TEOTÓNIO SAIU À RUA
Terá sido a partir de Leiria que D. Afonso Henriques decidiu fazer uma surtida contra Sevilha em retaliação contra as permanentes investidas muçulmanas sobre o território português que frequentemente chegavam tão longe como os campos do Mondego.
Desse fossado [1] resultaram grandes ganhos materiais para os cristãos pelo que os muçulmanos se decidiram por perseguir as forças de Ibn al-Rink, o filho de Henrique, a fim de recuperarem os bens de que tinham sido espoliados.
Lançada a perseguição, escolheram atacar em território aberto e vazio – a que então se chamava «ourique» – para que os cristãos não dispusessem de defesas naturais a que se pudessem acoitar.
Mas as evoluções no terreno e a sorte da batalha determinaram que os muçulmanos deviam fugir de volta a Sevilha deixando mortos espalhados pelo campo da luta e ali mesmo abandonando os peões moçárabes que os haviam acompanhado. Constituindo famílias inteiras, logo foram estes aprisionados por D. Afonso Henriques que dali mesmo marchou até à sua capital nas margens do Mondego.
Chegados às proximidades de Coimbra, logo a notícia se espalhou de que eram cativos moçárabes, os cristãos de rito visigótico.
Avisado na sua clausura, Teotónio saiu de rompante à rua em direcção ao cortejo que seguia o rei e ao encontrá-lo bradou-lhe rijas palavras em defesa dos cristãos que trazia assim cativos. Logo ali foram os cristãos libertados e Teotónio regressou à clausura em Santa Cruz.
Bernardo, Bispo de Coimbra, acérrimo defensor das reformas gregorianas, não terá gostado assim tanto dessa libertação e foi a partir daí que nunca mais houve paz perfeita entre a Ordem de Santa Cruz e a Sé de Coimbra que tanto se empenhou na instauração do novo «Império Romano».
Mas no final, foi Teotónio que subiu aos altares.
Abril de 2010
Henrique Salles da Fonseca
[1] - Incursão militar para saque mas sem intenção de conquista territorial
BIBLIOGRAFIA: Mattoso, José – D. Afonso Henriques, pág. 128 e seg. - Círculo de Leitores, Ed. 2006