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A bem da Nação

D. JOÃO IV E CASTELA

 
 
Por que motivo Camilo Castelo Branco abominava a Casa de Bragança? Não sei, mas julgo saber que CCB era um espírito superior, um grande artista literário, conhecedor ímpar da língua portuguesa, que vivia apenas dos seus livros, e  um grande patriota.
Portugal magoado com crimes, cobardias ou mentiras de falsos portugueses, devia ser para ele uma causa de grande sofrimento.

Vou agora transcrever  parte do pequeno capítulo VII  do Livro Quinto de "D. João IV", evocação histórica notável e bem escrita  por Mário Domingues:

UM PLANO SECRETO DE D. JOÃO IV PARA UNIR PORTUGAL A CASTELA
No ano seguinte, 1649, o interesse pela revolta de Nápoles voltou de novo a ser preocupação do governo português porque a este muito convinha que a Espanha fosse obrigada a distraír para paragens mais distantes as forças que o tratado de Vestfália lhes deixava disponíveis e que ela poderia empregar, com maior poder ofensivo, nas fronteiras lusitanas. Parece que o marquês de la Caya e outros napolitanos emigrados, que se tinham homiziado em Roma, teriam insinuado a Manuel Álvares Carrilho, residente português na côrte pontifícia, a possibilidade de fomentar de novo a revolução em Nápoles.
 
Mostarndo grande interesse pela sugestão, D. João IV resolveu encarregar o padre António Vieira de ir a Roma entender-se com os emigrados napolitanos. Partiu o padre jesuíta, em 10 de Janeiro de 1650, com  instruções muito especiais do monarca, que lhe recomendou que procedesse com toda a habilidade por forma que aparecesse a França como protectora dos revoltosos. Sucedeu que, em Roma, onde lhe fizeram uma recepção calorosa, o enviado português, depois de escutar os planos dos revoltosos, concluiu, com grande desgosto destes, por achá-los inexequíveis, logo demonstrando por eles um desinteresse que muito os ofendeu.
 
Outra era, porém, a missão de Vieira, por este concertada secretamente com o monarca, à qual o jesuíta emprestara logo, no desejo de bem servir cegamente, todo o poder da sua imaginação por vezes  e todo o calor do seu entusiasmo. Que pretendia D. João IV? Alguma coisa de inconcebível, mas que constitui  uma indicação tristemente reveladora do carácter do homem em quem os Portugueses haviam depositado toda a fé e confiança, com defensor supremo da independência nacional tão laboriosamente conquistada. Pois D. João IV propunha à Espanha o casamento de D. Teodósio, o príncipe-herdeiro do trono de Portugal, com a infanta de Castela, filha de Filipe IV.

(Diga-se a talho de foice que Filipe II era um Imperador, Filipe III um rei, Filipe IV um homem, e seu filho e sucessor Carlos II nem homem era. E assim se precipitou a Guerra da Sucessão de Espanha, resultante da degenerescência da dinastia dos Habsburgos, provocada desde havia muito pelo excessivo casamento entre parentes, que havia já causado a anormalidade de Don Carlos, filho de Filipe II e de D. Sebastião de Portugal, sobrinho de Filipe II. Repare-se na mania real da época: D. João IV era casado com uma espanhola e queria casar seu filho D. Teodósio com uma espanhola do ramo dos Habsburgos. Bem se diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. A determinação do povo português, que tem uma identidade própria, uma língua de cultura sua e costumes tradicionais próprios, só ela impediu a sua absorção por Castela. Só têm ideias tolas de uma falsa união com estrangeiros alguns reis, alguns presidentes, alguns traidores e dum modo geral o escol social estrangeirado que despreza a arraia-miúda.)

Enquanto todos os dias morriam Portugueses  na defesa da independência nacional, o monarca intentava, por meio de negociações secretas, entregar o país  à Espanha de quem recebera tantos ultrajes, para que a Casa de Bragança pudesse ascender mais uns degraus na importância das famílias reinantes na Europa. ...

[Não prossigo porque a história já foi contada por Pinheiro Chagas...]
 
 
Por que razão Camilo Castelo Branco não gostava dos Braganças?
Afinal parece que não há razão nenhuma objectiva. A gente procura factos e encontra meras opiniões. E li que o desamor de Camilo pela Casa de Bragança parece ter sido um desforço de desagravo do grande escritor pelo facto de não ter sido nobilitado pelo rei D. Luís.
 
Camilo era filho ilegítimo de um pequeno fidalgo da província, Manuel Botelho,  e de uma sua criada. O pai adoptou-o como filho de "mãe incógnita". Imaginamos que por toda a sua vida Camilo sofreu o complexo da sua origem e tentou sempre nobilitar-se,  até que o conseguiu em 1885, passando a ser o visconde de Correia Botelho.
 
Camilo era um grande escritor, muito interessado pela História, mas não era um historiador. Logo a sua abominação pelos Braganças seria alimentada não pela verdade histórica mas pela subjectividade do grande romancista. O que não quer dizer que ele, por vezes,  não atinja em cheio na verdade.
E assim terminam os meus esforços.
 
Ponto final.

 

Joaquim Reis

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