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A bem da Nação

Mia Couto

 mia_couto

 
Um inteligente fabricador de mitos “deslinguísticos
 
            Ele um dia pensou: “Vou desrevelar o meu povo, o povo a que eu despertenço, vou criar um universo de anedotário poético, vou desapontar sofrimento e ansiedade e grotesco, vou destrancar malvadezas dos homens que pilharam as terras e as subjugaram com cruelvadez, vou mitificar um universo de risota e dor, vou mostrar toda a minha empatia, vou seguir na esteira de Gabriel Garcia Marquez na mitificação, Vergílio Ferreira e outros, talvez franceses, na desconstrução verbal do estilo “nouveau roman”, vou ser astuto e subtil e inteligente, como poeta, como prosador, como linguista. E serei célebre.”
 
            E todos os que o leram e lêem abrem os olhos de espanto, as bocas de riso, as almas de encanto.
 
            Pela originalidade, sim, do discurso de alianças verbais e semânticas, ou de incorrecções gramaticais que, traduzindo influências lusófonas, insidiosamente pretende troçar dessa Lusofonia que os portugueses não conseguiram promover totalmente nas terras que lhes pertenceram por direitos de descoberta e de conquista.
 
            Como fizeram outrora Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Visigodos, Árabes, nas invasões progressivas aos solos distantes das suas pátrias, levando comércio e criando civilização nessa Península Ibérica que também o foi da gente lusa.
 
            Mia Couto sabe que pode torpedear esses aventureiros lusos de outrora, pois encontrou campo aberto, no solo nacional dos lusos de agora, para o acolher com ternura, na concordância com os ódios anticolonialistas e com os afectos africanistas.
 
            Sendo branco de coloração, a desempatia pelo branco da colonização é claramente sugerida na meiguice arteira com que descobre a raça negra da sujeição e da altivez também e da revolta. Também no grotesco da caricatura, e na poeticidade dos seus vários mitos.
 
            E tudo isso lhe fornece prémios. E fama. Talvez merecidos.
 
            Mas o encanto e a admiração que sinto transforma-se em desprezo. Pelo simples facto da sua coloração exterior branca.
 
            Fosse ela negra e admiraria as capacidades indiscutíveis da imaginação e do discurso, Viriato moderno no ataque ao intruso “Romano”.
 
             Assim, sinto o desprezo pela traição aos da sua raça.
 
            Berta Brás

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