… os sacerdotes não gostam de Darwin porque este, dispondo dos conhecimentos científicos de que os Autores bíblicos não possuíam, explicou a evolução dos seres vivos sem recorrer aos dogmas.
Conciliando o quase inconciliável, digamos que Darwin explicou cientificamente, como tem funcionado a acção divina.
E fiquemos por aqui pois o óptimo é inimigo do bom.
O bem é a Perfeição e a conveniência da pessoa; o mal é o seu contrário. (da Wikipédia, por adaptação)
* * *
A citação anterior – ou equivalente – pode ter sido a primeira pedra da filosofia humanista judaico-greco-latina que veio a ser de inspiração cristã e que, inequivocamente, constitui o primeiro Valor do Ocidente.
…E passaram séculos e séculos com o sol a girar em volta da Terra até que a Ciência se começou a libertar dos ditames romanos de cariz exegético e a Terra começou a girar à volta do sol. E assim se começaram a criar as condições para o Valor do respeito mútuo. Voando rapidamente sobre a História, vemos o integrismo de Mazzarino a ser arquivado,a ferrugem a tomar conta da lâmina de Robespierre, vemos também os dramas horríveis provocados pelas aventuras transfronteiriças e finalmente vemos as águas acalmarem… surgindo então à superfície a famosa tríade «liberdade – igualdade – fraternidade».
LIBERDADE – conceito unicitário apenas limitado pela vizinhança - «a minha liberdade termina onde começa a do próximo»; liberdade de pensamento, de expressão, de associação; pluripartidarismo; livre arbítrio e inerente responsabilização; a génese do Poder a partir das bases, as cúpulas permitidas, a decisão negociada.
IGUALDADE – Versão erudita: a lei é igual para todos; Versão religiosa: todos somos iguais perante o Pai; Versão popular: todos nascemos nus.
De importância capital, o Imperativo Categórico de Kant que diz que «em todas as circunstâncias, o homem deve proceder em conformidade com os princípios da Moral Universal».
Foi preciso esperar por 1948 para que a ONU aprovasse a «Declaração Universal dos Direitos Humanos» a que só falta atribuir a condição categórica e o estatuto imperativo.
São três os elementos estruturantes de uma Cultura, de qualquer Cultura:
O meio ambiente – compare-se o estilo esquimó com o do tuaregue e este factor explica-se automaticamente;
A tradição - «já os antigos diziam que era assim que estava correcto» via popular e, na base documental para a via erudita, ambas transmitindo conceitos de correcto/bem e errado/ mal;
A Religião – imposição social dos conceitos de bem e de mal pela promessa da graça ou da ira divinas, respectivamente.
… por esta ordem e não pela arbitrariedade.
«As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Esta frase de D. Manuel, Cardeal Clemente, conduz a que a essência dos conceitos de bem e de mal não é matéria teológica, ou seja, ateus e agnósticos perdem toda a argumentação para se eximirem do cumprimento de uma Moral. Resta saber qual. Mas fica desde já excluída a amoralidade. Assim, recordemos que sendo a Moral a questão dos princípios a Ética é a sua derivada ao nível dos factos. Resta saber agora qual Ética. Mas, mesmo dentro de cada uma destas categorias de fé ou da sua falta, não se pode exigir o mesmo refinamento moral-intelectual a um analfabeto que a um letrado ou dirigente político - pese embora estes dois últimos nem sempre estabelecem uma relação biunívoca. Chamemos verticais a estas variações Éticas dentro de uma mesma Cultura; chamemos horizontais às diferenças Éticas entre diferentes culturas e chamemos económicos ou de competição quando o que é bom para um é mau para outro.
Como dirimir estas diferenças?
Pois bem, as verticais – têm que ser reduzidas pela educação; as horizontais pelo diálogo ecuménico ou apenas inter-cultural (desde que os nossos sejam os Valores prevalecentes); nas económicas/competição, esperemos pelas propostas dos Partidos políticos no que respeita a regulamentação da concorrência I e desde que haja pluripartidarismo.
Nota prévia – O presente texto é sequente ao publicado em 14 de Julho no qual ensaiei uma tipificação do francês actual.
* * * Mélanchon acertou na «mouche» quando intitulou o seu Partido «A França Insubmissa». A sorte de França foi a de nem todos os insubmissos franceses terem seguido Mélanchon.
E nós por cá?
Ora bem, também nós somos fruto da História, sobretudo da nossa, pois a maior parte dos portugueses só começou a ouvir sobre «o lá fora» quando, basbaques, lhes puseram uma televisão à frente do nariz. Não ia longe o tempo de «uma sardinha para quatro», da proibição do «pé descalço» e da mendicidade nas cidades. Como se essas proibições acabassem com a miséria…
Aquela era uma época difícil para muita gente em que muitos tinham “uma sardinha para quatro”, não havia Segurança Social universal e a saúde era para quem a podia pagar. E a «enxada para a vida», a instrução, era rudimentar ou menos que isso. Abundava a ignorância e havia mesmo quem dissesse que «a ignorância é a felicidade do povo». Diziam «boutades» destas, mas iam à Missa no Domingo seguinte.
Passaram, entretanto, 60 ou 70 anos e eis que o Census 21 nos revela a persistência do analfabetismo nuns medonhos 3,08% da população (308 mil portugueses com mais de 14 anos de idade não sabiam ler, escrever nem contar). A maior parte da população em idade activa não completara o ensino obrigatória e apenas uma minoria da população com mais de 25 anos tinha formação pós-secundária. Tudo resultando num baixíssimo nível médio cultural.
Ou seja, o português típico, hoje, é inculto e, espicaçado pelas políticas de incentivo ao consumo, recorre desenfreadamente ao «xico-espertismo» e ao crédito. Especificamente, há que assinalar três grupos:
Os «desprezados» pelas elites desde a fundação da nacionalidade
Os «desenrascados» que se dedicam a pouco mais do que prestar serviços, que são o grosso da coluna, mas sem acréscimo de valor tecnológico;
Os «burros de carga» que são os que vencem toda a inércia e, ainda assim, a minoria, conseguem puxar o país para a frente.
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Num outro registo, o da ética, o «travão nacional que é o dos compadrios, dos corruptos e os delinquentes.
Aqui fica um pretexto para meditação, a relação entre cultura e ética. A isso irei em breve.
Neste Dia Nacional de França e a propósito das eleições legislativas lá concluídas em 7 de Julho, recordo Haroun Tazief – francês de origem polaca, vulcanólogo que foi Ministro do Ambiente – a quem se atribui a frase «Quando a França treme, a Europa desmorona-se».
Deixando passar o exagero, meditemos um pouco sobre «o que é o francês actual».
Pois bem, creio que o francês actual, também ele fruto da História, é um libertário e, portanto, um insubmisso.
Contudo, este é o francês urbano que claramente contrasta com o francês rural que pode tender para o integrismo.
E aqui estão os dois extremos que apenas deixaram algum espaço para o «politicamente correcto».
Já terá sido essa característica libertária e insubmissa que produziu a Revolução Francesa; o integrismo poderá ter origem na ideia da pureza teológica de Bernardo de Claraval e na firme liderança cruzadista de JACHES MOLAY, tendo eventualmente Pierre Teilhard de Chardin SJ passado em vão pela tradição religiosa Francesa – tudo contra o Concílio Vaticano II.
Quanto aos «politicamente correctos» para quem a Europa é o refúgio da Humanidade, mesmo para aqueles que querem destruir essa derradeira tábua de salvação, ficam emparedados por radicais também eles idealistas de pragmatismo duvidoso.
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Segue-se a pergunta: - E o que é que tudo isto tem a ver connosco?
Respondo que – Nós somos uma versão moderada daquela caricatura, mas convém olharmo-nos por dentro, o que fica para um texto seguinte.
Ao nobre cumpre pugnar pelo bem e rechaçar o mal; tem que ser corajoso na defesa do bem-comum; ser compassivo, magnânimo, mas não esbanjador e justo na equidade; tem que ser discreto e buscar o significado essencial dos conceitos e dos factos.
A honra é o orgulho de ser nobre.
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O forte sentido de responsabilidade social implícito na condição nobre exige uma curiosidade cultural de sereno rigor analítico, estruturante, não errático, de perene congruência quer no tempo quer no espaço.
A oportunidade da nobre intervenção marca agenda do debate contrastando com o oportunismo que procura a diferença para demolir o outro.
A nobreza é, pois, uma atitude, um estado de espírito em que predominam generosidade e cultura; opõem-se-lhe o egoísmo e a boçalidade.
CONCLUSÃO
A nobreza não é essencialmente monárquica nem está necessariamente ligada à condição titular.
- Os espanhóis andam na rua de «traje de luces y montera»;
- Os portugueses vestem-se como campinos.
CHEGA DE DISPARATES, HAJA TENTO NA LÍNGUA!
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O moderno discurso político é sobretudo dogmático, raramente lacónico e quase nunca axiomático; Aristóteles votado ao ostracismo, convicção formulada por decibéis. Não há debates, mas sim discussões em tons irados e dando a entender que os outros são mentecaptos, corruptos, indignos. Assim, nada de bom virá ao mundo.
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A discussão ora em curso no Parlamento Português sobre a liberdade de expressão devia ter sido antecedida por uma tentativa de harmonização semântica de conceitos para que, no espectáculo televisivo no Plenário, uns não falem nos alhos e os outros nos bugalhos induzindo a confusão nos eleitores incautos. A menos que o façam propositadamente, o que poderá denotar má fé. Mas como isto não é crível, mais vale o esforço da harmonia dos significados e dos conceitos.
Por exemplo quando um comunista se refere a democracia (o Dr. Cunhal referia-se amiúde a «um Estado verdadeiramente democrático»), significa o despojamento das pessoas relativamente à propriedade privada até que, aniquilada a individualidade, a mole humana fique pronta para servir o Estado. Não vou perder tempo a descrever o que nos separa: tudo.
Uma vez clarificada a Semântica, que se passe à análise do «politicamente correcto» cuja estreita ligação ao bem-comum, deve proporcionar a busca de uma plataforma tão ampla quanto possível de modo a que se criem áreas de entendimento. E uma dessas áreas que seja a da liberdade de expressão.
Se não houver um esforço neste sentido, preparemo-nos para a berraria dos megafones propalando dogmas e outros conceitos inexplicáveis.
Actualmente, o policamente correcto Europeu consiste na tolerância dos intolerantes que militam na destruição dos Valores europeus, nomeadamente os históricos e… mais não digo.
Faz hoje 50 anos sobre a morte de Branquinho da Fonseca grande escritor que muito contribuiu, através das bibliotecas itinerantes, para a educação literária da população portuguesa.