Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A bem da Nação

O DEUS DE OURIQUE

 

Terá razão, Vasco Pulido Valente, tem-se sempre razão quando apenas nos pertence a alta responsabilidade de demonstrar ao mundo a nossa competência e a nossa inteligência. É possível que daqui a um ano, já apeados, Coelho e Portas passem a opinar, que são pessoas capazes disso – somos todos, os com qualidades elocutórias - a troco de uma batelada a mais de euros para o pé de meia. É o futuro do Governo, foi o futuro dos anteriores, que agora estão na fase de opinar, num sentido apenas, sem jamais pararem para explicar o porquê do que consideram só asnático neste, sem admitirem razões justificativas para o erro nem aceitarem os motivos da sua política arrasante das economias.

E há quem os ouça, os detractores, há até quem concorde, escondendo manhosamente os motivos do desaire em tanta austeridade, de contas a prestar com integridade. Contas que os que se esmeram agora em explicações e teorias, insistem em lavar daí as mãos impolutas. Mas tais entrevistas são, de facto, uma boa forma de acrescentar umas coroas aos vencimentos próprios, e o que a gente tem é inveja, não há dúvida. Eu, por exemplo, que “não sou nada, nunca serei nada, e nem sequer tenho “à parte isso todos os sonhos do mundo, consciente que sou dos entraves, das contingências, da indiferença do mundo em meu redor, além da “má fortuna” de que tanto se queixou Camões, nem sequer penso em invejar esses bem falantes televisivos, pois o que é bonito é mostrarmos ao mundo que somos capazes de nos exprimir com elegância, o que nem sempre sucede. É certo que outros temas poderiam ocorrer, factos da história, da filosofia, uma ou outra ensaboadela de matemática ou de língua e literatura portuguesa, ou outra próxima de nós, ou música, ou pintura, mas as audiências baixariam e não convém, temos de ser práticos, e viva o futebol, que esse sim, mete mesas redondas em todos os canais e em todas as horas. Por isso Passos e Portas acabarão a ganhar coroas nas entrevistas futuras, sucedâneas ao seu despejo governativo, afirma Vasco Pulido Valente, Tirésias clarividente e não cego como o outro, que tanto receou a oferenda do cavalo grego aos deuses também da amizade troiana, e acertou nos seus efeitos arrasadores.

Lamento que ninguém reconheça, a não ser os partidários de alma e coração, em Passos Coelho, um guerreiro de elmo e couraça, disposto a defender, qual Nun’Álvares, com a espada da coragem e da determinação, um país que estava nas lonas, desacreditado e esbanjando, sem dó nem piedade, o dinheiro alheio, numa postura de megalomania perfeitamente funesta e criminosa, quando, ao que parece, nem dinheiro havia para pagar aos funcionários.

Passos Coelho fez o que pôde, em termos de resgate – pelo menos dos juros, teve companheiros nessa távola redonda que todos se esforçam por arrombar em insinuações de desavenças mais ou menos boateiras, mas que satisfazem sobremaneira a avidez fofoqueira de uns e outros. que essa conta sobremaneira.

Porquê tanto derrotismo de Vasco Pulido Valente?

V.P.V. é inteligente, mas não é omnisciente, nem mesmo nenhum Tirésias, que, cego, adivinhava com os olhos do espírito, tal como aconteceu a Édipo, depois de cegar.

Que o Deus de Ourique dê muita força e coragem a Passos Coelho e aos seus pares. O mal nisso é que tem que contar com a grei que o cerca, o tal de “rebanho” segundo Pulido Valente. Espero ainda que os “pastores” Passos ou Portas não cumpram o destino que lhes augura o nosso “Tirésias” nacional. Não precisam. Nem mesmo a troco de lecas.

O texto de Vasco Pulido Valente, Público, 19/10/14:

O futuro do governo

João Grancho, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, acusado de plágio saiu dignamente do governo por sua própria vontade. Merece os nossos parabéns. Mas, no meio desta salvação, talvez muito merecida, é bom que se lembre os desgraçados que, por não se precaverem com um pequeno escândalo vão ficar onde estavam, sem nada que fazer, até ao último suspiro.

Com o caso Crato e o caso mais sério da dra. Cruz, o primeiro-ministro criou na coligação uma atmosfera de bunker, a que ninguém, nem o próprio Portas, consegue escapar. Estão ali todos para defender “a obra de salvação” da troika e do sr. Vítor Gaspar e nenhuma fraqueza é permitida. Hesitar, murmurar, criticar, são infames formas de trair a Pátria e empanar a glória de Passos Coelho.

Resta que o futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso. O primeiro-ministro arranjará com certeza um lugar condigno. Pires de Lima e Paulo Macedo também. Alguns voltarão a um escritório de advogados, que é uma boa maneira de continuar na política à socapa. A maioria ficará depenada e só. E mesmo que Portas se retire para Caxias-Colombey, não pode contar que o ponham em Belém daqui a vinte anos. Felizmente, a solução já foi encontrada: a entrada em massa de suas excelências na televisão e nos jornais. Competência não lhes falta: falam bem, discutem bem e não se atrapalham excessivamente com a verdade. Com uma gravata nova e um fato escuro, ninguém dirá que não se trata de uma nova geração de comentadores. Vale sempre a pena aproveitar as lições dos mais velhos.

Hoje, por exemplo, opinam com entusiasmo na televisão um antigo primeiro-ministro (Sócrates) e um futuro primeiro-ministro (Costa); quatro chefes de partidos políticos na reforma (Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã); praticamente qualquer pessoa que dirigiu as nossas finanças, com a prudência e o brilho que o país conhece (o exótico Braga de Macedo, Bagão Félix e Ferreira Leite – outra vez). Os programas pululam de economistas (alunos, assistentes, professores, para não falar de analfabetos com essa meritória mania). Tudo grita, tudo estica o dedo, tudo repete e se repete com um fanatismo não exactamente “orçamental”. Basta ao nosso querido governo aguentar um ano de sacrifício para se juntar a esta tropa fandanga. Não notaria a menor diferença.

Hoje, 3 de Novembro:

1939

Em Moscovo, continuaram as negociações entre a URSS e a Finlândia para uma troca de territórios e alterações de fronteira, reivindicada pelos soviéticos. As contra propostas finlandesas foram apresentadas, nas quais se reconhecem as necessidades de segurança soviéticas, mas a Finlândia chegou ao limite no que diz respeito à manutenção da sua "independência, segurança e neutralidade." Os finlandeses recusam a utilização de uma base militar na Finlândia para uso dos soviéticos / O Senado dos EUA aprova o levantamento do embargo à exportação de armas aos beligerantes/ Na Grã-Bretanha, depois de reclamações de empregadores e sindicatos, o apagão é reduzido em uma hora, passando a acontecer de meia hora depois do anoitecer até meia hora antes do nascer do sol/ O primeiro-ministro Sul Africano, o general Smuts, promete defender as colónias britânicas na África, em caso de necessidade/ In Pretoria...

E revivamos outros tempos, de uma guerra bem mais sombria;

1940

Bombardeamento italiano de Salónica, Grécia/ Na Grã-Bretanha, é a primeira noite desde 7 de setembro que não há bombardeamentos sobre Londres. Houve 57 noites consecutivas de ataque e depois deste dia mais 10 se seguirão. Por noite, cerca de 165 aviões atacaram a cidade, caindo 13.600 toneladas de bombas incendiárias explosivas/

1941

Na área circundante de Leningrado, as forças alemãs do Grupo Norte do Exército continuam a tentar isolar a cidade dando Tikhvin um centro ferroviário a 100 milhas a leste da cidade. A luta é feroz e os contra-ataques soviéticos são ineficazes. Mais ao sul, Kursk cai para as unidades alemãs na junção de Grupo Central e do Grupo Sul do Exército. / Em Berlim, Hitler ordena que Rommel não recue, apesar da escassez de combustível e de material / No Norte de África, na Batalha de El Alamein, as forças do Eixo começam a recuar, mas são interrompidos quando a ordem de Hitler é recebida. Os italianos já estão em processo de retirada. Os britânicos são incapazes de continuar a pressionar as tropas sitiadas, para grande surpresa de Rommel, devido a dificuldades em movimentar rapidamente homens e equipamentos através dos campos minados / 500 aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos devastam o porto alemão de Wilhelmshaven/ Os nazis levam a cabo a Operação Festival Harvest na Polônia ocupada, matando 42 mil judeus / Dois comandantes supremos da insurreição nacional eslovaca, Generais Ján Golian e Rudolf Viest, são capturados, torturados e depois executados pelas forças alemãs/

Paula Almeida (Técnica Superior, Câmara Municipal de Cascais)

Berta Brás.jpg 

Berta Brás

PROJECTO A CAMINHO DA DERROTA

 

Descalabro.jpg

 

A presidente Dilma começou seu governo, em 2011, aparen­tando relativa independência frente ao seu criador, o ex-presidente Lula. Disse que daria à sua ges­tão um perfil administrativo e que não transigiria com a corrupção. Representava à época o figurino de gerentona e faxineira. Era tudo uma farsa, mera en­cenação para consumo dos ingénuos— e não faltaram os que acreditaram que a criatura era não só diferente do criador, como até, se fosse preciso, romperia po­liticamente com ele. Em quatro anos deixou um país com crescimento zero, um governo paralisado e marcado por escândalos de corrupção.

 

Agora o figurino que está tentando vestir é o da presidente que deseja dia­logar com os partidos e a sociedade. Mais uma farsa. Todo mundo sabe que Dilma não gosta de política. Nunca gos­tou. Na juventude transformou oposi­ção à ditadura em confronto militar — com trágico resultado. Quando chefiou a Casa Civil do presidente Lula foi elogi­ada pelo estilo de durona. Era a mãe do PAC, uma tocadora de obras. A coorde­nação política governamental era tarefa do próprio Lula. Quando assumiu a Presidência, Dilma fez questão de de­monstrar diversas vezes o absoluto de­sinteresse — até mais, enfado — pelas tarefas políticas. Ela não gosta de ouvir.

Decide por vontade própria.

 

No discurso de comemoração da vi­tória, a presidente já deu sinais de como pretende governar nos próximos quatro anos. E insistiu na proposta de reforma política petista que, entre outras coisas, despreza o papel constitucional do Congresso. O governo elabora as mu­danças e busca, via plebiscito, o apoio popular.

Para o PT, a negociação só in­teressa quando os opositores já entram derrotados e têm de aceitar as imposi­ções petistas.

 

Dilma liderou a campanha eleitoral mais suja da história. No primeiro tur­no, usou da mentira para triturar a can­didatura de Marina Silva. Guardou para a fase final da campanha os ataques à honra de Aécio Neves. E tudo sem qual­quer problema de consciência. Assim como Lula, Dilma passou a ter como princípio não ter princípio. O impor­tante era ganhar. Quem fez o que ela fez na campanha tem condições morais de dialogar com a oposição?

 

Dificilmente a reforma política — ou qualquer outra reforma proposta pelo governo — vai ocupar espaço na agen­da política. O escândalo do petrolão é de tal monta que poderá ter um (inicial­mente) efeito destrutivo e saneador (se as apurações forem até às últimas con­sequências). O encaminhamento das investigações comandadas pelo juiz Sérgio Moro já desnudou que o assalto dos marginais do poder à Petrobrás é o maior caso de corrupção da História do Brasil. E vai atingir os três poderes da República, chegando até, segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef, ao Palácio do Planalto.

 

A oposição acabou sendo arrastada a exercer o seu papel pelo eleitorado. A crise de identidade foi resolvida ainda durante a campanha eleitoral. Diferen­temente das duas últimas eleições pre­sidenciais, desta vez, tivemos uma cam­panha mais politizada e com participa­ção popular. Fracassou a interpretação de que as manifestações de Junho de 2013 tinham sepultado a "velha políti­ca" Pelo contrário, basta recordar as dis­cussões nas redes sociais, o acompa­nhamento de toda a campanha, a exce­lente audiência dos debates televisivos, principalmente no segundo turno, e a permanência do interesse pela política após o 26 de Outubro.

 

O cenário económico é péssimo. Nem o doutor Pangloss diria que as coisas vão bem. O quadriénio Dilma conseguiu desorganizar as contas pú­blicas, estourar a meta de inflação, colocar em risco a saúde das empre­sas e dos bancos estatais e paralisar a economia do país. E qualquer proces­so de negociação política é muito mais difícil nessa Situação, pois o go­verno teria de ceder. E ceder faz parte da política, e Dilma odeia a política.

 

Na actual conjuntura aceitar o ace­no do governo é jogar na lata de lixo 50 milhões de votos. De votos opo­sicionistas. De eleitores que estão indignados com o — usando a ex­pressão do ministro Celso de Mello citada no julgamento do mensalão — projecto criminoso de poder petista. Não há desejo sincero de diá­logo. As palavras de Dilma não correspondem aos fatos. O que dizer de uma presidente que demonizava a adversária imputando a pecha de defensora dos banqueiros e — dias após à eleição — aumenta a taxa de juros e convida um banqueiro para o Ministério da Fazenda? É esperte­za ou falta de carácter?

 

O PT venceu a eleição presidencial, mas está longe de caminhar para ter o controle dos três poderes — sonho acalentado pelo partido. Perdeu 20% das cadeiras na Câmara dos Deputa­dos e, no Senado, manteve o mesmo número de assentos.

Tudo indica que não terá a presidência de nenhuma das duas Casas no próximo biénio. E a melhoria qualitativa da bancada opo­sicionista deve criar situações embara­çosas para o governo — e não faltam temas para explorar. Por outro lado, a composição do Executivo federal terá de ser ainda mais partilhada com os partidos que dão sustentação ao gover­no, enfraquecendo o projecto petista. E, se for aprovada a PEC da bengala ain­da este ano, a presidente Dilma perde­rá a oportunidade de nomear, devido à expulsória, cinco novos ministros para o STF, acabando com o sonho petista — e verdadeiro pesadelo nacional — de transformar aquela Corte em um puxadinho do Palácio do Planalto.

 

Já estamos em 2015, um ano de 14 meses. Ano agitado, o que é bom para a democracia. E tudo que é bom para a democracia é ruim para o PT. Vamos ter muitas surpresas. O projecto autoritário petista caminha para a derrota política: são os paradoxos da História.

 

4/10/2014

Marco António Villa.png

MARCO ANTÓNIO VILLA

Historiador

 

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D