CRÓNICAS DO BRASIL
MUITO INDECENTE
Teresa Gomes contracenando com ...(?)
Saquilo cagente sente
Cá dentro tivesse voz
E falasse às multidões!...
Seria MUITO indecente
Estar alguém ao pé de nós
Em certas ocasiões.
É verdade. Quantas vezes nos obrigam a calar o bico para «deixar a banda passar»!
Nestas abençoadas terras brasilienses acabámos há pouco de assistir a um espantoso diálogo de surdos-mudos: a campanha eleitoral, com especial destaque na segunda parte.
Um candidato, com um tremendo carisma popular e com um também tremendo histórico de inépcia e corrupção nas costas, enfrentando um pseudo alquimista desconhecido, sem capacidade de aparente liderança, confiado na rejeição do oponente para a sua vitória, nunca apresentando aos eleitores alternativas convincentes de governo, e sem se atrever a falar às multidões, abertamente, no somatório de leviandades e roubalheira (porque não usar as palavras certas?) a que o país assistiu nos últimos quatro anos.
Tanto nas declarações publicadas em jornais, como nos diálogos televisionados, o resultado do confronto sempre acabava por um zero-a-zero! Nenhum metia golos!
E o povo à espera de ver acontecer algo porque anseia há dezanos, mesmo há séculos: a vitória da seriedade, competência, ética. E os órgãos de informação continuando a mostrar-nos o desgoverno, permanente.
Há ditados antigos que nos dizem que o silêncio é de ouro, mas há quem ache que «o silêncio é a arma e a virtude dos fracos».
Dependendo da ocasião ambos poderão estar certos, mas fica muito difícil calar quando se está no meio de tanto injustiça, tanto descaso, tanta vergonha.
Devemos ficar calados quando, por exemplo, só 4% dos políticos e comparsas da ladroeira dos últimos meses permanecem presos? Os outros 96%, quase 500 indivíduos, por aí vagueiam, ricos, pavoneando-se, uns tendo conseguido reeleger-se deputados e até senadores, e nós à espera, à espera de... de que? de ver a justiça tomar providências, e trancafiar na jaula dos inimigos da sociedade tal escumalha.
«Tomai cuidado com os doutores da lei que fazem questão de andar com roupas vistosas, de ser saudados nas praças públicas; de ocupar as primeiras cadeiras e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram os bens da viúva* fingindo fazer grandes orações. Por isso sofrerão a mais rigorosa condenação». Diz o Senhor, Mc 12, 38
Mesmo que pareça muito indecente, o melhor é seguir também nas pisadas do grande mestre Camões:
"Cantando espalharei por toda a parte..."
* também o Estado!
Rio de Janeiro, 11 de Novembro de 2006 - Dia de São Martinho
Francisco Gomes de Amorim
