LOROSAE ou LOROMONU ?
Reza a história que quando os portugueses chegaram a Timor encontraram uns que ficaram calados quando os viram eram os timorenses ocidentais ou Kaladi enquanto os da Ponta Leste lhes viraram o cu daí serem os Firaku.
Posteriormente esta noção passou a distinguir os do leste Lorosae e os do oeste Loromonu. Mais recentemente surgiram designações como maubere que Ramos Horta tanto gostava e que viria a ser abolida em 1998.
Para entendermos melhor o que se passou no século XX debrucemo-nos no livro da Colecção Fórum “Ocupação e Colonização Branca de Timor” da autoria de Teófilo Duarte, ex-governador de Cabo Verde e de Timor, Vogal do Conselho do Império Colonial, da Editora Educação Nacional Lda., Estudos Coloniais, nº2, datado de 1944:
«… 1894 ano em que assumiu o seu governo…. Celestino da Silva…
A nossa acção de presença efectuava-se em Dily, por intermédio do funcionalismo e duma companhia de guerra com um efectivo de setenta praças, que durante quási todo o ano permaneciam no hospital ou nos presídios para onde os arrastavam os seus vícios e o seu carácter de incorrigíveis vindos de Macau.
Em todo o litoral norte, havia os comandos de Pante Makassar em Okussi e os de Batugadé, Maubara, Liquiçá, Aipelo, Manatuto, Baucau, Lautém; e no sul apenas os de Viqueque, Alas e Fatumeia. Estes comandos reduziam-se a uma paliçada, quási sempre de palapa, sem consistência nem condições defensivas de valor… A sua acção limitava-se à área contígua ao forte, e quando os ventos corriam desfavoráveis, desaparecia com a fuga no vapor, de todo esse pessoal escapo ás represálias dos reinos e que vinha refugiar-se em Dily, à espera que as habituais operações de reocupação lhe permitissem voltar aos seus postos. O interior encontrava-se assim sem um comando…
Certamente que a eleição dos régulos era sancionada pelo governo; também é facto que eles vinham prestar vassalagem a Dily, formalidade que pouco lhes custava cumprir, e que os interessava pelo espectaculoso de que era revestido tal acto; ainda é certo que expedições compostas de “moradores” e de reinos inimigos batiam umas vezes por outras, os povos mais insubmissos, mas os resultados práticos eram nulos, pois que vencedoras as colunas, logo que elas retiravam, os povos continuavam as suas vidas com umas centenas de búfalos e cavalos a menos, com a perda de luas de oiro, de panos, etc. e com uns milhares de habitantes mortos ou foragidos, e vivendo os restantes no mesmo estado de selvajaria e insubmissão que dantes.
… as diversas tribos agremiadas em reinos mais ou menos importantes passavam os anos em guerras intestinas cujo fundamento era o desejo de roubarem aos seus vizinhos os seus gados, os produtos agrícolas, as mulheres e as terras. Não havia progresso compatível com tal desordem que era extensiva às centenas de milhar de timores, e ora se viam lutas formidáveis entre vinte e trinta mil homens de cada partido, ora elas se resumiam a pequenos mas numerosíssimos combates de centenas de guerreiros.»
Esta introdução permite esclarecer – recuando cem anos no tempo – porque existem hoje em pleno ano de 2006 confrontos que se chamam de étnicos e que alegadamente assentam na discriminação das tropas entre Lorosae e Loromonu.
São centenas de anos de guerras tribais (das quais falaremos em próximos capítulos) que nunca foram resolvidas de forma satisfatória muito por culpa da colonização branca dos portugueses caracterizada sempre pela omissão em todos os quatro cantos do Império.
Durante todo o século XX houve revoltas e guerras tribais sendo as mais célebres as de Manu-Fahi e a de Uato-Lari, mas foram centenas delas embora se tivessem diluído após a II Grande Guerra. Queremos com isto deixar bem claro que a pretensa unidade timorense contra o invasor indonésio colocou de parte estes conflitos tribais nunca resolvidos. Quando o inimigo era só um e se chamava Indonésia as guerras tribais ficaram esquecidas. Depois de conquistada a independência e dados os primeiros passos duma democracia que não tem fundamentos históricos ou tribais onde assentar é chegada a altura de se acertarem as contas. Se não houver uma intervenção firme que permita sentar todos os intervenientes tribais de todo o território a situação ficará decerto fora de controlo, para gáudio da Indonésia e da Austrália que assim melhor partido podem tirar da sua exploração das riquezas de Timor.
É apenas preciso que a elite dominante burguesa e educada em português entenda esta realidade raramente estudada e tenha a coragem de não entrar em vinganças mas antes crie uma atmosfera de conciliação que dê razão a uma nação para todos os timorenses e não apenas para as tribos que agora estão na mó de cima.
CHRYS CHRYSTELLO