Professor Doutor Engenheiro Miguel Eugénio Galvão de Melo Mota
Faleceu no passado dia 16 de Março de 2016 mas só há poucos dias tomei conhecimento da triste ocorrência.
Sentindo a falta de novos textos, procurei telefonar-lhe mas não consegui estabelecer a ligação e foi na sua página do Facebook que li o que alguém escrevera: «Querido tio Miguel, RIP».
Contactei essa pessoa que teve a gentileza de me responder informando que o nosso companheiro de blog falecera no dia 16 de Março. Ou seja, poucos dias depois do seu último texto publicado no nosso blog, “A HORTA NO TELHADO” (11 de Março) que republico como homenagem a um Professor que estava sempre disponível para explorar novas ideias e que muito apreciei apesar de nunca nos termos encontrado pessoalmente. Mas falámos algumas vezes ao telefone e sempre tive a oportunidade de o escutar com toda a atenção recolhendo o máximo possível dos seus vastíssimos conhecimentos e enorme vontade de comunicar.
A HORTA NO TELHADO
«Recebi informação de que, em França, legislação recente determina que todos os prédios a construir em zonas comerciais tenham os seus telhados ocupados com painéis solares ou com agricultura. A notícia trazia uma figura, que aqui reproduzo, com a devida vénia.
A notícia parece-me interessante, pois trata de mais um aproveitamento de um espaço que, na maioria dos casos, com os telhados de telhas, nada rende.
Para a agricultura, é mais um bom aproveitamento para aumentar significativamente a produção de frutos e legumes, no seguimento de casos sobre os quais já tenho escrito, do que se obtém nos pequenos quintais e nas varandas.
Sobre a obtenção de energia, recordo algo que sugeri, num concurso que não ganhei. A proposta era que, em vez de painéis solares, colocados sobre o telhado, nas suas vertentes viradas a Sul, o próprio telhado fosse construído com módulos que, na sua construção, integrassem os painéis. Módulos semelhantes poderiam revestir pelo menos uma parte das fachadas viradas a Sul, para aproveitamento da imensa energia que o sol ali faz incidir. Isto aplica-se a painéis para aquecimento de água, ou para a produção de energia eléctrica, com células fotovoltaicas.
Algum tempo depois vi notícias de algo desse género estar em marcha na Suécia e que, em Portugal, alguém tinha construído telhas com células fotovoltaicas. Nada mais sei destes temas, mas acredito que são boas formas de captar uma parte da energia que o sol derrama sobre a terra durante várias horas do dia.»
Miguel Mota
Mas dentre os seus textos que publiquei já em 2016, um houve de que retirei muita utilidade para os cavalos com que lido diariamente intitulado “LEGUMINOSAS”, publicado em 16 de Janeiro e que republico agora também.
LEGUMINOSAS
Leguminosas
«A FAO declarou 2016 o Ano internacional das leguminosas. O objectivo é aumentar o cultivo e o consumo das plantas deste grupo, com vantagem para a melhoria do solo agrícola onde são cultivadas, e da saúde das pessoas e animais que as consomem.
As leguminosas são das plantas com maior teor de proteínas, variadíssimos compostos químicos formados por um grande número de aminoácidos. Estes são apenas 20 mas, tal como peças de Leggo, é possível formar com eles variadíssimas proteínas.
Os animais não são capazes de fabricar aminoácidos, que são apenas sintetizados pelas plantas. Como são essenciais à vida, os animais têm de comer plantas ou animais que comeram plantas para os adquirirem.
O valor das leguminosas para a melhoria dos solos resulta de viverem em simbiose – uma associação com benefício para ambos – com bactérias capazes de captarem o azoto do ar e sintetizarem compostos azotados, algo que o homem é capaz de fazer, mas com elevado consumo de electricidade, para produzir os nitratos, adubos muito usados na agricultura.
A bactéria, de seu nome científico Rhizobium leguminosarum, forma pequenos nódulos nas raízes, fáceis de ver quando se arranca uma faveira, um trevo ou qualquer outra leguminosa. Vive à custa da planta. Mas cede-lhe grande parte dos compostos azotados que fabrica a partir do azoto do ar pelo que, ao contrário das gramíneas, como o trigo, não necessitam de adubos azotados. E os resíduos que deixam no solo, tornam este mais fértil que antes dessa cultura.
Como quaisquer outros seres vivos, também as bactérias apresentam variabilidade genética e algumas são mais eficientes que outras na captação do azoto do ar. A investigação agronómica seleccionou estirpes mais eficientes do que as que geralmente existem no solo e hoje não se justifica a cultura de leguminosas sem inocular as sementes com uma estirpe apropriada do Rhizobium. Nos artigos sobre “O azoto”, que publiquei no Linhas de Elvas em 2010, relatei os ensaios realizados na década de 1950, na Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, pelo Prof. Villax, ensaios que acompanhei e fotografei. Como se pode ver nas fotografias, é espectacular a diferença de desenvolvimento entre os talhões das plantas inoculadas e das não inoculadas.
Quando me encontrava a trabalhar na tese então necessária, descansava um tanto desse trabalho escrevendo um pequeno livrinho, que editei em 1954, intitulado “Uma guerra entre as plantas”. Embora também entrem humanos, as principais personagens são plantas de duas famílias, a das Gramíneas e a das Leguminosas, que travam entre elas uma guerra surda. O chefe das Gramíneas é o Senhor Trigo, que mostra um certo desdém pelas Leguminosas. Estas, sentindo-se diminuídas, enviam uma delegação aos engenheiros agrónomos da Estação de investigação para saber como podem melhorar a sua situação. Quando lhes são referidas as verrugas nas raízes, confessam-se envergonhadas por esse “defeito”. É-lhes explicado que, ao contrário, devem orgulhar-se de tão valiosa qualidade.
Gramíneas
Ao fim de alguns ensaios e demonstrações em que entram membros das Gramíneas e das Leguminosas, compreendem que não há razão para se guerrearem mas antes para colaborarem. O que era uma guerra entre as duas famílias termina com um final feliz, num almoço de confraternização.
Apesar de tudo isto, que já é tão antigo, creio que a agricultura portuguesa ainda semeia muitas leguminosas sem inoculação.»
Miguel Mota
(15 de Outubro de 1922 - 16 de Março de 2016)
Privados de mais ensinamentos directos do nosso Professor, resta-nos agora continuarmos a estudar por nós próprios endereçando um agradecimento especial ao Professor Miguel Mota por tudo o que nos ensinou.
RIP
Junho de 2016
Henrique Salles da Fonseca