LIDO COM INTERESSE – 10
Título: Bilhete de Identidade, Memórias 1943-1976
Autora: Maria Filomena Mónica
Editora: Aletheia Editores, Lisboa
Edição: Abril de 2006
Pensava que uma autobiografia era escrita por alguém com feitos notáveis que a escreve por pressão dos outros que querem saber mais sobre essa pessoa, que querem que se perca o mínimo sobre essa pessoa.
Comecei a ouvir muitas referências ao livro de Filomena Mónica, "Bilhete de Identidade", todas num tom levezinho, fiquei com a ideia de que era um livro levezinho. Mas entretanto o que mais me intrigava é que nada de notável sabia sobre ela (nem notável nem normal, mea culpa mea culpa).
Claro que comprei o livro, com o calor nada melhor que um livro levezinho e além disso continuava intrigadíssima porque nem os leitores do livro me explicavam qual a notoriedade da autora.
Nas primeiras 50 páginas pensei estar perante um belo retrato da época, a autora fala em pormenor de uma avó e da sua mãe. Depois relata a sua infância. Sendo mais velha que eu apenas 10 anos reconheço bastantes descrições, estou a gostar. Entra a autora na sua adolescência, juventude, idade adulta e termina no gonçalvismo (penso). A partir da adolescência deixei de reconhecer fosse o que fosse. Filomena Mónica vai-se revelando muito ambiciosa, com um objectivo fixo que não revela mas pelo qual acaba por entregar os dois filhos pequenos a duas criadas. Entretanto divorciara-se, depois de escrever longas cartas ao marido (antes do divórcio, ainda vive com ele) das quais fez cópia (?) Algumas tentativas de leitura destas cartas não me surtiram efeito, tive de as saltar (mea culpa) mas Filomena Mónica já escrevera que pelo facto de o marido trabalhar na TAP achava que ele tinha muitas namoradas pelo que ela arranjou amantes o que foi contar ao marido com o que o marido se remeteu a um silêncio de túmulo. Mal consegue a separação vai para Oxford por 3 anos porque conseguira uma bolsa, pedida para uns meses mas que lhe é concedida por 3 anos. Em Oxford está 3 anos, assiste a tudo que seja seminário, fala vagamente do mestrado e quando o faz é para dizer que mudou de tema, começa-me a ser confuso perceber se realmente o fez. Volta a Lisboa, contrata uma sul-africana e eis o doutoramento. Para a tese já havia recorrido a estrangeiros tendo-a comprado nos EUA.
Entretanto é notável a sua lista de admiradores, amantes e apaixonados o que ela explica pela sua grande beleza e intelectualidade. Acusada por alguns de ser rígida, li gelada e concordei, deve ser isso, para uma fome tão grande....
Notável também o seu declarado desejo de mudar o mundo a começar pela classe social que frequenta, onde namora, onde casa, o que lhe deve ter sido difícil porque não larga o apelido do marido nem quando resolve "casar " outra vez, acrescentado os nomes do segundo aos do primeiro, também não consegue deixar de passar férias na Quinta da família do ex-marido, nem consegue recusar os convites dos tais amigos da classe alta chegando mesmo a fazer-se convidada.
Mas qual o objectivo?? Chega a parte do 25 de Abril... Filomena Mónica já teve muitos amantes (só declara os nomes dos estrangeiros e dos de classe alta), já mudou muitas vezes de casa (com as duas criadas), já é professora catedrática.
Declara-se uma lutadora sempre, ao longo de todo o livro, preocupada com dinheiros, sempre. Mas luta por quê? Viaja, compra muitos livros e roupa, muda de casa, filhos no colégio, as duas criadas, porque se preocupa por dinheiro se ela não o quer e ele existe?
Ou seja, não percebi nada.
Imagine-se o meu espanto quando finalmente sou informada que Filomena Mónica parece controlar o Público, através do actual amante, além de tudo o que diga respeito a Sociologia.
Lisboa, Julho de 2006
Maria Eugénia Múrias