«Honestidade é uma faceta de caracter moral que conota atributos positivos e virtuosos como integridade, veracidade, franqueza de conduta, juntamente com a ausência de mentiras, trapaça, roubo, etc. Honestidade também envolve ser confiável, leal, justo e sincero. A honestidade é valorizada em muitas culturas étnicas e religiosas. A honestidade é uma característica amplamente divulgada pela maioria das pessoas, honestas ou não.
Em 30 de abril, nos Estados Unidos, é o Dia da Honestidade para incentivar a honestidade e a comunicação direta sobre política.»
(Wikipédia)
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A honestidade é claramente a virtude superlativa sem a qual todas as outras claudicam.
Convém acompanharmos a leitura da transcrição acima de um visionamento «même à vol d’oiseau» do nosso hemiciclo maior e respectivas adjacências perguntando-nos se não é mais do que tempo para revermos os métodos de formação do caracter da nossa juventude.
A minha resposta a esta questão é claramente favorável à mudança valorizando um Serviço Cívico Obrigatório (de cariz militar ou civil conforme a apetência individual e inerentes critérios de admissão) e relativizando a formação dada pelas «jotas» partidárias cujos resultados enchem os telejornais.
Mas…
…qualquer alteração deste cariz passa pela decisão partidária e é altamente duvidoso que os Partidos queiram ver as suas «jotas» secundarizadas por um «qualquer» Serviço Cívico Obrigatório. E, para além do mais, seria o reconhecimento público de que as «jotas» não são eficazes, o que, para os decisores oriundos dessas fontes, seria o naufrágio.
E então?
Então, há que lançar um debate nacional, público, que «empurre» os náufragos até um porto seguro.
A dignidade da pessoa implica o respeito mútuo na prossecução do bem comum periodicamente sufragado em regime directo e universal iniciado em liberdade de expressão e concluído com o voto secreto.
A dignidade implica o livre arbítio entre o bem e o mal, entre o exercício de direitos e cumpromento de obrigações ou pelo incumprimento destes e abuso daqueles. A liberdade implica responsabilidade. A irresponsabilidade é indigna.
E basta de axiomas!
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Num ambiente pós-moderno de insaciável hedonismo, já são pelo menos duas as gerações de portugueses educadas no princípio de que tudo lhes é devido e de que nada devem a ninguém: direitos superlativos e obrigações a roçar o nihilismo. Para pessoas assim educadas, não faz qualquer sentido o princípio eminentemente democrático que afirma que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade do próximo.
E agora?
Agora urge…
…pugnar pela solidariedade combatendo o egoísmo que se instalou por deturpação da liberdade individual;
…incutir na juventude algum espírito de missão com vista a grandes propósitos comuns aos diversos modelos de bem comum perfilados em democracia,
…introduzir na temática cívica conceitos como respeitabilidade, disciplina, aprumo e honorabilidade do serviço ao bem comum.
A chamada destes valores à ribalta tem a ver com a necessidade sentida de parametrização da sociologia quântica em que o Ocidente está a mergulhar.
A Ética paisana é intelectual; a Ética militar é regulamentar.
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A Ética tem a ver com os factos e deriva da Moral que tem a ver com os princípios; historicamente, cada Moral tem origem na respectiva religião e esta, por sua vez, invoca a(s) respectiva(s) Divindade(s) para distinguir o Bem e o Mal. O pragmatismo militar reduziu toda a exegese dos Livros Sagrados a um único texto dogmático a que por cá chamamos «Regulamento de Disciplina Militar».
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Da condição militar fazem essencial e nomeadamente parte três elementos, a saber: a disciplina, o aprumo e a honra. Da condição paisana não é essencial a pertença de qualquer um destes elementos pois andam por aí muitos indisciplinados, despenteados e snobs (sine nobilitatis).
E a questão era a de saber que enquadramento dar aos paisanos «despenteados que se queriam militarizar. Assim se inventou essa classe dos mercenários, os combatentes «sine nobilitatis».
Dos dicionários se extrai que paisano é aquele que se desloca desgarradamente pelo país em contraste com o militar que se desloca organizadamente.
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É durante a guerra que mais salta à vista a condição paisana por contraste com a condição militar sendo que estes morrem por dever e os outros morrem sem querer. Melhor dizendo, ao militar cumpre servir a Pátria (a sua comunidade nacional, ou seja, a sua Nação, o seu Estado) com risco da própria vida, ao paisano não é suposto que morra e, pelo contrário, é suposto que sobreviva à guerra. Felizmente, há muitos militares que sobrevivem à guerra e infelizmente há paisanos que morrem pois, desgarradamente, estavam no local errado à hora errada. O militar morre como herói; o paisano morre como vítima.
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Na guerra ora em curso na Ucrânia, há dois elementos principais a tomar em consideração: o invasor russo composto por militares e por mercenários; a Nação Ucraniana em armas composta por todos, militares, paisanoshos homens e mulheres, velhos e novos. O invasor está mais ou menos motivado; o invadido está a defender a vida da própria família. A invasão foi feita com muito equipamento bélico; o invadido começou por só ter cajados e pedras mas a partir de certa altura passou a usar a vodka que trocava pelo combustível dos carros de combate russos que assim se imobilizavam com os depósitos vazios e com as tripulações embriagadas, adormecidas e à mercê dos tais cajados e pedras.
E assim começou o flagelo em curso a que a Nação Russa está a ser submetida pela demência do tirano.
CONCLUSÃO: a motivação paisana pode ser mais poderosa que a tecnologia militar (sobretudo quando acompanhada pela vodka).
As pessoas que sabem muitas «coisas» são como as enciclopédias mas a pessoa culta é a que procura o significado das «coisas»; o historiador conta a História mas o culto interpreta-a para lhe encontrar o significado; a interpretação histórica é a génese da Cultura.
A música serve para esvaziar cabeças cheias e para encher cabeças vazias – pobres, os que não apreciam música pois ficam sem o descanso necessário às cabeças cheias e sem a conveniente motivação para as cabeças vazias.
No primeiro texto sob esta mesma epígrafe referi-me ao cosmopolitismo étnico, na perspectiva que deu origem ao conceito a que hoje há quem chame multiculturalismo; no segundo texto referi-me ao cosmopolitismo científico, o antónimo do autismo universitário; no presente texto refiro-me ao cosmopolitismo cultural.
Assim me refiro a uma dimensão macro, a uma micro e a uma dimensão individual. Outras dimensões haverá…
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Em conformidade com o dicionário, cosmopolita é aquele que conhece muitos lugares.
Assim como aquele que sabe muitas coisas não passa de uma enciclopédia, também o maquinista do Transiberiano conhece muitos locais. No entanto, nem um é necessariamente culto nem o outro é necessariamente cosmopolita. Porquê? Porque culto é aquele que busca o significado (das coisas, dos acontecimentos…) e cosmopolita é aquele que busca a epifania (a essência, a História) dos lugares. O cosmopolita é necessariamente culto; o culto pode não ser cosmopolita.
Se a tudo isto juntarmos a afirmação de que «a História é a essência da Cultura», compreendemos a sugestão de James Joyce no sentido de procurarmos descobrir «o que as pedras tenham para nos contar», aquilo a que ele chamava a epifania dos lugares a que eu passei a chamar a epifania joyceana.
Ou seja, para se ser cosmopolita não basta ter um conhecimento topográfico ou pictórico dos lugares visitados, é necessário conhecer-lhes a essência. E para que isto aconteça, é fundamental despertar a curiosidade do candidato a cosmopolita. Curiosidade desperta-se pela boa pedagogia e esta pratica-se nas escolas, nas palestras, nas visitas guiadas… e uma das acções mais importantes é a do combate ao abandono escolar precoce.
A acumulação de vagas sucessivas de desistentes escolares produziu o actual flagelo de uma enorme percentagem da nossa população em idade activa não possuir o ensino obrigatório.
Assim chegamos à conclusão de que nos sobra «chico-espertismo» e nos falta cosmopolitismo.
Vinham os bisonhos das berças lanares e logo se encantavam com o pequeno burgo que se lhes abria como raio de Sol. E assim era que ciclicamente a cidadezinha se enchia de jovens apenas talhados pelo escopro rural e a que faltava o buril urbano.
Cidade capital do nosso Rei fundador, foi também ela escolhida por D. Telmo, D. João Peculiar e São Teotónio para sede da Ordem da Santa Cruz que viria a receber a mercê de D. Dinis para governar a Universidade. Foi nos tempos de D. João III que o Padre Iñigo Lopez Recaldo – que passaria à História como Stº Inácio de Loyola – ali fundou o «Colégio das Onze Mil Virgens», primeiro da Companhia de Jesus, para o qual redigiu a sua obra de orientação pedagógica «Ratio Studiorum» que passaria a vigorar em todos os colégios jesuítas em todo o mundo. Na mesma época em que se inaugurava o Observatório em Greenwich, se media a velocidade da luz e se descobria o espermatozoide, o Rei D. João V teve que publicar Decreto ordenando à Universidade que passasse a incluir no seu currículo académico o Dogma da Imaculada Concepção de Maria. Na mesma universidade era então proibido dissecar cadáveres para se ter a certeza de não esquartejar a alma do defunto. Assim se manteve a tónica intelectual em Portugal até… que a República instaurou as Universidades de Lisboa e do Porto. Só que, entretanto, foram séculos e séculos de «cada vez mais do mesmo» com as instituições coimbrãs agarradas aos respectivos cânones fundacionais, entretanto caducos, em defesa de unidades de doutrina e métodos obsoletos. O colégio jesuíta desapareceu na voragem pombalina e a Universidade prosseguiu com os seus Lentes (os que leem as sebentas herdadas dos respectivos antecessores) numa actividade a que hoje chamamos «copy-paste» sem qualquer valor acrescentado. Eis como aquela Universidade se constituiu em instrumento sombrio em vez de luminoso como as suas congéneres além-Pirinéus. Reconheçamos, contudo, que Coimbra não foi monopolista na distribuição das sombras pois foi nisso acompanhada por Évora desde o Cardeal-Rei até ao consulado pombalino. Faltou concorrência laica onde os cadáveres pudessem ser dissecados. Faltou – também e sobretudo – que essas instituições tivessem combatido o autismo e tivessem procurado o cosmopolitismo intelectual.
Colhe perguntar se a Inquisição permitiria que tudo fossem luzes em vez de trevas e colhe perguntar também se, hoje ainda, não estará a «Lusa Atenas» cativa de persistentes dogmas de racionalidade obtusa leia -se falaciosa e comprovadamente caduca para não dizer falaciosa.
É que perguntar não ofende e é tempo de parar com essa ridicularia que consiste em cardar lanzudos bisonhos vindos das berças. Está visto que esses que chegam já não vêm das berças, mas sim da Internet. O prestígio da «sapientíssima cátedra» constrói-se diariamente pela adução constante de valor científico e não mais pela tirania da arrogância e da ameaça de um chumbo.
O cosmopolitismo intelectual é a solução para a ultrapassagem do nosso atraso endémico e – correndo o risco de cavarmos ainda mais o fosso entre um país pensante e um país boçal – a Universidade tem que se tornar cosmopolita e atirar togas, capelos e outras praxes para o balde dos desperdícios.
Dos dicionários se extrai que ambiente cosmopolita é aquele em que todas as nacionalidades do Cosmos se cruzam.
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O famoso ambiente cosmopolita parisiense permite que o indivíduo sinta uma liberdade superlativa que facilmente se transforma em indisciplina.
O famoso ambiente cosmopolita parisiense gera um sentimento de tal modo igualitário que o indivíduo o sublima pela arrogância.
O famoso ambiente cosmopolita parisiense produz um anonimato que gera o autismo e o egoísmo.
Tudo, porque «sauve qui peut» …
… e assim é que os outros franceses acusam os parisienses de treslerem os grandes valores republicanos trocando a liberdade pela indisciplina, a igualdade pela arrogância e a fraternidade pelo egoísmo.
Não culpemos, contudo, os forasteiros, mas apenas os residentes.
Salvando algumas metástases para outras zonas urbanas, o actual problema da arruaça francesa é sobretudo parisiense e há gente por essa França além que diz que tudo regressará ao normal assim que cessar a arruaça parisiense nem que para isso seja necessário inventar um problema de sinal contrário. Má solução que conduzirá à ingovernabilidade e à priclitância da democracia.
Duvido que haja preces suficientemente fortes para que uma vaga de bom senso invada Paris e creio mais pragmático tentar chamar à razão os instigadores das arruaças e da inflamação dos caixotes de lixo pois não é admissível que, em período de guerra, a única potência nuclear europeia esteja a braços com problema paralisante.
Afinal, o problema não é apenas francês, mas sim europeu e potencialmente de todo o Ocidente.
Qualquer pretexto serviria para lançar o caos e paralisar a única potência nuclear europeia e Macron caiu na ratoeira.