CRÓNICAS DO BRASIL
SISTEMA INTERMEDIÁRIO DE ATENDIMENTO
Maria Eduarda Fagundes, médica brasileira nascida portuguesa
As profundas mudanças que têm ocorrido neste ultimo século atingiram o mundo de uma maneira geral, não só sob o aspecto ambiental como também no aspecto social. A medicina foi uma das áreas humanas que mais modificações sofreu. A tecnologia e novos conhecimentos científicos ampliaram a capacidade de diagnóstico de doenças e de tratamento do ser humano. O grande crescimento populacional obrigou governos a criar políticas sociais de atendimento de saúde a todos (pago através de contribuições previdenciárias e impostos), para minimizar os possíveis efeitos de doenças que pudessem acabar com a qualidade de vida dos cidadãos e/ou arrasar com a população, botando com isso em risco a nação.
Com a força da Economia surgiram os planos de saúde privados, as cooperativas trabalhistas e os seguros que prometem atendimento médico diferenciado com cobertura de todas as necessidades de saúde do cliente, com algumas poucas excepções... (escritas em letras bem miúdas, quase invisíveis), a preços módicos nem sempre razoáveis para os médicos atendentes que pressionados pelo "mercado inflacionário" e pelo poder económico das empresas se vêem obrigados a trabalhar, para se sustentar, por baixa remuneração, apesar dos esforços do sindicato da categoria....
A medicina, profissão baseada na ciência, praticada com arte e liberalidade, era fundamentada no conhecimento da clínica e na confiança de um relacionamento médico-paciente, onde o profissional era mais que o consultado, era também o amigo e confidente. Hoje a tutela do Estado (ou da Empresa Privada) assume o papel de intermediário entre o paciente e o médico contratado, e dita as regras que formatam protocolos de atendimento, quase sempre embasados em exames complementares, subestimando o componente clínico, onde o paciente se transforma em cliente, e este por sua vez, quando não satisfeito, submete a qualidade do atendimento à normatização (1) do Código do Consumidor.
No âmbito do consultório, o paciente-cliente, como pagador-cobrador, questiona diagnósticos, terapêuticas e prescrições, embasado em pesquisas internéticas, exigindo do profissional este ou aquele exame ou procedimento que nem sempre é necessário ou que está atado ao seu plano de saúde. O médico, no meio disso tudo, vê sua palavra quebrada e sua capacidade de acção limitada por forças maiores de um Sistema Intermediário de Atendimento que muitas vezes o submete e desqualifica, prejudicando, ao final, não somente a ele como principalmente o paciente.
Uberaba, Novembro de 2006
Maria Eduarda Fagundes