CRÓNICAS DO BRASIL
Um verdadeiro patriota, daqueles que não se vê mais
No tempo da Restauração da Independência Portuguesa alguns filhos das vulcânicas ilhas dos Açores nos combates pela nação se destacaram. Entre eles o jovem Diogo Pereira de Lacerda, abraçara as armas como o seu destacado irmão, Gonçalo Pereira de Lacerda que lutara nas praças de Andaluzia, em Castela. (1643).
Diogo tinha no sangue o gosto pela peleja. Atirado e destemido foi enviado com outros faialenses para expulsar os castelhanos que ainda se mantinham aquartelados no Castelo São João Batista, em Angra. Derrotado o inimigo continuou a sua lida. Agora a pátria exigia a sua participação no Continente português para combater para lá da fronteira. E assim muito bem o fez. Restauração consolidada, o governo da Coroa portuguesa incumbiu-o de mais uma missão, desta vez em terras brasileiras.
Embarcou com outros açorianos na ROSÁRIO, a nau que lhe haviam destinado. A viagem corria tranquila sem percalços, nos mares atlânticos por corsários e piratas infestados. Certa manhã de céu claro sem nuvens e mar calmo, já perto da costa da Bahia, nos mares do Brasil, viram surgir no horizonte um alto e portentoso navio. Cautelosos e desconfiados desviaram o rumo, tentando despistar os desconhecidos. Inútil, a embarcação também, como eles, mudou de rota, na tentativa evidente de alcançá-los. Aproximava-se ameaçadora. Já então se podia ver a bandeira, era um corsário holandês, grande e perigoso inimigo nos mares dos portugueses. No convés a agitação começou frenética. Preparavam-se para a luta. Mosquetes, espadas, machados para abordagem, tudo era testado e preparado. A nau Rosário estava em desvantagem, o inimigo era mais forte e, por ofício, experimentado e competente. Logo as balas dos canhões de lado a lado atravessavam o ar, e certeiras atingiam o alvo.
Na batalha naval Rosário foi irremediavelmente atingida. Perdia a capacidade de fuga, enquanto arremetia cada vez mais perto a nau inimiga. Percebendo o desfecho que os aguardava, Diogo Pereira de Lacerda fez um trato com os demais companheiros, juraram não entregar Rosário, jamais deixariam a bandeira das cinco quinas ser substituída pela bandeira dos corsários holandeses. Decidido, Diogo talhou um plano, por instantes, desceu ao paiol, destampou os barris de pólvora, e num melhor colocou um rastilho e acendeu-o. A passos rápidos subiu ao convés. O corsário holandês, antecipando o festim, manobrava procurando a melhor abordagem quando, num momento de espanto e horror, um grande estrondo, seguido de um calor e clarão infernais, a todos abrasou. A nau Rosário e os seus tripulantes desapareceram no mar da Bahia, para sempre, honrando o estandarte português.
Uberaba, 28/01/07
Maria Eduarda Fagundes
Anais do Município da Horta
História da Ilha do Faial (Marcelino Lima)
(1943 Oficinas Gráficas Minerva - Vila Nova Famalicão)
III edição 1981
A&H Printing Inc.
284, Waterman Ave, East Providence, R. Island