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A bem da Nação

O VICE-REINADO DO PRATA (4)

 DOMÍNIO INGLÊS NO PRATA

 

A PRESENÇA INGLESA  

  

 

No final da parte (3) vimos que a Espanha encontrou apoio no grupo mercantil da colónia e da metrópole e nos latifundiários, que lutariam contra os prejuízos do contrabando e as pastagens do gado respectivamente. Estes dois grupos estabeleceram aliança, que acabou por transformar em característica comum a todas as colónias hispano americanas com base em princípios e interesses económicos.

 

 O farol de Colônia do Sacramento. Farol de Colónia do Sacramento

 

     

A existência do contrabando enraizado entre os povos sul-americanos revela não apenas as mazelas do sistema colonial como também aspectos do comércio das colónias americanas. O factor de fundamental importância é que por trás do contrabando exercido pelos portugueses no Prata e pelos brasileiros depois da autonomia, operavam os ingleses.

 

(...) Os portugueses esforçaram-se por colonizar as imediações do Rio Grande e implantar ali os seus rebanhos com o fim de prover as necessidades do Rio de Janeiro. O exercício do contrabando foi tal, que fez cessar o comércio com os espanhóis e diminuir a arrecadação fiscal.

 

Desde os fins do século XVII, a Inglaterra pressionava Portugal com o objectivo de alcançar sua presença no Prata. O esforço inglês na conquista do mercado platino resultou na fundação, em 1680, e luta para a manutenção da Colónia do Sacramento pelos portugueses. Sacramento facilitou tanto o contrabando no estuário, quanto a apropriação das pastagens e dos rebanhos da Banda Oriental. A luta pela conquista ou pela destruição dessa praça lusa, que facilitava o contrabando, quebrando o monopólio da coroa espanhola, foi problema permanente  dos governantes coloniais e dos mandatários de Madrid.

 

"O êxito da ofensiva espanhola foi tanto mais surpreendente quanto, na defesa da Banda Oriental, Portugal pode contar com o apoio da Inglaterra."

(...) "Houve reclamação inútil ao governo do Rio de Janeiro no sentido de restituir a Colónia de Sacramento.

(...) A Inglaterra interessava comerciar pelo Rio da Prata para poder fazer chegar a Lima, por terra, os seus produtos. Estimulados, os portugueses, donos da Banda Oriental do rio, reforçaram a praça. O comércio de contrabando foi em aumento, com benefício para os habitantes de Buenos Aires e do interior, mas com grave dano para os interesses dos comerciantes da metrópole."

 

(Carlos H. Pizzurno: Leciones de História Argentina, Buenos Aires, 1939 pág. 279)

 

       

A fundação de Montevideu (1726) destinada a nova cidade e porto era servir de base aos navios que fariam o policiamento comercial do estuário. Visava quebrar ou enfraquecer as possibilidades, já amplas, de contrabando que a Colónia do Sacramento permitia.

   

"A história das lutas pela destruição ou conquista da Colónia do Sacramento pelos espanhóis, na realidade, abre o largo quadro dos conflitos platinos em que o Brasil se viu envolvido, antes e depois da autonomia, encerrado com a guerra contra o Paraguai".

 

No século XVII, a Inglaterra dividia com a França os direitos e lucros do contrato na competição pelos mercados americanos. Quando esses direitos e lucros foram monopolizados pela Inglaterra, a França perdeu sua posição na concorrência. A Inglaterra ganhou os privilégios ligados a Buenos Aires. À South Sea Company (Companhia do Mar do Sul), cabia o direito de adquirir terras na região. Apesar da alteração nas relações anglo-espanholas, a Companhia reafirmou suas pretensões territoriais por toda a duração do contrato. Assim Buenos Aires se manteve como a maior feitoria comercial da Inglaterra na América do Sul. A preeminência inglesa na região platina, acompanhava a preeminência de Buenos Aires. O comércio exercia uma função progressista e a Buenos Aires cabia uma função revolucionária.

 

A presença absorvente da Inglaterra no mercado platino e no porto do estuário iniciada no século XVII e em pleno desenvolvimento no século XVIII, iria marcar o pensamento económico e político predominante na época da independência. Ligaria a separação e o repúdio à dependência para com a Espanha à ideia de liberdade ampla do comércio. Liberalismo político e económico dominavam o pensamento de todos os grandes homens da fase da autonomia. A ideia capitalista desempenhou, na conquista da independência, um marco profundo e decisivo.

A cidade vinha sendo preparada desde o século XVIII, com a sua função comercial eminente e com os interesses que congregava e representava. O movimento pela autonomia, que liderou e desencadeou, foi diferente dos outros da época; mesmo daqueles surgidos na área de dominação espanhola. Diversa daquela que teve, por exemplo, o Rio de Janeiro. Na sede colonial portuguesa não existia o núcleo mercantil com as características do existente em Buenos Aires, nem a aliança dele com o latifúndio tinha o mesmo carácter. O latifúndio brasileiro era agrário e escravista.

 

No entanto, a presença da Inglaterra foi marcante. Abrangeu a totalidade da área colonial do continente em todo o movimento emancipador. O objectivo era desvendar e dominar o vastíssimo mercado nela contido. As faixas principais eram, certamente, o Brasil e o Prata. No caso brasileiro, as condições foram facilitadas pela dependência em que Portugal já estava, há muito, em relação à Grã-Bretanha. Dificultadas, no caso platino, pela rivalidade anglo-espanhola. Neste caso, a Inglaterra coloca-se atrás de Portugal e do Brasil para actuar no Prata. A questão platina, com seus episódios militares inclusive, é a longa história da luta da Inglaterra para dominar o mercado sulino. Tem seu último ato, com a participação brasileira, na guerra contra o Paraguai. Sua finalidade - quebrar o isolamento em que vinham mantendo os governos de Francia e dos Lopes naquele país. Esta foi a causa fundamental da questão platina.

 

Campo Belo, 24 de Fevereiro de 2007.

 

Therezinha B. de Figueiredo  

    

 

 

 

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