SER PORTUGUÊS
Mas ponde os olhos em António, vosso pregador, e vereis nele o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano. E sabei também que para haver tudo isto em cada um de nós, bastava antigamente ser português, não era necessário ser santo.
Padre António Vieira, SJ
Um dia, voava no interior dos EUA, para LA, se não me engano muito, quando apareceu na cabine de pilotagem um figurão que se dizia português, e deu-nos o seu cartão em que dizia em muito reles linguajar que se chamava "Manny" qualquer coisa e negociava em "Real Estate", e acrescentava "trato com toda a senseriedade". O pobre do homem era traído pelo seu mau português e obviamente não conhecia este passo do Padre António Vieira, nem talvez fosse já português, como muitos agora há por aí que, odiando o Portugal, o querem fazer ao seu tamanho e feitio.
Há dias, tendo escrito eu que fazer uma "Revolução" na Democracia para reinstalar a Democracia, era simplesmente absurdo, respondeu-me um fulano, que não sei quem seja, que respeitava a minha veterania, mas que na verdade as Revoluções se fazem, não me explicitando se queria ou não a democracia. As pessoas ainda têm medo de falar claro, e dominadas pela emoção e pela raiva, querem a democracia, sem saberem o que ela é.
A democracia pode ser um bom regime político, se os eleitores forem bons democratas. Não parece ser o caso. De qualquer maneira, é preciso dar tempo ao tempo e esperar pelos resultados.
Parece-me que os "democratas" que mais berram entre nós não são democratas, mas raivosos e invejosos berradores. Com estes não há regime político que sirva honestamente o país.
Erich Fromm, o já falecido psicólogo social germano-americano, escreveu que o comunismo era o sistema internacional da inveja. Ora inveja há muita em Portugal. Que fazer? Uma Revolução? Para quê?
Uma nação não se cura com mezinhas, nem com falsos mitos, nem com Revoluções, mas sim com trabalho honesto e fé em Deus.
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
(Os Lusíadas, Canto X, 145)
Joaquim Reis