KALIMERA – 13
«LAST BUT NOT LEAST»
«ΤΕΛΕΥΤΑΙΟ ΑΛΛΑ ΕΞΙΣΟΥ ΣΗΜΑΝΤΙΚΟ»
(TELEUTAIO ALLA EXISOU SIMANTIKO)
Δεκατρια - leia-se «decatria» - é o mesmo que treze em português e foi talvez a palavra mais bonita que ouvi. E por que é que a ouvi assim tão especialmente? Porque numa das excursões, o passageiro do outro lado da coxia do autocarro era o número treze e, na contagem a meia-voz, a guia sempre dizia «decatria» depois de me contar. Pelos vistos, eu era o número doze, ou seja, o «dódeca» e a Graça era a έντεκα – leia-se «énteka».
E achando eu que na fala os gregos não brincam em serviço pronunciando todas as sílabas sem condescendências ao estilo da nossa que comemos metade das palavras, aquela «decatria» em surdina parecia-me suave e, mais do que isso, bonita. Sempre gostei dos sons «a» e «i» e é por isso que em português acho que uma das palavras mais bonitas é «alguidar». Assim estou com a «decatria».
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Uma questão que não posso localizar em qualquer ponto da viagem é a da bênção ortodoxa. E perguntei a um Padre (claro que do rito ortodoxo grego) por que é que a persignação ortodoxa se faz da direita para a esquerda enquanto a católica é da esquerda para a direita. A resposta foi imediata: - Porque pretendemos sentar-nos à direita de Deus Pai. E ponto final na conversa.
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Σύνταγμα – leia-se «Sintagma» - significa «Constituição» e, logicamente, é esse o nome da Praça em Atenas onde se situa o Parlamento, esse mesmo que todos conhecemos das televisões quando transmitiam as manifestações que levaram à mudança governativa com a destituição (democrática, por eleição) de Karamanlis e com a subida de Tsipras. Mais do que o novo e relativamente jovem primeiro ministro, deu nas vistas durante uns tempos esse mediático (para não dizer vaidozão) Varoufakis cujo livro «O minotauro global» eu começara a ler com grandes reticências mas, lá para o fim, com verdadeiro interesse. E foi a pensar em tudo isso que me pespeguei frente ao Parlamento a ver os guardas fraldisqueiros naquelas manobras sui generis do render da guarda e outros formalismos verdadeiramente caricatos. É claro que todos aqueles movimentos devem ter alguma razão de ser mas, sem explicações, são simplesmente ridículos.
Traje tradicional masculino
A única explicação que consegui foi a de que aquele era o traje comum dos homens gregos até há cerca de um século com a diferença de que quase todos andavam descalços e que os sapatos (raramente usados) eram de madeira, tinham protectores metálicos e serviam para toda a vida do respectivo… descalço. Imagine-se o martírio que seria ter que calçar socos de madeira quando o uso era andar descalço. Os sapatos dos actuais guardas do Parlamento são normais, de couro, mas têm protectores na ponta do pé e no calcanhar para imitarem o barulho dos antigos socos para toda a vida.
E, até prova em contrário, por aqui me fico.
Até à próxima e haja saúde!
Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca
(frente à «loggia» veneziana em Heraklion, Creta)