AH! SE A TOLICE MATASSE…
Com o que se ouve, se lê e se vê na comunicação social já teríamos tido uma mortandade idêntica à da peste negra…
Na verdade parece que uma parte muito vasta da nossa gente, que tem acesso à comunicação social, ainda não percebeu que foram os comportamentos generalizados da população, certamente muito encorajados por entidades que obtiveram vultuosos lucros com estas práticas e pelos detentores dos poderes inerentes aos nossos Órgãos de Soberania e aos Organismos Corporativos que conduziram, uma vez mais na nossa história, à condição de quase bancarrota nacional quando tivemos acesso a dinheiro fácil.
Porque em lugar de o investir em atividades produtivas e/ou formativas e sustentáveis, utilizaram-no em inutilidades e desvios de finalidade que enriqueceram os respetivos intermediários, mas endividaram muita gente a nível pessoal, com a falácia da boa qualidade de vida que lhes proporcionavam, além de empobrecerem o próprio Estado colocando em perigo o cumprimento das suas naturais obrigações.
Curiosamente durante todo o tempo que durou esta euforia, cerca de duas décadas, foram sendo destruídas indústrias e empresas essenciais para a independência nacional e foram sempre aumentando os défices o que é objetivamente inconstitucional mas nenhum dos responsáveis superiores parece ter dado conta de tal descalabro.
Porque é bom não esquecer que sem independência económica não se consegue garantir a independência nacional, como a Constituição impõe.
Mas agora é vê-los atacarem a austeridade, em vez de atacarem “esta” austeridade, porque sem austeridade alguma estivemos nós durante o período de desvario que antecedeu a vinda da tróica.
A austeridade que já devíamos ter seria: a praticada, por iniciativa dos responsáveis dos Órgãos de Soberania no sentido de reduzir drasticamente as despesas exageradas em assessores e em mordomias, comparando-as com as praticadas em outros países europeus; a alteração do sistema de pensões que dada a distribuição dos escalões etários estar há muito em mudança já devia ter sido adaptada e a eliminação de todas as pensões anteriormente decididas sem que os seus beneficiários tenham descontado para isso e ainda a fixação de um teto máximo para as pensões de forma a conseguir obter a sustentabilidade do sistema proporcionando a todos os cidadãos condições de sobrevivência.
Convém ter a consciência que ninguém descontou durante a fase de trabalho o suficiente para garantir fundos que paguem as suas pensões durante mais de vinte anos. Portanto ninguém pode argumentar que o que pagou constitui um direito adquirido porque isso era assim há 40 ou 50 anos mas não é mais e os responsáveis nada ou quase nada fizeram em tempo útil para evitar esta situação atual. E além disto é preciso ter em conta que o número de idosos em Portugal aumentou em mais de um milhão enquanto o dos jovens diminuiu perto de um milhão.
E já agora, será conveniente não se falar apenas em direitos mas também em deveres, o que evitaria muitos exageros orais e gastos escusados e pouco democráticos.
Também no sistema educativo o facto atrás indicado significa a redução óbvia do número de professores em algumas dezenas de milhares.
Quanto à estrutura municipal que se tornou um sorvedouro de custos operacionais com baixíssima eficiência, que já devia ter sido alterada com a concentração distrital dos serviços e com a transferência do pessoal excedente para empresas produtivas oportunamente desenvolvidas, porque não foi realizado este plano essencial para reduzir despesas inúteis e criar postos de trabalho produtivos?
E se atingimos taxas de desemprego elevadíssimas por que razão os respetivos responsáveis não repararam que tinham destruído muitas empresas industriais que havia em Portugal, quer na metalo-mecânica quer na marinha de comércio e outras, e que durante estas duas últimas décadas a nossa produção em vez de aumentar diminuiu?
Além de, esquecendo o que a Constituição indica quanto à participação popular, não ter havido ainda qualquer promoção para o desenvolvimento da capitalização nacional das empresas essenciais à independência do País pois não é suficiente a existência apenas de PMEs, como é frequente ouvirmos aos nossos responsáveis políticos.
Mas agora verifica-se haver, em vez de dinâmica de tomada de decisões que permitam criar postos de trabalho, muitas conferências e muita conversa e uma enorme postura estática: porquê?
Entretanto como é possível que tantos responsáveis durante este período destruidor agora tenham o descaramento de vir reclamar inconstitucionalidades, quando as praticaram alegremente quando havia dinheiro fácil dado e a crédito, empobrecendo o País e provocando a perda da sua independência?
Aliás falar em tolices é na verdade algo duvidoso e macio, pois por vezes parece também ter havido factos mais desonestos que tolos, mas fiquemo-nos pela tolice que já chega para deixar aos nossos vindouros um rol comprido de dores de cabeça, bastante complicado para as resolverem.
Lisboa, 26 de Dezembro de 2013