CRIAR TRABALHO É PRIORITÁRIO
Entre nós foi muito bom trazer o investimento da Auto-Europa, há já muitos anos. Haveria que atrair, com imaginação, outros de boa dimensão. Não seria de pensar numa operação de uma grande empresa de software[1], por exemplo indiana, que como norma emprega muitos, pondo-se aqui no epicentro dos mercados ricos? Ou uma multinacional farmacêutica para fazer investigação, aproveitando a qualidade dos nossos especialistas, muitos dos quais trabalham em outros países europeus? Tem de ser um esforço inteligente, paciente e perseverante...
Lia há poucos dias uns números muito expressivos. Desde o começo da programa Make in India, seguido do Skill India, com continuação no Start-up India, aquele demorou um tanto a arrancar e ganhar raízes. Por fim, fê-lo e há esperanças de continuar com rapidez e eficácia.
Nos tempos do ‘socialismo indiano’, o empreendedor era visto quase como um escroque; os tempos mudaram, felizmente, e hoje louva-se quem empreende e cria riqueza, pois também cria trabalho. Mas a verdade é que a estrutura da legislação e regulamentação, acompanhada da burocracia do tipo soviético, precisavam de ser desmanteladas, para se arejar o ambiente, e torná-lo realmente amigo do empreendedor, para ele começar a desenvolver ideias de fazer e pô-las em prática com rapidez, sem paralisações dos burocratas.
Que números expressivos são aqueles? Referidos unicamente à montagem de smatphones na Índia, que eram zero, alcançaram os valores seguintes: em menos de 3 anos há fábricas em 10 estados da Índia, 25 fabricantes com 35 linhas de montagem. Criaram-se no conjunto 37.500 empregos directos (e mais 120.000 indirectos), montando-se actualmente 20 milhões de aparelhos por mês, com uma receita prevista das vendas de $14.400 milhões em 2016/17. Espera-se montar 500 milhões em 2019/20.
Algo parecido está a dar-se no sector têxtil, no do automóvel, no farmacêutico, no da saúde, da construção civil, da energia solar e eólica, etc.
A batalha de produção é acompanhada pela da capacitação (skilling). No ano passado foram 10,4 milhões as pessoas treinadas, por cerca de 2 a 3 meses cada uma, para desenvolverem uma tarefa prática, na construção civil, na mecânica, nas montagens electrónicas e outros trabalhos técnicos ou de informática. E quer-se ampliar o processo de treino para aumentar o número dos que cada ano têm acesso a ele.
As startups estão a tomar balanço. A India é o 3º país em startups tecnológicas, a seguir aos EUA (com 47.000) e Reino Unido (4.500) está a Índia com 4.200. Considerando o conjunto das start-ups, tecnológicas e não, a Índia ocupa o 5º lugar com cerca de 10.000 (ano 2015/16). São números animadores para um país destruído pelo colonialismo e com 43 anos pós-independência de estagnação económica até 1991. Esta tendência parece acelerar-se, dado o grande ímpeto empreendedor indiano e a vontade de alcançar níveis de rendimento mais altos e comparáveis aos dos países desenvolvidos.
Com disse, a montagem dos smartphones criou 37.000 postos directos, que é algo importante para qualquer país; mas é-o também para as empresas que fabricavam noutros países: agora, têm custos mais baixos, pelos salários inferiores pagos e terão outros benefícios fiscais e uma atenção muito focada das entidades governamentais para não se emperrarem em armadilhas burocráticas.
Há novas políticas e correcção da legislação para atrair fabricantes, criando-lhes condições ajustadas. Poder-se-ia pensar se tais condições, nomeadamente de tipo fiscal, não seriam uma distorção do funcionamento do mercado. A fiscalidade está ao alcance de todos os países e não é a única condição de atracção; os salários mais baixos não são simples de se conseguir e a Índia é o maior mercado para aqueles produtos, que têm uma taxa de 10,5% sobre os importados, e isso é vantagem de peso para os fabricar localmente.
Eugénio Viassa Monteiro
Professor da AESE-Business School e
Dirigente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-Índia
Também publicado no Diário de Notícias, 04-IX-2016
[1] As maiores empresas de IT indianas empregam: a TCS, 360.000, a INFOSYS, 199.000 e a WIPRO, 175.000