CRÓNICA DO BRASIL
Maledetti voi e noi
Muito bom o filme "Piazza delle Cinque Lune", que conta a história duma investigação sobre o seqüestro e assassinato, pelas Brigadas Vermelhas, do líder da Democracia Cristã na Itália, Aldo Moro. Dá muito que pensar quando se vê o quanto somos impotentes contra tanta trama de "alto nível" e poder que, mais ou menos descaradamente, continua a conduzir os destinos da maioria dos seis bilhões de terráqueos. No final do filme o neto do estadista assassinado, Luca Moro, faz uma breve aparição, cantando "Maledetti voi", com alguns versos que dizem também "Maledetti noi"!
Malditos vós que nos tratam como insetos, desprezíveis, que nos ignoram, que atropelam tudo e todos para alcançar objetivos que servem a interesses escusos e dissimulados, e malditos nós que na maioria das vezes nos comportamos de modo covarde, impassível, perante a corrente contínua de vergonha que nos faz espectadores dum mundo cada vez mais desigual e menos confiante.
Isoladamente cada um de nós é abaixo de inseto. Nada vale. Mas se fossemos capazes de nos darmos as mãos, de nos olharmos como irmãos, já seria muito difícil que nos impusessem leis, injustiças e vontades que beneficiam uma minoria, espantosamente pequena, em detrimento dos, quando isolados, mais fracos.
Corre pela Internet uma argumentação furada: Vote Nulo, como se isso resolvesse os problemas do país. Só piora, porque as corporações, normalmente de bandidos ou compadrios, teriam mais facilidade em se locupletarem com os votos úteis.
Infelizmente no Brasil uma esmagadora maioria do povo votante tem um tremendo atraso cultural. Não se informa nem arregaça as mangas para lutar contra o status quo que é o descalabro dos legislativos e dos executivos a todos os níveis. Os órgãos de informação dão espantoso destaque a desgraças fofoquentas como o julgamento duma facínora que matou pai e mãe, à facada e que talvez só fique quatro anos na cadeia. O destaque não é porque a população se indigne com tamanha injustiça, não. É porque isso é bom para fofocar!
Entretanto não se apercebe, por exemplo, que o governo decreta novos valores mínimos de produção para que as terras - propriedades - agrícolas sejam consideradas produtivas ou não. Os novos valores são absurdamente altos. Alguns valores são superiores às colheitas do ano passado, o que significa que essas terras, num abrir e fechar de olhos, podem ser expropriadas e entregues à sorte do MST. O que isto significa? Primeiro, que eventuais investimentos no setor agrícola tenderão a desaparecer. Quem vai querer investir e ficar com uma espada, amaldiçoada, em cima da cabeça? Depois, como o MST não é capaz de gerir o agro negócio, as exportações, sustento primário do nosso balanço comercial, se irão, sem dúvida, ressentir.
As eleições estão quase à porta. Algumas centenas de candidatos deveriam estar atrás das grades. Não estão porque a justiça é lerda e muitas vezes... como o caso dos famosos "ladrões do orçamento", um dos quais justificou o seu enriquecimento "milagroso" porque "ganhou 25 vezes, sozinhos a loteria" e o tribunal deu como válido o argumento! Continua circulando, "respeitado cidadão", porque rico!
E os indiciados nas CPIs do Bingo, do Mensalão e agora das Sanguessugas e de muitas outras CPIs que nunca chegam ao fim porque "entre eles se ajeitam"?
Maledetti voi que nos achincalham, nos roubam o bem estar de hoje e o futuro dos jovens, que nos esmagam e maledetti noi porque continuamos a permitir que nos ponham os pés em cima.
Rio de Janiro, 1 de Agosto de 2006