Duas perguntas ao candidato Cavaco Silva
Numa entrevista recente, Cavaco Silva, interrogado sobre se admitiria no caso de ser eleito, fazer como Mário Soares um Congresso "Portugal que futuro?" (realizado em 1994) respondeu: "Nunca farei actuações para fragilizar quer os partidos políticos quer o Governo."[Expresso 14 Jan.]
Pergunto ao candidato Cavaco Silva se alguma vez se debruçou sobre as 368 comunicações apresentadas no referido Congresso (que teve 5278 inscrições) e sobre os relatórios finais das 7 secções em que foram apresentadas, e se só viu neles um propósito de fragilizar os partidos e o governo e não um notável esforço da sociedade civil portuguesa para abrir "avenidas de discussão" no sentido que António Sérgio deu à expressão.
O propósito deste Congresso foi : "renovar e alargar as formas e os meios de intervenção dos cidadãos na vida política nacional". Nem todos participaram nele, mas as avenidas foram abertas .
Passados 12 anos, há que reconhecer que os progressos não foram grandes, e o deficit de debates aprofundados e esclarecedores é hoje, possivelmente, o maior deficit da sociedade portuguesa. Como combate-lo? Parece ser uma tarefa que, numa larga medida, compete ao futuro Presidente da República.
Numa entrevista recente, em que apresentou ideias para inovar em Belém, Mário Soares, além de falar em "presidências de proximidade" e encontros regulares com os partidos, falou em promover "encontros temáticos duas vezes por ano, para debater grandes questões (reformas do Estado, modelos de desenvolvimento .) com especialistas. " [D.N. 3 Jan.]
Parecer-me esta ideia dos "encontros temáticos", uma ideia muito feliz para discutir as grandes questões que interessam ( e afligem) a sociedade portuguesa: a Educação, a Saude, a Segurança Social, a Economia, os Transportes e o Ordenamento do Território, a organização e papel do Estado, etc., etc.
Pergunto, assim, ao candidato Cavaco Silva se tem a intenção de fazer algo de semelhante, que permita aos portugueses influenciarem o futuro do seu país, ou seja, o seu destino, sem ficarem na simples espectativa do que o Presidente da República pode fazer por eles, e reduzidos a ser meros espectadores dos programas que (com algum mérito) as televisões organizam para eles. (16 de Jan. 2006).
António Brotas
PS.- Espero que Fundação Mário Soares, independentemente do resultado destas próximas eleições, digitalize e torne acessiveis as comunicações do Congresso "Portugal que futuro?"e de outros encontros que se venham a verificar do mesmo tipo.
