CRÓNICAS DO BRASIL
Título II - Cap. 1 - Art° 5 - I
«Todos os homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações... » (Constituição brasileira)
Naquele tempo... o Coelho, moço de recados da maior empresa do país, chega ao trabalho e recebe do seu chefe, o Bocagrande, lágrimas de crocodilo a aflorarem, a notícia: -Seu coelho! Morreu hoje o nosso diretor presidente! Era um asno bom. O coelho reage: -Eh! Pá! Que maravilha! O chefe, espantado: -Porque você se alegra? - É uma vaga, uma vaga que se abre!
Após as convenientes funebridades logo outro asno assume as funções, e no discurso de posse afirma: "Vamos reduzir despesas para sermos mais eficientes. Ouvem-se uns apoiados, inclusive do coelho, e logo no primeiro dia surge a medida base: -Para maior eficiência, anunciada, duplicam-se os salários dos diretores. E para encolher as despesas despedem-se os funcionários não operativos. - Quem vai ser despedido? Pergunta o coelho. -Você!
No país do "faz de conta" a alegria corre solta pelas multidões! Há miséria, assaltos quotidianos, mais mortes à bala do que no Iraque, mas uma luz, uma luz forte surge no finalzinho do túnel. E não é daqueles túneis feitos sob encomenda, aliás muito bem feitos, que vão dar aos cofres dos bancos, não siô. Juízes e promotores dobram os seus salários, que já eram os maiores do país, os deputados procuram fazer o mesmo, a seguir serão os ouvidores e fiscais da receita federal, deputados estaduais, vereadores, governadores, administradores e outros contraventores e.... tchan! Tchan! Tchan! Tchan! O povo se alegra: - Vai chegar a mim! Vão dobrar os salários de todo o mundo! Vivam os gatunos e congêneres. E... viva eu que vou ter que pagar a conta!
Diz o presidente (daquela empresa...) que só pode haver investimentos e evolução social se se reduzirem as despesas gerais. Falou e disse, com muita propriedade, e como pela Constituição todos são iguais, aumentam-se os proventos dos que mandam e reduzem-se aos que obedecem.
O coelho, desempregado, cavou uma toca no morro sobranceiro à cidade e passou a viver de expedientes: assaltava vez por outra, descobriu uns fungos que deixavam os asnos doidões e começou a enriquecer com a venda desses produtos que os grandes chefes diziam ser proibidos, mas "nada viam" com os presentes que o coelho, esperto, lhes dava para se calarem.
Até que um dia, já o coelho rico, riquíssimo, decidiu enfrentar aquela cambada de asnos com as mentalidades apodrecidas, e, num abrir e fechar de olhos tomou o lugar do presidente. Coelhos, ratos e outros tantos roedores, bem como os pequenos sáurios chefes menores aplaudiram. E ele, ufano, camisa e gravata de seda, oferecidas por um marqueteiro, botou discurso também:
- O país estava no caos. Houve que tomar providências. Assim, em nome dos abandonados, desempregados e desprotegidos decidi assumir a presidência. Mas vamos ter que cortar despesas, se queremos progredir. Os asnos são todos despedidos e os coelhos, ratos, ratazanas, camungongos e até as capivaras assumem os ministérios todos. O controle aéreo, dos despassarados será da responsabilidade dos beija-flores, os únicos habilitados a voar parados e para trás.
Um grande hurra acolheu este pronunciamento. Os animais continuam por lá circulando, cada um pensa que faz o quer, mas não faz, e as luzes no fim dos túneis, apagaram-se de vez. Sem elas a esperança... também se foi.
Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2006
Francisco Gomes de Amorim