O CICLO DO DIAMANTE
A exportação de jóias e pedras preciosas da Índia representou 16.7% do total das exportações, ou $43.000 milhões no Ano 2011/12. A Índia exportou 95% dos diamantes polidos do mundo, no valor de $ 28,300 milhões. Com alta probabilidade o cliente final poderá ser uma mulher da diáspora indiana. Diversas marcas nacionais estão a emergir neste domínio, mas a que prende a atenção é a India.
A Bharat Diamond Bourse, instituída em 2011, representa um notável upgrade à antiquíssima arte de lapidar e polir diamantes, na Índia, tão conseguida mercê do manuseio exclusivo do diamante desde a sua descoberta, vários séculos antes da nosso era (séc. 9 aC) até à sua redescoberta no Brasil, no século XVIII. A Bolsa de diamantes da Índia, situada em Mumbai, na zona de Bandra-Kurla, zona amplamente ‘semeada’ de nomes portugueses, em particular nas pedras tumulares das antigas e majestosas Igrejas, que recordam os primórdios da fundação de Bombaim, há cerca de 3 séculos.
A Bolsa espraia-se numa área de oito hectares, com nove torres interligadas, onde se albergam mais de 2.500 escritórios para importadores/exportadores de diamantes brutos e polidos, amplas áreas de exposição e montras, auditórios, restaurantes, etc., com uma área construída de 220,000 m2, num ambiente de alta segurança.
Há 26 bolsas de diamantes registadas no mundo. Elas correspondem ao estádio final da cadeia de fornecimento, fortemente controlada, onde os grossistas e retalhistas podem comprar lotes muito limitados de diamantes –para os preparar para a venda ao comprador final–, como forma de manter os preços ‘artificialmente altos’. Por si só, a de Beers de Joanesburgo e Londres, controla uma fatia importante do comércio.
Impressionante e triste era a sorte das centenas de milhar que trabalham na lapidação e polimento, recebendo em troca umas migalhas, quando os que dominavam o comércio, incluindo os intermediários, ficavam com a parte de leão. Mais de 850,000 trabalham nos variados centros de polimento, em Surat, Coimbatore e Mumbai.
A bolsa é o ponto de encontro de comerciantes, que tem um grande impacte nas vendas, com mais de 30.000 visitantes diários, por variados motivos.
Os diamantes foram descobertos na Índia, nos depósitos aluviais do Rio Krishna, no século IX aC. Hoje, cerca da metade dos diamantes em bruto vem da África Central e do Sul e o remanescente do Canada, Índia, Russia, Brazil e Australia.
As grandes empresas comercializadoras – Rio Tinto (Austrália), De Beers (Inglaterra e Africa do Sul), Alrosa (Russia) –, decidiram participar no Indian Diamond Trading Centre (IDTC), que é uma Zona Especial Notificada. Esta adesão vem na sequência do empenhamento pessoal do PM Modi em dar vida ao Programa ‘Make in India’, para facilitar a criação de postos de trabalho. Aquelas empresas realizaram variados testes, que foram plenamente satisfatórios, para depois decidirem sobre as suas transacções através da bolsa de Mumbai. O IDTC vai reduzir/eliminar a intermediação e permitir aos industriais negociar directamente com os mineiros.
Para se ter uma ideia, o Grupo Rio Tinto produziu e entregou ao mercado, em 2002, diamantes em bruto valorizados em US$9.000 milhões; depois de lapidados e polidos valiam US$14.000 milhões; quando vendidos por grosso nas joalharias de diamantes, alcançavam US$28.000 milhões; e US$57.000 milhões na venda a retalho.
Atualmente a mina indiana de diamantes mais importante é a de Panna, no Estado de Madya Pradesh. E o diamante mais antigo e famoso é o Koh-i-Noor, indiano, ‘subtraído’ pela Corôa Britânica.
Deveria investigar-se mais nas técnicas de lapidação, com aplicação dos conhecimentos avançados de cristalografia, para se valorizar ainda mais o diamante em bruto, e também para dar mais conteúdo ao trabalho dos lapidadores e polidores. A bolsa de diamantes de Mumbai e a sua afirmação gradual parecem a via natural de completar o ciclo do diamante, interrompido e mesmo desfeito pelos colonizadores britânicos.
Eugénio Viassa Monteiro