CRÓNICA DO BRASIL
Era uma vez o Plutão!
A sereníssima comunidade dos universais astrônomos em reunião magna decidiu, por maioria, e não por aclamação, que o pobre e miserável Plutão tinha que ser expulso da comunidade dos "autênticos" planetas solares. Foi rebaixado a planeta-anão, o que sem dúvida significa um enormissimo avanço para a ciência e uma imensa tranqüilidade para as crianças que terão menos um nome a decorar!
O Brasil já havia partido na frente, em 1993, nesses considerandos de autênticos e anões! O Congresso expulsou três anões que, como a fábula do boi e do sapo, estavam a inchar demasiado - os bolsos - para atingirem o tamanho dos "autênticos", os maiores, os grandões, que como disse um ministro na ocasião: "O que é bom, a gente fatura. O que é ruim, esconde".
Que saudades do tempo em que os primeiros reis de Portugal, à medida que iam alargando as fronteiras, na conquista do espaço ocupado pelos chamados mouros, concediam Cartas de Foral aos povoados fronteiriços, para atrair moradores, mas impondo-lhes, além dum tipo de governo totalmente popular, pesadas coimas ou multas para quem prevaricasse.
Para os ladrões a multa era o pagamento ao lesado do dobro roubado e mais nove vezes esse valor para os cofres públicos! Não sei se havia muito ladrão naquele tempo, mas o que certamente havia era pouco estímulo para roubar.
Hoje inverteu-se a situação: quem rouba é xingado duas ou três vezes nos órgãos de comunicação, ficando famoso e invejado e logo as CPIs, os processos judiciais e até o povo o deixa no esquecimento.
Os famigerados anõesinhos do orçamento... o que lhes aconteceu? Nada. Absolutamente nada. Deixaram o congresso (letra mínima) ricos, milionários, sem terem devolvido aos cofres públicos nem um ceitil*!
Já pensaram se essa banditagem tivesse que devolver ao lesado - os nossos cofres - o dobro do que roubaram e ainda mais nove vezes isso mesmo como condenação? Se aos mensalões, sanguessugas, bingos, e mais um monte de outras ladroagens que a toda a hora estão a ser expostas ao público, se aplicasse aquela lei antiguinha do Rei Afonso Henriques... o Brasil, de país rico, ficaria riquíssimo.
Mas o Rei Afonso Henriques era Homem. Macho. Sério. Lutador e organizador.
E os governantes e políticos do Brasil?
Tem algum que escape? Pela opinião pública, é difícil. Mas permita Deus que sim, que não baixem os braços, sejam machos, e enfrentem a canalha até a esmagarem. O povo estará com eles.
Lá, nos céus, o Plutão foi corrido do pelotão dos grandes, enquanto aqui em baixo engrossa-se o pelotão dos "anões"!
* Ceitil: antiga moeda portuguesa que valia um sexto de real!
Rio de Janeiro, 28 de Agosto de 2006
Francisco Gomes de Amorim