General Domingos de Oliveira
Luís Soares de Oliveira, Embaixador
No dicionário da História de Portugal de A. Barreto e M.F. Mónica, volume VIII; referida é a pessoa de meu avô, general Domingos de Oliveira, e o seu papel na história do Estado Novo, dentro do espírito com que o interpreteou A. Franco Nogueira na sua douta biografia de Salazar. A concordãncia não melhora, no caso, a veracidade da versão.
Ao meu avô aconteceu o mesmo que à grande maioria dos mortais: -acabou por ter que fazer na vida aquilo que não tencionava e, no seu caso, de que não gostava. Foi este mistério que procurei desvendar no capítulo “A Cavalaria e a Política”, do livro que os netos escreveram sobre tão estimado avô. O que teria levado o prestigioso militar a deixar-se arrastar para a política? Isso aconteceu no Palácio de Belém, na dramática noite de 21 para 22 de Janeiro de 1930 - já lá vão 76 anos. Foi aí que Carmona o forçou a aceitar o cargo de Presidente do Ministério. Como o conseguiu? Creio que pesou no caso a camaradagem de armas, mas não só. DO tinha de certo modo “empurrado” Carmona para o 28 de Maio e isso talvez porque lhe reconhecesse qualidades de político. Agora era o “empurrado” que lhe pedia para não o deixar afogar-se, quando isso estava prestes a acontecer. Com efeito, as sucessivas crises governamentais – em parte provocadas pelas artimanhas políticas de Salazar – minavam a credibilidade do regime ditatorial instituído 4 anos antes. A “tropa” - que era quem tinha voto na matéria - agitava-se através dos tenentes ambiciosos e impacientes. Era preciso alguém que os militares respeitassem [e Salazar também]. Nestas circunstâncias, a presença de DO foi o aval indispensável que poucos - se é que mais alguém - poderiam ter dado ao governo. E, de facto, a coisa funcionou. Durante o governo de DO, intentonas e desordens houve, mas foram periféricas e eficazmente dominadas. A confiança restabeleceu-se e os resultados económicos logo obtidos foram disso prova. Assim, e apesar do seu desequilíbrio estrutural (congénito ?), a sociedade portuguesa pôde manter o seu Estado e progredir, ainda que não tanto como seria de desejar.
Presidente do Supremo Tribunal de Justiça Militar, 1942. Chanceler da Ordem Militar da Torre e Espada, 1952. Membro do Comité fundador da Sociedade Hípica Portuguesa. Autor do livro "Raças e Ferros Cavalares da Península Ibérica". Morreu em Lisboa na noite de Natal de 1957.
Os historiadores apressados não levam nada disto em conta. Tomam o general Domingos de Oliveira como um político empenhado nos jogos do poder e vêem nele um perdedor que se deixou ultrapassar por Salazar. Do seu lado, o general não via as coisas assim. Entendia que tinha retirado o poder das casernas e impedido as manobras predadoras dos “trauliteiros”; evitara o poder da rua e a inerente “tirania da estupidez”; enfim, tinha criado condições para que gente esclarecida pudesse governar o país em paz. E fez tudo isto quase apenas com a sua presença. Entrou na política? Sim, mas há que reconhecer que entrou o menos possível. E isto foi deliberado. Não são dessa opinião os historiadores, sobretudo os politicamente comprometidos. Isso porém não tem grande importância: - daqui a um século saberemos onde estava a razão.
Estoril, Junho de 2006
Luís Soares de Oliveira