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A bem da Nação

PRAGA – 1

 

Relógio astronómico, Old Town Square, Praga

 

 

ALO – ALO, AQUI PRAGA!

 

Ola

Ca estou eu, mais uma vez a dar noticias se calhar, de acordo com o novo acordo ortografico. Eu sou muito avancada!!!!

Pois aqui de Praga, com algum frio, a Gracinha sente se uma minorca...mais do que e costume....esta gente e toda muito crescida.

Foram feitos nas noites compridas de Inverno. Nos os latinos temos o calor, noites curtas de Verao, samba... e por isso somos piquininos.

Ou pelo menos eu sou.

A cidade e muito bonita tal como todos dizem, mas por enquanto ainda vimos pouco.

 

Temos muito para ver, pois so chegamos ontem.

Um beijo a todos e desejos de um novo ano cheio de saude, paz e trabalho....que o resto se vai arranjando.

Um voto muito grande para que o Senhor Gaspar, nao queira cortar mais nas barbas do Pai Natal

Beijinhos

 

 Graca

CHÉCIA – 1

File:Coat of arms of the Czech Republic.svg 

 

- Olá! Onde foste fazer a passagem do ano?

- Fui à República Portuguesa.

Soa mal mesmo que seja verdade e é claro que qualquer pessoa normal responderia que tinha ido a Portugal alijando preocupações com o regime político e dando relevo ao Sol ou à chuva, ao calor ou ao frio, à qualidade da festa, do espumante da celebração ou ao barulho das ondas na praia à meia-noite...

 

Então, apesar de haver quem lhe chame República Checa, eu prefiro referir o país pelo seu nome próprio sem o ligar a um regime político específico: vamos aos substantivos e deixemo-nos de adjectivos. Sim, fui à Chécia passar o ano e gostei do que vi.

 

Avião completamente cheio no percurso de Lisboa a Praga, nada posso dizer sobre o que se tenha passado entre Praga e Budapeste mas o que sei é que, no regresso, houve muitos passageiros oriundos de Budapeste que se apearam em Praga tendo o percurso até Lisboa ficado cheio como um ovo. Admito perfeitamente que a TAP tenha feito o pleno em toda a linha. Não é, pois, da falta de procura que a empresa se pode queixar. Mais: tenho insistentemente ouvido dizer que o negócio do transporte aéreo é lucrativo e que os problemas da TAP têm tudo a ver com outros negócios, nomeadamente com a empresa brasileira de engenharia de manutenção há tempos comprada à massa falida da VARIG. Vão-se os anéis para que fiquem os dedos e espero bem que não se demore muito mais tempo a decidir sobre a alienação ou liquidação dessa devoradora de companhias aéreas que dá pelo nome de TAP – Manutenção e Engenharia Brasil. Poderá ser a maior empresa do género de toda a América Latina e poderia mesmo ter outros louváveis epítetos mas eu centro a minha atenção nessa realidade que consiste em ela ser uma devoradora de companhias aéreas. Fora com ela! Não há compradores para essa empresa brasileira? Inicie-se de imediato a respectiva liquidação e ponha-se um ponto final no problema da nossa companhia de bandeira. O Marquês de Pombal também decidiu abandonar Mazagão por excesso de custos face aos proveitos e até hoje ninguém se arrependeu de tal decisão.

 

Mas voltemos à Chécia referindo uma particularidade que me parece notável e que consiste no facto de ser comum encontrar quem fale quatro línguas: o checo (língua materna), o alemão (língua da primeira ocupação), o russo (língua da segunda ocupação) e o inglês (actual língua franca mundial). Tanto assim, só em Curaçao como contei quando escrevi sobre essa região autónoma da Holanda (papiamento, holandês, espanhol e inglês).

 

Mera curiosidade pictórica, a evidente semelhança entre a Praça Venceslau, em Praga e a Avenida dos Aliados, no Porto: dimensões por certo muito aproximadas, o mesmo tipo de edifícios laterais, um edifício monumental no topo, uma estátua equestre. Mas também há diferenças assinaláveis pois S. Venceslau (St. Vaclav, em checo) é um símbolo moral da Nação checa enquanto D. Pedro IV se limitou a ser um chefe político; foi nessa praça que no início de 1969 se imolarem pelo fogo Jan Palach e Jan Zajíc em protesto contra o silenciamento da «Primavera de Praga» e da deposição abrupta do então Chefe do Governo checoslovaco Alexander Dubcek enviado em exílio interno para a sua terra natal, Bratislava, como jardineiro municipal enquanto na Avenida dos Aliados, felizmente, não é recordado qualquer drama dessa tremenda dimensão.

Mas deixando para trás o mini-memorial dos mártires da liberdade, deparamo-nos com centenas e centenas de velas acesas dentro de copos vermelhos formando o desenho de enormes corações e das letras VH em sentida homenagem popular a quem está numa foto a cores na base do pedestal da estátua de St. Vaclav, esse que foi o autor da “revolução de veludo”, falecido em Dezembro de 2011, Vaclav Havel. Não antevejo qualquer político português actualmente vivo ou futuramente morto que mereça tal homenagem na Avenida dos Aliados ou em qualquer outro local menos parecido com a “Václavské Námestí”.

E por que é que a revolução foi de veludo? Já lá vamos mas desde já adianto que não foi por causa de o Dr. Mário Soares lá ter ido mesmo sem convite dos donos da casa.

 

Lisboa, Janeiro de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

Os inchaços sem mito

 

 

Vem mesmo a calhar,

No Ano Velho que acaba,

No Ano Novo que começa,

A velha fábula de Esopo

«A raposa de ventre inchado»

A mostrar

Que tudo o tempo resolve

E até absolve,

E por isso o novo Ano

Que começa amanhã

Será a antemanhã

De um ano bom,

Em que o desengano

Será ultrapassado

E esquecido

Como nosso dom,

Que bom!

 

«Uma raposa esfomeada avistou

Pedaços de pão e de carne

Pelos pastores deixados

No buraco dum carvalho

Protegidos do orvalho.

Mas como o seu ventre inchado

Não lhe permitiu sair,

Pôs-se a queixar-se e a gemer

Num alarido danado.

Outra raposa que ali passou

E lhe ouviu os lamentos

Aproximou-se e quis saber

O motivo dos seus prantos.

Quando a sua desventura conheceu

Logo a aconselhou:

“Fica aí dentro até te tornares

Tal como eras ao entrares:

Sem custo conseguirás daí sair

E partir…”                                      

A fábula serve para demonstrar

Que o tempo, nas suas bondades,

Resolve as dificuldades».

 

Desta vez, todavia,

Embora sem alegria,

Custa-me a crer que já nessa altura

As raposas tivessem tal candura

Julgando que o tempo tudo cura.

O que se me afigura

É que a demasiada gordura

Já não consegue ter cura,

E com o tempo perdura

Para nossa desventura.

Embora

Água mole em pedra dura

Tanto dá até que fura.

Será que chora?

E não cora?

 

 Berta Brás

Curtinhas CII

 

O cavalo do inglês - III

 

v      Chegados a este ponto duas questões continuam por responder:

-          Porquê uma estratégia que, se bem vejo, insiste em fazer tudo às avessas?

-          Haverá outro caminho, ou estarei aqui apenas a falar barato?

 

v      Não restam hoje dúvidas de que as nossas elites bem-pensantes, dos políticos, aos comentadores, passando por aqueles que entre nós cultivam com desvelo a dismal science, não foram tidos nem achados para o Programa de Ajustamento. “Tomem lá e cumpram à risca” foi o diktat da troika.

 

v      Aliás, um diktat que sacode a água do capote: (i) se tudo acabar em bem (vá-se lá saber por que bulas), honra e glória a quem nos ofereceu a mão salvífica; (ii) se tudo acabar, tout court, a culpa será, por inteiro, nossa (que, em alegre folia, nos metemos num beco sem saída). Para quem não entenda muito bem o que seja moral hazard, aqui está um bom exemplo (cortesia da troika).

 

v      Quer o destino, porém, que o Programa de Ajustamento vise algo que está muito para além de nós.

 

v      Visa, antes do mais, poupar os contribuintes alemães (e franceses) ao ónus de terem de ir em socorro dos seus próprios Bancos, caso a “trupe do Sul” deixe de pagar de vez. Para tal, os Bancos credores, na Alemanha (e outros espalhados um pouco pela Europa do Sacro Império), necessitam de tempo - pois não é de um dia para o outro que se reunem Capitais Próprios capazes de absorver os prejuízos que tão aziago evento lhes causaria.

 

v      Visa também fazer recair sobre os devedores compulsivos (melhor dizendo, sobre os seus contribuintes) todo o esforço de reequilibrar o sistema bancária da core Europe – deixando na sombra que por cada devedor imoderado há sempre um ou mais credores igualmente imoderados. Os proveitos da época das “vacas gordas” (1999-2009) serviram às mil maravilhas para abrilhantar os Balanços dos Bancos credores. Agora, os devedores (e os seus contribuintes) que se aguentem com os custos das “vacas magras”.

 

v      E visa ainda mutualizar (sim, mutualizar!) os prejuízos, caso a crise não tenha mesmo remédio.

 

v      Despido da retórica financeiramente correcta, todo o discurso de Frau Angela (e de Herr Schauble e de Herra Olli Ilmari Rehn) é um monumento ao moral hazard:

-     A Alemanha tem de ganhar tempo, custe o que custar;

-     Os Bancos alemães (e todos os Bancos com epicentro na Banca alemã; os Bancos finlandeses nada têm a ver com isto) devem ser poupados o mais possível às consequências da sua insensatez;

-     Há que repartir pela Zona Euro (primeiro, pelos contribuintes dos devedores compulsivos e, se não chegar, por todos os restantes contribuintes) o encargo de esvaziar a “bolha de dívida” que esses mesmos Bancos, gulosos, alimentaram - e com a qual se regalaram.

 

v        Está explicado o “porquê”.

 

v      Só agora, graças à crise, se começa a ter um vislumbre do que é e para que serve o Euro. Para aprofundar o Mercado Único, à la Delors?

 

v      Qual quê! A livre movimentação de bens, serviços (neste capítulo, ainda hoje se está nos primórdios) e pessoas passa bem sem uma moeda única e convive menos mal com o risco cambial. Eliminado este, a facturação das transacções comerciais transfronteiriças fica apenas mais facilitada. C’est tout.

 

v        A moeda única fez surgir, sim, um “oceano de liquidez” onde até então só existiam mercados financeiros nacionais que nunca conseguiriam rivalizar em dimensão e sofisticação com Wall Street.

 

v        A eliminação do risco cambial, por sua vez, tornou mais previsível a sorte dos empréstimos no interior da Zona Euro – sempre que se ignorasse o risco de crédito. Ora foi justamente pelo risco de crédito (a tal “bolha de dívida”) que o verniz estalou – e que os Bancos, quer os das economias com BTC excedentárias, quer os das economias com deficits externos estruturais, ficaram à beira do colapso.

 

v      A lógica de todo este esquema até era bem simples:

-     Na Zona Euro, as economias mais competitivas (a core Europe) impulsionavam as suas vendas ao exterior financiando a procura nas economias menos competitivas;

-     Os Bancos da core Europe reciclavam os superavits de BTC que aí se acumulavam ano após ano emprestando aos Bancos e aos Governos das restantes - que assim tinham maneira de estimular as suas procuras internas e de alardear uma aparência de progresso (Heil Euro!);

-     Os Fundos de Tesouraria norte-americanos financiavam os Bancos da core Europe para que os que daí exportavam recebessem a tempo e horas – e a Balança de Capital da Zona Euro não virasse os pés pela cabeça;

-     E a livre movimentação de capitais fazia, finalmente, o pleno (pelo menos em parte da UE) – em proveito das economias que se revelassem mais competitivas (e, desde logo, da Alemanha, apesar da rusticidade do seu sistema bancário).

 

v      Aconteceu que a crise financeira de 2007-2010 quase “secou” os Fundos de Tesouraria dos EUA. E quem primeiro lhe sentiu os efeitos foram, precisamente, os Bancos da core Europe - os quais, ao tentarem salvar a pele, fizeram desmoronar inadvertidamente a “pirâmide” em que a “bolha de dívida” há muito se tinha transformado.

 

v      É verdade que a core Europe levou tempo a perceber o trilema com que se confrontava:

-          Ou aceitava o colapso dos seus próprios Bancos – e veria as suas economias esfrangalharem-se e com elas toda a construção europeia que neles assentava;

-          Ou teria de pilhar os bolsos dos seus próprios contribuintes para recompor as coisas – sob o olhar algo displicente das economias excessivamente endividadas (a core Europe, ainda que se recusasse a reconhecê-lo, também estava bastante endividada, mas era fora da Zona Euro);

-          Ou tentava ganhar o máximo de tempo possível – e para tal teria de criar a ilusão de que os devedores compulsivos não iriam poupar-se a esforços e privações para começarem a pagar em tempo útil.

 

v      Mas a escolha está hoje à vista. Penalizo-me por não me ter apercebido disto tudo há mais tempo. (cont.)

 a. palhinha machado

DEZEMBRO de 2012

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