ESCREVO? LOGO RESPIRO
Escrevo? Logo respiro
que a vida só é verdade
nos grandes actos de amor
e escrevendo, expondo a alma
passa a raiva, chega a calma
até o sono é melhor...
escrevo e fico feliz
por tudo o que aparece
neste branco onde o matiz
fala da vida, da dor
das vielas do amor
das veias da dor serena;
escrevo e tudo me esquece
tudo mais é acessório
que o mundo só acontece
neste momento ilusório
em que nasce O Poema!
O resto pode ser lume
pode ser água salgada
pode até ser ribeirinho
a fazer o seu caminho
no tempo da enxurrada
mas não será mais que isso...
acessório e mais nada;
porque só o Poema importa
só ele me abre a porta
à plena felicidade
só ele tem o condão
de me levantar do chão
e de me dar liberdade;
só ele traz a fragrância
que vive em mim e é distância
no mundo largo da vida
só ele é paz e é calma
doce bálsamo da alma
(pássaro de asa ferida).
E o poema chegado
não há tempo, nem pecado
que não tenha remissão
pode mesmo ser algema
pode até ser escravidão
mas é uma janela aberta
na mente, sempre desperta
porque é libertação.
Escrevo, logo respiro!
escrever e respirar
são o mesmo para mim;
não importa qual o tema
respirar, está no Poema
como o Poema em mim!
Maria Mamede
(in DezSeta-Antologia-2007)