Guilhermina Suggia, a grande violoncelista que encheu Pablo Casals, seu marido, de inveja por não ter tanto sucesso artístico como ela, nasceu no Porto em 27 de Junho de 1885 e faleceu na mesma cidade em 30 de Julho de 1950. Viveu 65 anos e faria hoje 131 anos se essa fosse uma idade comum.
A particularidade da efeméride é que ela fez 60 anos no dia em que eu nasci e eu fiz 50 anos no dia em que o meu amigo Tomás Bernardo nasceu e que hoje faz 21 anos.
Dá a impressão que o tempo foi elástico entre a célebre violoncelista e este promissor jovem estudante de engenharia, meu companheiro de equitações.
Mas não, o tempo não é elástico, o que varia é o modo e nós somos apenas testemunhas empenhadas do seu andamento.
Foi na instrução primária que tive professoras de alto nível diplomático. Diziam que certos dos meus colegas eram inteligentes e que eu era trabalhador. Eis por que me habituei desde a infância aos eufemismos que os sábios usavam para me chamarem burro. Mas foi também logo nessas idades que não me deixei abater talvez já conformado com a realidade e com o princípio que mais tarde aprenderia que diz que contra factos não há argumentos.
E como a inteligência é relativa tanto no espaço como no tempo e muito resultante dos trabalhos que fortalecem ou enfraquecem a rede de sinapses com que cada um nasce, aí estive eu a trabalhar o suficiente para nunca ter perdido um ano desde as primeiras letras até à conclusão da licenciatura.
Ciente de que possuía alguma capito deminutia, eis-me a fazer uma coisa de cada vez para que todas as sinapses se dedicassem apenas a um tema, sem dispersão que pudesse levar a que o sistema gripasse. Desenvolvi, pois, a capacidade de concentração e ao longo da vida tenho encontrado mentes brilhantes que quando estão a fazer uma coisa já estão a pensar noutra nunca chegando a rematar à baliza e muito menos a meter golo. Fazer uma coisa de cada vez não obsta que se faça uma aproximação holística ao tema. O meu método é, pois, inspirado no provérbio italiano que diz que «chi va piano va sano e va lontano».
Ainda tentei fazer 10 coisas ao mesmo tempo aprendendo a tocar piano mas acabei com a experiência para salvaguardar a serenidade da vizinhança.
Já lá vão 71 anos, acho que tenho feito bem e tenciono assim continuar durante esta segunda série de 70.
Um dos temas que mereceu a minha atenção durante estes últimos anos foi a chamada «Primavera árabe» e foi com algum receio que fui ouvindo as opiniões dessas mentes brilhantes espalhadas por tudo quanto é televisão europeia e americana. Se os factos já me davam motivos para recear as consequências, as opiniões desses iluminados deixavam-me estarrecido.
Estava-se mesmo a ver que não era Primavera nenhuma e que o derrube dos ditadores iria descambar na tomada do Poder pelas forças mais conservadoras do Islão. E aí está a débâcle do Norte de África e do Médio Oriente a dar-me razão.
Tudo se resume a um ditame: derrube de Estados laicos para instauração de hierocracias fundamentalistas.
Entretanto, acho que é o Putin que está certo e os EUA que estão errados na Síria e por aí fora...
E que fazer perante a invasão muçulmana da Europa?
Mas as mentes brilhantes dizem que assim é que está certo e eu fico-me pela minha burrice. Haja saúde!