Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A bem da Nação

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM…

 

Crying in the sun

 

A minha amiga não me pareceu estar hoje no seu melhor. É certo que largou graças ao meu colar, que comprei por metade do preço, numa casa prestes a fechar e por isso em saldo, e cujo uso – do colar, está claro -  por inesperado, tive que justificar como servindo, não para disfarçar as engelhas do pescoço, mas para as aprimorar, embora a própria Catarina Martins realce melhor os seus traços juvenis com o colar aconchegador da nobreza dos seus ideais e dos seus olhos macios de tristeza acusatória. Escutadas, pois, as homenagens ao meu aspecto mais produzido, notei, todavia, o ar de circunspecção  da minha amiga e logo lhe perguntei se se devia ao estado de saúde da 

maria_barroso.jpgMaria Barroso a que a minha afectividade acrescentou o “coitadinha” da minha consideração lusíada pela figura sempre aprumada, tantos anos acompanhante dos eventos nacionais de marca, com os discursos protocolares dos seus saberes.

 

Mas a minha amiga, muito decisiva, não se comoveu, embora se percebesse a sua estima, e sem perder pitada do seu azedume contra as carências da organização nacional:

- Já cá não está a fazer nada. Fez uma vida sempre activa. E no dia em que a cabeça falhou, foi-se. Chegou a sua vez. Teve sorte, muita sorte. Ela está muito bem, sem dor. Parece que a não levaram logo ao hospital quando caiu, pois continuou a falar, mas também se entrasse pelo seu pé mandavam-na embora.

 

A minha irmã acrescentou que o marido parecia mais inseguro do que ela, mas que as quedas, nas nossas idades, são muito perigosas e a conversa rodou, na aridez das constatações da precariedade existencial, enquanto, no nosso compasso de espera na esplanada soalheira, enfiávamos os cafés domingueiros, enobrecidos pela torrada ou o bolo revitalizadores.

 

Outro assunto “macabro” trouxe  a minha irmã à baila, tendo lido numa revista sobre o polícia que escreveu o livro sobre a  Maddie – o Inspector

Gonçalo Amaral.jpg Gonçalo Amaral - em situação penosa, a justiça portuguesa condenando-o, subserviente à justiça inglesa.

- Aquele era da polícia. Foi corrido – começou a minha irmã.

- Não sei como é que o homem ainda não morreu – continuou a minha amiga, de revolta sempre afiada.

- Abandonado pela mulher, com depressão e diabetes… Proibiram o livro, só porque ele insinuou que os pais deviam conhecer o fim da filha… Mas essas coisas não se podem dizer, e bumba, é-se castigado.

- E o Estado não o ajuda? – lancei eu, que trouxe da infância as crenças ingénuas nas histórias de fadas.

- Nada. O homem está na maior miséria.

 

A minha amiga lembrou os bons padrinhos ingleses dos pais da Maddie e o rebaixamento do governo português, adepto da lei do mais forte.

- É por isso que eu detesto os ingleses, concluiu a minha irmã, sem rodeios, traduzindo velhos saberes de rancor histórico, dos tempos do 

William Carr Beresford.jpg  Beresford e do “mapa cor de rosa” das nossas humilhações.

Berta Brás 2.jpgBerta Brás

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D