PORTUGAL POBRE OU MAL GOVERNADO? - 1
Portugal, a partir do início do século XIX foi normalmente um país mais pobre que rico, embora na verdade isto tenha sido assim desde o século XVI.
O Brasil deixou de ser fonte de receita, as outras colónias nunca foram aproveitadas e nem o episódio do mapa cor-de-rosa serviu de lição, pois em vez de ser corrigida a gestão medíocre destes territórios, atribuíram-se as culpas todas aos ingleses e nada aconteceu de positivo.
Quando nasce a República, o país estava muito empobrecido, segundo algumas estatísticas no mesmo grau de pobreza que se atingiu após estas últimas duas décadas, até 2010, de vida folgada a crédito.
Segundo essas mesmas estatísticas, o nível máximo de riqueza em Portugal foi atingido em 1961, embora a gestão das nossas riquezas ultramarinas, como se passaram a chamar as antigas colónias, nunca tenha sido praticada com a desejável eficiência, o que originou as guerras coloniais e a partir desta data a nossa riqueza tenha vindo sempre a descer até agora.
Reportando-me apenas à época em que eu vivi, podemos constatar que na verdade não somos um país pobre mas sim muito mal governado.
No fim da II guerra mundial, tendo recusado o auxílio do Plano Marshall, o que provavelmente não foi assim tão errado, iniciámos um processo de desenvolvimento de que a execução do plano do Despacho 100 referente à Marinha Mercante foi um passo essencial, mas mais tarde ao falharmos a execução do plano energético que previa a instalação de energia nuclear, demos um passo atrás de dimensão catastrófica que ainda poderia ter sido corrigido se, em 1972, a chamada crise do petróleo tivesse alertado as nossas elites dominantes para o perigo da dependência desta fonte energética.
Na verdade, o nosso país entre as energias nuclear, eólica e solar e uma gestão inteligente da água, poderia ser praticamente independente do petróleo, desde que o ordenamento do território e a gestão dos sistemas de transportes fossem eficazes.
O que não aconteceu.
Temos hoje um ordenamento deplorável, um sistema de transportes em que se favoreceu o rodoviário (o que tem maior consumo de energia e maior poluição) destruímos o transporte marítimo e fluvial, gerimos mal o ferroviário e o ordenamento do território foi essencialmente gerido para maximizar os ganhos imediatos da construção e da especulação imobiliária.
Com os resultados à vista.
A nossa competitividade foi altamente comprometida, entre 90 e agora baixámos cerca de vinte lugares no “ranking” mundial da competitividade e assim o único factor de produção que podemos reduzir é o custo da mão-de-obra, que é exactamente o contrário do que aconteceria se tivéssemos sido bem geridos.
Nunca se pode esquecer que a competitividade e a sustentabilidade são essenciais para se desenvolver um país no curto e no longo prazo e que um país só se pode considerar verdadeiramente desenvolvido, quando o factor de custo de produção mais protegido for exatamente a mão-de-obra e não o contrário como aconteceu aqui.
Aliás, os países com níveis de competitividade mais altos têm também os salários mais altos, porque ela, a competitividade, depende essencialmente da qualidade da gestão das empresas e do país e não de salários baixos.
Nas últimas duas décadas não só destruímos muita produção industrial e agrícola como tivemos uma política de transportes oscilando entre e a indigência e a mediocridade, com a agravante do enorme endividamento que foi necessário para cometer tantos erros e/ou crimes e ainda pela criação de excessivos intermediários improdutivos e de parasitas originados pelos partidos políticos, tudo isto de difícil e morosa correcção.
E ainda por cima esquecendo questões essenciais como o aumento da longevidade da população, a diminuição da natalidade, as alterações tecnológicas e climáticas, a evolução mundial e as boas práticas de gestão.
Situação tanto mais complicada porque muitas das corporações têm mostrado estarem mais atentas aos seus lucros próprios e imediatos que aos interesses do país.
(continua)
Lisboa, 17 de Julho de 2013