ver o ouro ajoelhar-se frente a todos os meninos pobres. Parece que o homem não tem capacidade para entender que o verdadeiro ouro é a Paz.
Rio de Janeiro, 16 de Março de 2007
Francisco Gomes de Amorim