ESPELHO MEU, ESPELHO MEU...
A estabilidade política em Moçambique pode estar em perigo com o assalto que o Exército da FRELIMO fez em 21 de Outubro de 2013 à base do líder da RENAMO e do respectivo Exército.
Sim, em Moçambique não há um Exército a que se possa genuinamente chamar Nacional pois que os militares estão muito politizados e claramente ao serviço de cada uma das forças políticas. E quando o diálogo político não existe, os confrontos militares são um cenário a não ignorar.
O esmagamento político de uns por outros e as eternas dúvidas sobre a linearidade da prática política, não me permitem afirmar com plena confiança que a democracia de jure tenha já alcançado em Moçambique o de facto.
E a questão também está em saber se o modelo político ocidental é genuinamente aplicável às Nações africanas e respectivos acervos culturais. Terão já os Chefes de Estado conseguido ultrapassar o tão enraizado conceito de Soba? Terão as Assembleias Nacionais conseguido granjear prestígio suficiente para suplantarem os Conselhos de Anciãos?
A fragilidade cultural da democracia africana deveria induzir os actores a levarem a «peça» mais a sério em vez de construírem figurinos ao estilo do «faz de conta» sob pena de deitarem tudo a perder, nomeadamente a credibilidade internacional que esse figurino – pelos vistos fictício – lhes tenha proporcionado.
Aquelas minhas perguntas são claramente capciosas pelas maiores dúvidas que nelas encerro mas não posso também deixar de lembrar que faltam apenas 30 anos para que Portugal perfaça 900 anos de idade e apenas soma 155 de democracia. E mesmo assim, com uma guerra civil pelo meio (as lutas liberais) e uma mudança revolucionária de Regime (5 de Outubro de 1910).
Vai a RENAMO conseguir reunir hoje os apoios que em tempos lhe permitiram fazer a guerra à FRELIMO?
Está a FRELIMO disponível para se sanear dos gravíssimos males que lhe são lautamente apontados?
São negativas as minhas respostas a ambas as perguntas anteriores porque a África do Sul não é hoje o que já foi, a Rodésia já nem sequer existe e o «estilo» do exercício do Poder está agarrado a interesses muito enraizados na «Corte».
É claro que os actores em cena têm espelhos que lhes respondem o que eles próprios querem ouvir. É claro que estamos perante um grande problema.
E eu tenho muita pena de ver Moçambique assim tratado como se fosse qualquer outro país africano.
Outubro de 2013

