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A bem da Nação

Com a palavra, o professor (2)

  Therezinha Barreto de Figueiredo (*)

 

"Para implantar qualquer mudança, é preciso investir num projecto-piloto que permita saber de antemão as medidas necessárias para seu bom funcionamento", diz Tânia Zagury, educadora com 36 anos de carreira e autora de livros de sucesso como «Educar sem culpa», «O adolescente por ele mesmo», «O Professor Refém».

 

Para agravar o quadro existe um factor externo à escola. Trata-se da dificuldade dos pais em impor limites a seus filhos. Isso traz consequências graves para a família, escola e sociedade. Interfere na disciplina. "Ninguém pode viver fazendo só o que quer e gosta".

 

Por traz dessa realidade está a perda da noção de direitos e deveres. A cada direito corresponde um dever. Se o acesso à escola é um direito do cidadão brasileiro e obriga os pais a colocar seus filhos na escola, então a criança tem o dever de estudar. Não é estudar para ser o melhor, aquele que só tira A ou 100, mas é dever do aluno corresponder minimamente. E cabe aos pais (é dever deles) acompanhar de perto esse processo. Cuidar para que o filho faça as tarefas, não mate aula, olhar o boletim, etc. Outro problema externo à escola é a falta de motivação. Isso interfere na 1° causa externa: (o dever de estudar) – a disciplina. Torna-se difícil manter a disciplina se o aluno não se interessa pelo que está sendo ensinado. Existem os apelos externos à escola: televisão, Internet, sonhos de consumo de tal magnitude, que dificulta seduzir a criança para aprender.

 

Se a escola é mal aparelhada como a maioria é, fica ainda mais difícil. E se os pais não se comprometem com o aprendizado dos filhos, o desafio torna-se praticamente intransponível.

 

Esta é a opinião de Tânia Zagury (profissional da educação).

 

Outra profissional, Maria Inês Fini, discorda da avaliação de que a família é responsável pela indisciplina dos alunos na escola. Para ela o professor é despreparado e o ensino desinteressante. É nisto que é preciso mexer, avalia. A professora é favorável à progressão continuada; assim como o economista Cláudio de Moura Castro, colunista de “Veja” e nome respeitado internacionalmente em matéria de educação. Para ele, no conjunto, a reprovação é mais nociva ao aluno do que a aprovação com lacunas de conhecimento. A pontuação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2003 mostra que os alunos que já sofreram uma reprovação têm pior desempenho (146 pontos) do que aqueles que nunca foram reprovados (180 pontos).

 

O Grande mérito de «O Professor Refém»  está em dar voz aos profissionais responsáveis em colocar em prática a política educacional para que eles apontem suas dificuldades e dêem opinião sobre temas a respeito dos quais não são normalmente chamados a se manifestar.  "Trata-se de tentar promover uma maior integração entre os que pensam a educação e os que a transmitem a seus alunos", resume Tânia Zagury. É inequívoca a ligação entre a melhoria da formação dos professores e o desempenho de seus alunos como avalia o próprio Ministério da Educação. Entre os factores que contribuem para uma boa escola, o documento do SAEB acentua a escolaridade do professor.

 

A análise é baseada no resultado atingido pelos alunos, o que continua sendo o melhor termómetro da qualidade do ensino. “Quando o profissional em sala de aula possui formação superior, a média dos seus estudantes no Sistema de Avaliação é de 172 e, quando a formação é de nível médio, cai para 157 pontos diz o documento final do último SAEB, realizado em 2003”.  O exemplo da Escola Joaquim Venâncio, do Rio de Janeiro é eloquente. Trata-se de uma escola pública – pertencente, portanto, a um grupo que apresenta resultados médios e sofríveis no exame. Além de trabalhar com o dobro da carga horária média das escolas brasileiras e ter boa infra-estrutura, 70% de seus professores possuem mestrado ou doutorado.

 

A melhor constatação de «O Professor Refém» é que a maior parte dos professores, a despeito de suas próprias deficiências, se empenha em fazer o melhor possível. Num país que tem instrumentos de avaliação que não ficam nada a dever aos utilizados em países de bom padrão educacional, é importante que se preste mais atenção ao que se passa na vida real das escolas. “Temos as sementes, toda a tecnologia e todo o conhecimento para isto”, diz Cláudio de Moura Castro.

 

 

Alguns “Mitos” da Educação Actual

 

- O afecto e o carinho dos professores são imprescindíveis para que os alunos aprendam.

   O bom relacionamento em sala de aula não envolve necessariamente afecto e carinho. Não é razoável atribuir um eventual fracasso às características pessoais do professor – desde que suas aulas sejam boas.

 

- Com um bom professor os alunos aprendem sem fazer nenhum esforço.

   É claro que uma boa aula, bem planeada e com recursos adequados, é mais motivadora e agiliza o aprendizado. Mas nada disso substitui o empenho do aluno, que tem o direito à educação e o dever de cumprir a sua parte – estudando.

 

- A participação da comunidade é essencial à qualidade do ensino.

  A participação da família na vida escolar é importantíssima, mas tem sido confundida com a ideia de que o aluno sempre tem razão – o que provoca conflitos (confrontos) e esvazia a autoridade da escola e do professor. Escola e família têm de ser parceiras.

 

- A reprovação traumatiza.

  Mecanismos de avaliação bem elaborados e critérios claros de verificação de aprendizado ajudam a preparar o aluno para um mundo cada vez mais competitivo.

- A memorização deveria ser banida das salas de aula.

  Ninguém pode ser a favor da decoreba, que é a memorização mecânica, sem objectivo. Mas não se pode considerar razoável que um aluno conclua o ensino médio sem saber, por ex., o nome das principais capitais do mundo ou de figuras importantes da história.

Therezinha Barreto de Figueiredo

(*) Esta a verdadeira foto da Autora e não outra que figurou durante alguns dias no artigo homólogo anterior. O engano deveu-se a que não conheço pessoalmente a Professora Therezinha que tem uma homónima com a mesma grafia. O meu pedido de desculpas pelo erro obviamente involuntário.

Henrique Salles da Fonseca

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