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A bem da Nação

Professor Doutor Engenheiro Miguel Eugénio Galvão de Melo Mota

 

 

Faleceu no passado dia 16 de Março de 2016 mas só há poucos dias tomei conhecimento da triste ocorrência.

 

Sentindo a falta de novos textos, procurei telefonar-lhe mas não consegui estabelecer a ligação e foi na sua página do Facebook que li o que alguém escrevera: «Querido tio Miguel, RIP».

 

Contactei essa pessoa que teve a gentileza de me responder informando que o nosso companheiro de blog falecera no dia 16 de Março. Ou seja, poucos dias depois do seu último texto publicado no nosso blog, “A HORTA NO TELHADO” (11 de Março) que republico como homenagem a um Professor que estava sempre disponível para explorar novas ideias e que muito apreciei apesar de nunca nos termos encontrado pessoalmente. Mas falámos algumas vezes ao telefone e sempre tive a oportunidade de o escutar com toda a atenção recolhendo o máximo possível dos seus vastíssimos conhecimentos e enorme vontade de comunicar.

 

A HORTA NO TELHADO

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«Recebi informação de que, em França, legislação recente determina que todos os prédios a construir em zonas comerciais tenham os seus telhados ocupados com painéis solares ou com agricultura. A notícia trazia uma figura, que aqui reproduzo, com a devida vénia.

 

A notícia parece-me interessante, pois trata de mais um aproveitamento de um espaço que, na maioria dos casos, com os telhados de telhas, nada rende.

 

Para a agricultura, é mais um bom aproveitamento para aumentar significativamente a produção de frutos e legumes, no seguimento de casos sobre os quais já tenho escrito, do que se obtém nos pequenos quintais e nas varandas.

 

Sobre a obtenção de energia, recordo algo que sugeri, num concurso que não ganhei. A proposta era que, em vez de painéis solares, colocados sobre o telhado, nas suas vertentes viradas a Sul, o próprio telhado fosse construído com módulos que, na sua construção, integrassem os painéis. Módulos semelhantes poderiam revestir pelo menos uma parte das fachadas viradas a Sul, para aproveitamento da imensa energia que o sol ali faz incidir. Isto aplica-se a painéis para aquecimento de água, ou para a produção de energia eléctrica,  com células fotovoltaicas.

 

Algum tempo depois vi notícias de algo desse género estar em marcha na Suécia e que, em Portugal, alguém tinha construído telhas com células fotovoltaicas. Nada mais sei destes temas, mas acredito que são boas formas de captar uma parte da energia que o sol derrama sobre a terra durante várias horas do dia.»

Prof. Miguel Mota

Miguel Mota

 

Mas dentre os seus textos que publiquei já em 2016, um houve de que retirei muita utilidade para os cavalos com que lido diariamente intitulado “LEGUMINOSAS”, publicado em 16 de Janeiro e que republico agora também.

 

LEGUMINOSAS

Leguminosas.jpg
 Leguminosas

 

«A FAO declarou 2016 o Ano internacional das leguminosas. O objectivo é aumentar o cultivo e o consumo das plantas deste grupo, com vantagem para a melhoria do solo agrícola onde são cultivadas, e da saúde das pessoas e animais que as consomem.

 

As leguminosas são das plantas com maior teor de proteínas, variadíssimos compostos químicos formados por um grande número de aminoácidos. Estes são apenas 20 mas, tal como peças de Leggo, é possível formar com eles variadíssimas proteínas.

 

Os animais não são capazes de fabricar aminoácidos, que são apenas sintetizados pelas plantas. Como são essenciais à vida, os animais têm de comer plantas ou animais que comeram plantas para os adquirirem.

 

O valor das leguminosas para a melhoria dos solos resulta de viverem em simbiose – uma associação com benefício para ambos – com bactérias capazes de captarem o azoto do ar e sintetizarem compostos azotados, algo que o homem é capaz de fazer, mas com elevado consumo de electricidade, para produzir os nitratos, adubos muito usados na agricultura.

 

A bactéria, de seu nome científico Rhizobium leguminosarum, forma pequenos nódulos nas raízes, fáceis de ver quando se arranca uma faveira, um trevo ou qualquer outra leguminosa. Vive à custa da planta. Mas cede-lhe grande parte dos compostos azotados que fabrica a partir do azoto do ar pelo que, ao contrário das gramíneas, como o trigo, não necessitam de adubos azotados. E os resíduos que deixam no solo, tornam este mais fértil que antes dessa cultura.

 

Como quaisquer outros seres vivos, também as bactérias apresentam variabilidade genética e algumas são mais eficientes que outras na captação do azoto do ar. A investigação agronómica seleccionou estirpes mais eficientes do que as que geralmente existem no solo e hoje não se justifica a cultura de leguminosas sem inocular as sementes com uma estirpe apropriada do Rhizobium. Nos artigos sobre “O azoto”, que publiquei no Linhas de Elvas em 2010, relatei os ensaios realizados na década de 1950, na Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, pelo Prof. Villax, ensaios que acompanhei e fotografei. Como se pode ver nas fotografias, é espectacular a diferença de desenvolvimento entre os talhões das plantas inoculadas e das não inoculadas.

 

Quando me encontrava a trabalhar na tese então necessária, descansava um tanto desse trabalho escrevendo um pequeno livrinho, que editei em 1954, intitulado “Uma guerra entre as plantas”. Embora também entrem humanos, as principais personagens são plantas de duas famílias, a das Gramíneas e a das Leguminosas, que travam entre elas uma guerra surda. O chefe das Gramíneas é o Senhor Trigo, que mostra um certo desdém pelas Leguminosas. Estas, sentindo-se diminuídas, enviam uma delegação aos engenheiros agrónomos da Estação de investigação para saber como podem melhorar a sua situação. Quando lhes são referidas as verrugas nas raízes, confessam-se envergonhadas por esse “defeito”. É-lhes explicado que, ao contrário, devem orgulhar-se de tão valiosa qualidade.

 Gramíneas.jpg

Gramíneas

 

Ao fim de alguns ensaios e demonstrações em que entram membros das Gramíneas e das Leguminosas, compreendem que não há razão para se guerrearem mas antes para colaborarem. O que era uma guerra entre as duas famílias termina com um final feliz, num almoço de confraternização.

 

Apesar de tudo isto, que já é tão antigo, creio que a agricultura portuguesa ainda semeia muitas leguminosas sem inoculação.»

 

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Miguel Mota

(15 de Outubro de 1922 - 16 de Março de 2016)

 

Privados de mais ensinamentos directos do nosso Professor, resta-nos agora continuarmos a estudar por nós próprios endereçando um agradecimento especial ao Professor Miguel Mota por tudo o que nos ensinou.

 

RIP

 

Junho de 2016

 

Henrique Salles da Fonseca

A HORTA NO TELHADO

 

MM-hortas nos telhados.jpg

 

Recebi informação de que, em França, legislação recente determina que todos os prédios a construir em zonas comerciais tenham os seus telhados ocupados com painéis solares ou com agricultura. A notícia trazia uma figura, que aqui reproduzo, com a devida vénia.

 

A notícia parece-me interessante, pois trata de mais um aproveitamento de um espaço que, na maioria dos casos, com os telhados de telhas, nada rende.

 

Para a agricultura, é mais um bom aproveitamento para aumentar significativamente a produção de frutos e legumes, no seguimento de casos sobre os quais já tenho escrito, do que se obtém nos pequenos quintais e nas varandas.

 

Sobre a obtenção de energia, recordo algo que sugeri, num concurso que não ganhei. A proposta era que, em vez de painéis solares, colocados sobre o telhado, nas suas vertentes viradas a Sul, o próprio telhado fosse construído com módulos que, na sua construção, integrassem os painéis. Módulos semelhantes poderiam revestir pelo menos uma parte das fachadas viradas a Sul, para aproveitamento da imensa energia que o sol ali faz incidir. Isto aplica-se a painéis para aquecimento de água, ou para a produção de energia eléctrica,  com células fotovoltaicas.

 

Algum tempo depois vi notícias de algo desse género estar em marcha na Suécia e que, em Portugal, alguém tinha construído telhas com células fotovoltaicas. Nada mais sei destes temas, mas acredito que são boas formas de captar uma parte da energia que o sol derrama sobre a terra durante várias horas do dia.

 

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 10 de Março de 2016

 

Prof. Miguel Mota

Miguel Mota

AVALIAR CIENTISTAS

 

Investigação científica.jpg

 

O EXPRESSO noticia que se vai proceder a uma nova avaliação dos centros de investigação científica.

 

A ciência realizada exprime-se em escritos, os “papers”, na gíria internacional. Mesmo quando o resultado da investigação é algo material, uma variedade nova de trigo, uma nova máquina industrial ou um novo medicamento, há normalmente o paper que o descreve. Se um paper é publicado numa revista prestigiada – e  há* medida do impacto de cada uma – é porque o trabalho tem valor. Como nos papers são citados os trabalhos de que cada um é continuação ou com ele está relacionado, o número de citações é outra medida do valor da ciência produzida, mesmo em revistas de pouco impacto.

 

Se estamos perante vários papers, em revistas de bom impacto e com elevado número de citações, sabemos que estamos perante boa ciência. Se tudo isto é escasso, é porque a ciência é pouca. Isto aplica-se a uma instituição, a um departamento ou a um cientista. E não necessitamos que venha um senhor estrangeiro dizer se a ciência é boa ou má.

 

 

Prof. Miguel Mota

Miguel Mota

 

A negro o que foi cortado pelo Expresso e substituído por (...)

*Substituído no Expresso por à

AS CHEIAS E A EROSÃO DOS SOLOS

 

MM-erosão.jpg

 

 

O solo agrícola é algo muito precioso. É ele que está na base da agricultura, seja um pequeno canteiro de alfaces ou uma floresta. Leva dezenas ou centenas ou milhares de anos a formar, mas pode ser destruído em pouco tempo. Há que tudo fazer para o conservar e melhorar.

 

A área agrícola tem vindo a sofrer reduções muito grandes, com o incremento das áreas ocupadas pelas construções para habitação, indústria, estradas, caminhos de ferro e aeroportos. As recentes cheias, que assolaram várias regiões do país, vieram lembrar outro mal, que é a degradação do solo agrícola em consequência da erosão a que tem estado sujeito.

 

Aquelas imensas quantidades de água da cor de chocolate arrastam para o mar muitas toneladas da parte mais preciosa do solo de onde foi arrancada.

 

A melhor forma de combate, para evitar ou reduzir os males das cheias, é actuar sobre toda a bacia de recepção, a área onde cai a água que se vai acumular nas zonas mais baixas, a caminho para um rio ou o mar. Esse combate visa que toda ou parte da água caída nessa área se infiltre no solo. Nas zonas montanhosas, é normalmente possível com a arborização, de forma a conseguir reter a água. Também são úteis, para reter a água e reduzir a sua velocidade, as pastagens de montanha, quando é possível instala-las. Note-se que estas acções têm interesse económico, além da sua importância para evitar ou atenuar as cheias. E a água que se infiltra vai aumentar os aquíferos, um outro ponto importante. As lavouras segundo as curvas de nível são outra forma de evitar o escorrimento superficial.

 

Por várias vezes lembrei – e outros também o fizeram – que é muito importante a arborização da serra do Algarve, uma faixa de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de largura, que vai da serra de Monchique até perto da fronteira com Espanha. Quase toda descarnada, apenas com alguns pontos arborizados é, em grande parte, pouco ou nada produtiva e incapaz de reter a água. Disso muito se ressentem os aquíferos da zona baixa, uma faixa de cerca de 20 km de largura. Monchique, a única parte bem arborizada, é uma boa indicação do que pode ser o resultado da arborização.

 

Quando, apesar do que se fizer, ainda muita água corre em ribeiras, especialmente com grande inclinação, há processos de correcção torrencial, para atenuar a velocidade  da água. No século XX Portugal teve um especialista nessa técnica, o Engenheiro Silvicultor Mário Galo, que deu um bom contributo para a correcção torrencial, através de pequenas barragens de lajes.

 

Naturalmente, quando a precipitação é muito intensa em curtos períodos ou é muito prolongada, como já tivemos este ano de 2016, mesmo com as melhores técnicas é impossível evitar muitos males.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 25 de Fevereiro de 2016

 

Prof. Miguel Mota

 

Miguel Mota

PREFERIR PRODUTOS PORTUGUESES

 

compro-o-que-e-nosso.jpg

 

 

Preferir produtos portugueses foi um slogan durante algum tempo na outra ditadura. Por diversas razões, penso que devemos repetir esta frase, especialmente quando temos o país inundado por produtos estrangeiros.

 

Justifica-se a compra de produtos estrangeiros quando não existem portugueses ou são muito melhores ou mais baratos. Nalguns casos – e isto aplica-se aos produtos agrícolas – é um problema de comercialização. Não há meio de os agricultores perceberem que têm de ser eles a comandar a comercialização dos seus produtos, como faz qualquer fabricante de automóveis ou frigoríficos. Em vez disso, perguntam “Quanto é que me dão?”

 

A única forma que conheço de resolver esse problema é a associação em cooperativas, se possível de grandes dimensões. A realização que deve servir de modelo foi o Complexo Agro-Industrial do Cachão, que comercializava os produtos com o nome de “Nordeste” e que o 25 de Abril destruiu, existindo agora uma pequena amostra.

 

Portugal tem excelentes condições para a produção de uva de mesa e alguns raros produtores exportam quantidades apreciáveis. Mas a maioria das uvas que vemos nos supermercados são importadas.

 

Portugal tem uma grande variedade de queijos de boa qualidade. Mas também há vários estrangeiros. Os portugueses devem pensar que, quando compram um queijo estrangeiro, estão a pagar o ordenado dos trabalhadores do país de onde provém, aumentando o respectivo PIB. Se comprarem um queijo português, dão trabalho a portugueses e aumentam o nosso PIB. Aumentar o PIB é muito importante. Vários índices económicos e financeiros, como o défice ou a dívida, são expressos em percentagem do PIB. Aumentando o PIB, baixamos esses valores.

 

Estes e muitos outros casos, que se repetem milhares de vezes, fazem grande diferença na economia e nas finanças do país.

 

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 11 de Fevereiro de 2016

 

Prof. Miguel Mota Miguel Mota

PROFESSOR EXTRAORDINÁRIO

  

Comentário do Professor Miguel Mota ao texto

“Há quase 70 anos”

de Francisco Gomes de Amorim

 

Eng. Sardinha de Oliveira.png 

Nós tínhamos um professor extraordinário

 

Esta frase é perfeita para definir a pessoa do meu saudoso colega e grande amigo António José Sardinha de Oliveira. Foi um prazer ler esta prosa e recordar pessoas, locais e episódios que me foram familiares, em duas épocas diferentes. Primeiro, com o Sardinha de Oliveira; mais tarde com os locais que tinham sido a Escola de Regentes Agrícolas de Évora, depois entregues à Universidade de Évora. Quando, na década de 1950, trabalhei em Elvas, como Chefe do Laboratório de Citogenética da Estação de Melhoramento de Plantas, muitas vezes fui a Monforte visitar esse colega. Depois do jantar a conversa, sempre interessantíssima, prologava-se até à meia-noite ou uma hora. Numa dessas vezes, em que não estava a mulher do Sardinha e eu dormi lá, a conversa foi, sem darmos por isso, até às cinco da manhã. Técnico de muito elevada craveira e um apaixonado pelas máquinas agrícolas, inventou uma, que patenteou e construía, que substituía, com grande vantagem, o charrueco americano, então muito usado no Alentejo, para a armação do solo em espigoado . Quando deixou de se usar a tracção por muares e vieram os tractores, a máquina deixou de ter interesse. Um outro assunto a que dedicou excelente trabalho foi relacionar a meteorologia com a produção de trigo no Alentejo, que lhe permitia fazer, em Fevereiro, uma estimativa de como seria a produção de trigo, no Alentejo, nesse ano. Já depois da sua morte, várias vezes usei esses dados, em artigos para a agricultura, sobre a produção de trigo no Alentejo. E deram sempre certo. No “A bem da Nação” de Dezembro de 2013 relatei vários casos da acção do Eng.º Sardinha de Oliveira.  

 

Passemos para um período mais recente. As instalações da extinta Escola de Regentes Agrícolas, em Valverde, foram entregues à Universidade de Évora, para os seus cursos de Engenharia Agronómica. O edifício que se mostra na figura, antiga residência do bispo, que estava em mau estado, foi recuperado e transformado em residência, muito usado no período, em que a universidade tinha vários professores que vinham de fora, como foi o meu caso. É nas instalações da antiga Escola de Regentes Agrícolas que meu filho, também Professor, tem o seu laboratório de Nematologia. Recentemente, a Casa Sardinha de Oliveira, onde ele ficava durante os dias da semana, foi completamente remodelada, para melhoria dos serviços ali instalados.

 

Prof. Miguel Mota 

Miguel Mota

MAIS UM CASO DE UTILIZAÇÃO DO BIOGÁS

 

 

Ao longo de algumas décadas, tenho tentado chamar a atenção para o biogás, uma forma de energia renovável que Portugal tem negligenciado. Não sou especialista da matéria mas, alguns casos de que tenho notícia levam-me a pensar que poderia ser extensivamente usado em Portugal, no aproveitamento de estrume, lixos e esgotos.

 

Lixos e esgotos custam a Portugal muitos milhões de euros, para os armazenar em aterros ou lançar para o mar, depois de passarem por uma ETAR que não é barata. Através da decomposição anaeróbica (na ausência de ar) destes detritos, resulta um gás, metano, composto por um átomo de carbono e quatro de hidrogénio, que pode ser usado para produzir calor, ou em geradores de electricidade ou em motores de explosão usados em veículos. O que temos é muito pouco. Além dos estrumes e dos lixos urbanos, o problema da poluição nas zonas de criação de porcos talvez encontre no biogás uma boa solução.

 

Lixo transformado em energia_Esquema.gif

 

Nos cálculos do custo da produção do biogás, haverá que se contar sempre com o que se poupa nos custos de eliminar essa “poluição”.

 

No artigo “Energias renováveis negligenciadas”, no Linhas de Elvas de 8-4-2010, referi que os autocarros de transporte público, na cidade sueca de Helsinborg, utilizavam o biogás “produzido numa grande unidade. O líquido sobrante é levado para os campos por pipeline e utilizado pela agricultura, como um óptimo fertilizante.”

 

Recebo agora a notícia de os esgotos da cidade de Grand Junction, no estado americano do Colorado, serem usados da mesma forma, para produção de biogás, o combustível que alimenta a frota de autocarros e vários camiões.

 

Na Europa, é na Alemanha que o biogás está mais utilizado e esse país clama que as suas instalações para o produzir são as melhores.

 

Em Fevereiro de 2009 foi criada a Associação Europeia do Biogás (European Biogas Association, EBA, em inglês), com sede em Bruxelas. Portugal não é sócio.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 28 de Janeiro de 2016

 

Prof. Miguel Mota

 

 

Miguel Mota

LEGUMINOSAS

 

 

Leguminosas.jpg

 Leguminosas

 

A FAO declarou 2016 o Ano internacional das leguminosas. O objectivo é aumentar o cultivo e o consumo das plantas deste grupo, com vantagem para a melhoria do solo agrícola onde são cultivadas, e da saúde das pessoas e animais que as consomem.

 

As leguminosas são das plantas com maior teor de proteínas, variadíssimos compostos químicos formados por um grande número de aminoácidos. Estes são apenas 20 mas, tal como peças de Leggo, é possível formar com eles variadíssimas proteínas.

 

Os animais não são capazes de fabricar aminoácidos, que são apenas sintetizados pelas plantas. Como são essenciais à vida, os animais têm de comer plantas ou animais que comeram plantas para os adquirirem.

 

O valor das leguminosas para a melhoria dos solos resulta de viverem em simbiose – uma associação com benefício para ambos – com bactérias capazes de captarem o azoto do ar e sintetizarem compostos azotados, algo que o homem é capaz de fazer, mas com elevado consumo de electricidade, para produzir os nitratos, adubos muito usados na agricultura.

 

A bactéria, de seu nome científico Rhizobium leguminosarum, forma pequenos nódulos nas raízes, fáceis de ver quando se arranca uma faveira, um trevo ou qualquer outra leguminosa. Vive à custa da planta. Mas cede-lhe grande parte dos compostos azotados que fabrica a partir do azoto do ar pelo que, ao contrário das gramíneas, como o trigo, não necessitam de adubos azotados. E os resíduos que deixam no solo, tornam este mais fértil que antes dessa cultura.

 

Como quaisquer outros seres vivos, também as bactérias apresentam variabilidade genética e algumas são mais eficientes que outras na captação do azoto do ar. A investigação agronómica seleccionou estirpes mais eficientes do que as que geralmente existem no solo e hoje não se justifica a cultura de leguminosas sem inocular as sementes com uma estirpe apropriada do Rhizobium. Nos artigos sobre “O azoto”, que publiquei no Linhas de Elvas em 2010, relatei os ensaios realizados na década de 1950, na Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, pelo Prof. Villax, ensaios que acompanhei e fotografei. Como se pode ver nas fotografias, é espectacular a diferença de desenvolvimento entre os talhões das plantas inoculadas e das não inoculadas.

 

Quando me encontrava a trabalhar na tese então necessária, descansava um tanto desse trabalho escrevendo um pequeno livrinho, que editei em 1954, intitulado “Uma guerra entre as plantas”. Embora também entrem humanos, as principais personagens são plantas de duas famílias, a das Gramíneas e a das Leguminosas, que travam entre elas uma guerra surda. O chefe das Gramíneas é o Senhor Trigo, que mostra um certo desdém pelas Leguminosas. Estas, sentindo-se diminuídas, enviam uma delegação aos engenheiros agrónomos da Estação de investigação para saber como podem melhorar a sua situação. Quando lhes são referidas as verrugas nas raízes, confessam-se envergonhadas por esse “defeito”. É-lhes explicado que, ao contrário, devem orgulhar-se de tão valiosa qualidade.

 

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Gramíneas

 

Ao fim de alguns ensaios e demonstrações em que entram membros das Gramíneas e das Leguminosas, compreendem que não há razão para se guerrearem mas antes para colaborarem. O que era uma guerra entre as duas famílias termina com um final feliz, num almoço de confraternização.

 

A pesar de tudo isto, que já é tão antigo, creio que a agricultura portuguesa ainda semeia muitas leguminosas sem inoculação.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 15 de Janeiro de 2016

 

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 Miguel Mota

A EUROPA MATOU O LEGISLATIVO

parlamento-Portugal.jpg

  

Já tratei deste assunto anteriormente mas, como o problema continua a existir, parece-me justificado voltar a ele.

 

Na anterior ditadura, o Estado Novo era acusado de ter a Assembleia Nacional com a função de dizer “Aprovo“ a tudo o que o governo desejava. Ou seja, o governo tinha-se, abusivamente, apropriado do Poder Legislativo, juntando-o ao seu normal Poder Executivo. Lembro que, como se aprendia na escola, a governação de um país assenta em três poderes, Legislativo, Executivo e Judicial.

 

Esse facto era consequência de os eleitores, que podiam candidatar-se a deputados, sofrerem grandes limitações durante a campanha e de eventuais manipulações dos resultados, não conseguirem ser eleitos. Só era eleito quem o ditador indicava. Isso era considerado um dos graves males, mais grave, para muitos, que a incomodativa Censura, que alguns conseguiam ludibriar. Até o “Avante”, embora clandestinamente, continuava a ser publicado e a circular.

 

O que se passa actualmente em Portugal e em quase toda a Europa? Com a ditatorial partidocracia – para a qual cunhei a palavra “partidismo”, para estar de acordo com os nomes das outras ideologias políticas – o sistema em que o poder reside nos partidos e não nos cidadãos, que ficam limitados a eleger quem os chefes dos partidos decidem, vemos ressurgir essa morte do Legislativo, apropriado pelos governos, que passam a acumular, às suas funções de Executivo, as do Legislativo, reduzindo os parlamentos à função de dizer “Aprovo” a todas as leis que o governo determinar. Isto é, a Europa concorda com Salazar.

 

Se não for assim, diz-se, um país é “ingovernável”.

 

Nos Estados Unidos o sistema de governo é presidencial e o Presidente da República é o chefe do governo, funções que, noutros sistemas, são exercidas por um primeiro ministro. Actualmente – Dezembro de 2015 – o Presidente e o seu governo são do Partido Democrata. No Congresso, tanto no Senado – a câmara alta – como na Câmara de Representantes – a câmara baixa – a maioria é do Partido Republicano. De acordo com as ideias vigentes na Europa, deveríamos estar a ver o Presidente Obama declarar que o país era ingovernável.

 

Nos Estados Unidos os partidos não têm nem o poder nem o fanatismo que vemos na Europa. Se o Congresso não aprova tudo o que o Presidente deseja, aprova muitas das suas propostas. O país está muito acima dos partidos.

 

É um sistema democrático e os partidos políticos não são órgãos de poder, ao contrário do que acontece em vários países europeus.

 

No partidismo, que domina na Europa, vive-se para o partido e não para o país. A norma, para os partidos continuarem a ter o poder é: tudo o que é do nosso partido é óptimo e aprovamos; tudo o que é de outro partido é péssimo e reprovamos. O país está abaixo dos partidos.

 

Alguém acredita que a Europa, com o sistema vigente, vai sobreviver durante muito tempo antes de explodir... ou implodir?

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 23 de Dezembro de 2015

 

Prof. Miguel Mota

Miguel Mota

TROCAR O BIO PELO ECO

 

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Todos os seres que a agricultura  usa, nomeadamente animais e plantas, são seres biológicos. Por essa razão, dizer que há batatas  ou ovelhas “biológicas” e outras que o não são é, no mínimo, ridículo, por mostrar ignorância. No entanto, essa ridícula designação está a ser usada por alguns países, entre os quais Portugal e a França.

 

A Inglaterra e os Estados Unidos usam uma designação igualmente errada. Chamam a essa agricultura “orgânica”, como se houvesse batatas ou ovelhas inorgânicas. Apenas critico, pelas razões indicadas, os nomes usados para designar esse tipo de agricultura.

 

Há países que chamam a essa agricultura “ecológica”, nome que me parece aceitável, por se aproximar do processo ecológico natural.

 

O nome biológico é frequentemente abreviado para “bio”. A minha proposta é que se inicie em todos os países uma intensa campanha para trocar o nome “bio” pelo nome “eco”, para designar os produtos “ecológicos”.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 10 de Dezembro de 2015

 

Miguel Mota.jpgMiguel Mota

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